A grama do vizinho realmente é mais verde?

Felizmente, para derrubar argumentos preguiçosos, podemos realizar a gestão técnica e econômica da pecuária leiteira

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Por Liliam Fontes Grossi Lino

Em visitas às propriedades leiteiras, é comum ouvir argumentos do tipo: “Na região sul do país é muito mais fácil ganhar dinheiro produzindo leite!” ou “No sudeste o clima é diferente! Desse jeito fica difícil ganhar dinheiro tirando leite!”. Falam como se a localização da propriedade fosse a única responsável pelo insucesso de alguns e sucesso de outros produtores na atividade leiteira. Esse tipo de argumento induz ao erro e, muitas vezes, conforta alguns produtores e técnicos que, ao invés de buscar soluções viáveis, ficam estagnados, achando que a única forma de resolver seria mudando a propriedade de lugar.


        Felizmente, para contornar os problemas relacionados com a localização e derrubar argumentos preguiçosos, podemos realizar, em qualquer lugar do Brasil, a gestão técnica e econômica, que, quando realizada de forma eficiente, orienta as decisões, direcionando as estratégias para contornar os gargalos e visando aumentar a rentabilidade da atividade leiteira.

        A heterogeneidade da pecuária leiteira, nas regiões do Brasil, pode ser observada por meio dos resultados obtidos para diferentes indicadores. No entanto, analisando os resultados obtidos em 200 propriedades participantes de um projeto de gestão técnica e econômica, em seis estados brasileiros (Minas Gerais, São Paulo, Goiás, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul), notamos que, independentemente da localização, é possível adotar medidas para alcançar a eficiência na atividade leiteira.

        Dentre as regiões analisadas, Goiás possui o maior custo fixo (R$/ano), que são os custos com depreciações, remunerações e pró-labore da mão de obra familiar, ou seja, custos difíceis de modificar no curto prazo. Isso torna o desafio destas propriedades maior, sendo necessário produzir um maior volume de leite, afim de diluir este custo fixo. Ao avaliar a figura 1, vemos que é exatamente isso o que acontece. As fazendas do Estado de Goiás apresentam o maior custo fixo anual, porém têm a maior produção média de leite (l/ano), o que resulta no menor custo fixo unitário (R$/l), e favorece a atratividade do negócio.

Figura 1 – Custo total médio e escala de produção para seis estados do Brasil.

Fonte: Banco de dados da Labor Rural referente a 200 propriedades. Período de março/2018 a fevereiro/2019. Dados econômicos corrigidos pelo IGP-DI de março/2019.

        O estado do Paraná se destaca por possuir a maior quantidade de vacas em lactação em relação ao total de vacas (vacas secas e vacas em lactação), quando comparado com os outros cinco estados. Ou seja, nesses estados há uma proporção maior de vacas gerando receitas do que apenas despesas aos produtores. Além disso, o indicador de produção por vaca em lactação demonstrou maior aptidão leiteira dos animais do estado. Esses dois indicadores refletem no bolso do produtor paranaense (Figura 2), fazendo com que sobre R$ 4.466,00 por vaca em lactação, após pagar todas as despesas variáveis (concentrado, mão de obra, volumoso, medicamento, energia etc.).

Figura 2 – Vacas em lactação em relação ao total de vacas, à eficiência produtiva e à margem bruta.

Fonte: Banco de dados da Labor Rural referente a 200 propriedades. Período de março/2018 a fevereiro/2019. Dados econômicos corrigidos pelo IGP-DI de março/2019.

        Sabemos que no geral, o fator terra é o item de maior peso na composição do capital empatado na atividade leiteira, dado o seu alto valor. Por isso, para ser eficiente na atividade é preciso haver eficiência na utilização da terra, que nada mais é do que produzir mais leite utilizando menos terra, garantindo, assim, a sustentabilidade do empreendimento. Nesse sentido, os quatro estados que se destacaram foram: Paraná, Santa Catarina, São Paulo e Goiás, respectivamente. Para cada hectare destinado à atividade leiteira, esses estados são os que respondem com as maiores produções anuais de leite (Figura 3). Os produtores do estado do Paraná possuem um desafio ainda maior que os demais, visto o alto valor de terra, e portanto, têm feito o dever de casa.

Figura 3 – Eficiência de utilização da terra e valor médio do hectare por estado.

Fonte: Banco de dados da Labor Rural referente a 200 propriedades. Período de março/2018 a fevereiro/2019. Dados econômicos corrigidos pelo IGP-DI de março/2019.

 

        Na análise a seguir, a atividade leiteira demonstrou ser mais rentável no estado de Goiás (11,03% ao ano), seguido de Santa Catarina (8,08% ao ano), Paraná (7,88% ao ano) e São Paulo (7,50% ao ano). A menor rentabilidade esteve presente no estado do Rio Grande do Sul (2,57% ao ano). Um resultado muito diferente entre regiões próximas, demonstrando que nem sempre o que afirmamos para determinada região é condizente com os resultados apresentados (Figura 4).

Figura 4 – Rentabilidade da atividade leiteira para os seis estados analisados.

Fonte: Banco de dados da Labor Rural referente a 200 propriedades. Período de março/2018 a fevereiro/2019. Dados econômicos corrigidos pelo IGP-DI de março/2019.

 

Na Figura 4, observe que as propriedades do Rio Grande do Sul, aqui estudadas, apresentam o maior capital empatado na atividade leiteira, por litro de leite produzido (R$ 3.109,70/litro/dia), indicando que o volume médio de leite produzido, diariamente, não é suficiente para garantir uma rentabilidade atrativa. Isso contraria muitas afirmações que ouvimos por aí, não é mesmo?

O estado de São Paulo, apesar de possuir a maior margem líquida unitária (R$0,47/litro), apresenta a menor produção média de leite (625 litros/dia), o que é insuficiente para garantir maior rentabilidade ao estado (Figura 4). Isso mostra a necessidade do ótimo econômico caminhar sempre junto ao ótimo produtivo.

Realmente a atividade leiteira se desenvolve de forma heterogênea, com diversas particularidades, nas diferentes regiões do Brasil. No entanto, os resultados, mensurados por meio de números, podem ser interpretados em qualquer lugar do mundo, possibilitando a adoção de medidas técnicas que viabilizem economicamente a produção de leite.

Está na hora de tirar a calculadora do bolso e mensurar os seus resultados. Do contrário, a grama do vizinho será sempre mais verde para quem não conhece a sua!

*Liliam Fontes Grossi Lino é zootecnista e Supervisora técnica da Labor Rural

**As opiniões expressas nos artigos não necessariamente refletem a posição do Portal DBO.

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