Os sistemas integrados de produção agropecuária, conhecidos também por Integração lavoura pecuária (ILP) e integração lavoura pecuária floresta (ILPF), têm ganhado destaque nos últimos anos.
Com a adoção dos sistemas integrados é possível maximizar o uso do solo, aumentar a produtividade de grãos, carne e/ou leite, melhorar a qualidade química, física e biológica do solo; aumentar a ciclagem de nutrientes; quebrar o ciclo de pragas e controlar plantas invasoras; proporcionar a diversificação de produtos; diminuir os custo de produção e aumentar a renda do produtor com garantia de retorno mais rápido do investimento.
Porém, mesmo diante de todos os benefícios que os sistemas integrados oferecem, o pastejo dos animais em áreas de lavouras é um assunto que preocupa os agricultores, tornando-se muitas vezes um entrave na adesão da técnica, devido a compactação do solo. O estudo da compactação do solo envolve análises físicas, tais como: densidade do solo, macro e microporosidade, umidade do solo e resistência mecânica do solo a penetração (RMSP). Esses indicadores irão auxiliar no diagnóstico da compactação.
Nos sistemas integrados, com a adoção da técnica do “plantio direto” e da semeadura consorciada, entre espécies produtoras de grãos (ex: milho e soja) e capim para formação de pastagem (ex: Brachiaria brizantha e Brachiaria ruzziziensis) o solo permanece protegido, livre de revolvimento pelos implementos agrícolas e coberto com resíduo vegetal praticamente o ano todo. Nesses sistemas, as pastagens melhoram a qualidade física do solo, devido ao sistema radicular vigoroso, fasciculado e de rápido estabelecimento, diminuindo o risco de compactação do solo.
Na integração, após a colheita do grão, que acontece geralmente entre os meses de março a maio, o capim que foi semeado em consorcio irá se desenvolver e, após 60 dias aproximadamente da colheita, o produtor terá pastagem nova, de altíssima qualidade, no período seco do ano. É neste momento que os animais entram para pastejar as áreas que, até então, havia só lavoura. Será que o pastejo animal prejudica essas áreas de lavouras ??
Estudos têm mostrado pequenas alterações na densidade e na porosidade do solo em sistemas integrados, mas que não prejudicam o crescimento das raízes das plantas cultivadas. Os efeitos do pisoteio animal se concentra nas camadas superficiais do solo, geralmente de 0-5 cm, e pode ser minimizado por meio do manejo adequado da taxa de lotação animal, altura de pastejo da pastagem e massa de forragem. É importante lembrar que nesses sistemas o período que o animal permanece na área de lavoura é temporário, em geral de 3 a 5 meses. A taxa de lotação deve ser leve, em torno de 2,5 UA/ha, pois a pastagem consorciada ainda está em formação com baixa quantidade de massa de forragem, em torno de 3 toneladas/ha.
Em pesquisa recente, sob minha coordenação e conduzida no Instituto de Zootecnia/APTA/SAA em Sertãozinho (apoio Fapesp 2014/24514-6), os animais permaneceram em lotação contínua, durante um ano e meio, após a colheita do milho e não foram constatados alterações nas propriedades físicas do solo. No estudo, foram comparados áreas somente de agricultura (milho grão) com Integração Lavoura Pecuária (milho grão + recria de bovinos). Os valores médios obtidos na área foram de 1,25 g/cm3 para densidade; 13% macroporosidade e 39% para microporosidade. As leituras de RMSP no mês de março 2017, após intenso pastejo realizado por bovinos da raça Caracu (8,22 UA/ha) durante o período das águas (dezembro a março), mostraram valores semelhantes de RMSP (em média 2,6 Mpa) em as áreas de Agricultura e ILP.
Portanto, o pastejo dos bovinos em áreas de lavouras não prejudica o solo, desde que seja realizado o manejo adequado. Como vantagem, os dejetos deixados pelos animais nessas áreas ainda aumentam a ciclagem de nutrientes e, ao longo dos anos, com a adoção dos sistemas integrados, a necessidade de fertilizantes passa a ser cada vez menor.
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