Alta CBT do tanque: o gargalo na fazenda

Por Marcos Veiga, professor Associado da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da USP, campus de Pirassununga, SP

Continue depois da publicidade

Marcos Veiga*

Os problemas de higiene durante a produção e armazenamento do leite são as principais deficiências de qualidade na maioria das fazendas. Com o aumento do transporte do leite por longas distâncias e novos processamentos industriais, há necessidade de melhoria do padrão higiênico. Sem isso, o leite perde valor comercial, reduz o rendimento industrial e aumenta a frequência dos problemas e defeitos de qualidade. A cadeia industrial, como um todo, perde.


Da vaca até o tanque

Nas vacas sadias, o leite armazenado no úbere praticamente não apresenta contaminação. No entanto, a partir da ordenha, o leite pode ser contaminado por microrganismos a partir de três principais fontes: a) da própria glândula mamária (nas vacas com mastite subclínica), b) higiene de ordenha, c) do equipamento de ordenha e tanque. Desta forma, a contaminação inicial do leite depende das condições de saúde do úbere, da rotina e higiene de ordenha, do ambiente em que a vaca fica alojada e dos procedimentos de limpeza do equipamento de ordenha. Além disso, depois da ordenha, a temperatura e o período de tempo de armazenagem do leite são outros fatores que afetam a contagem bacteriana total (CBT).

Mastite como fonte de contaminação

Quando o leite é ordenhado de vacas sadias, a CBT do leite é bastante baixa, com valores abaixo de 1.000 bactérias/ml. Entretanto, nas vacas com mastite pode ocorrer aumento significativo da CBT do leite, de acordo com o tipo de microrganismo causador da infecção, do estágio e gravidade da mastite, da prevalência e do tipo de microrganismo causador.

Exemplificando: vacas com mastite causada por estreptococos pode apresentar leite com alta contaminação (CBT > 10.000.000 ufc/ml), o que, em um rebanho de 100 vacas, pode representar aumento potencial de cerca de 100.000 ufc/ml sobre a CBT do tanque. O principal grupo de bactérias causadoras de mastite que aumentam a CBT do leite é gênero Streptococcus, dentre os quais destacam-se como as espécies mais importantes S. agalactiae e S. uberis. Diferentemente do grupo dos estreptococos, Staphylococcus aureus não é considerado uma causa relevante de alta CBT no leite. Sendo assim, quando tanto a CCS quanto a CBT encontram-se elevados, pode-se suspeitar que as vacas com mastite subclínica causada por bactérias como S. agalactiae e S. uberis podem ser uma das fontes de contaminação do leite e de aumento da CBT do tanque.

Higiene de ordenha

A pele dos tetos e do úbere podem ser uma das fontes de contaminação e, consequentemente, aumentar a CBT. Esta contaminação vem do ambiente em que as vacas ficam no período entre as ordenhas. As bactérias de origem de esterco, lama, solo e do ambiente de forma geral são uma das principais causas de contaminação do leite.

Durante o intervalo entre as ordenhas, enquanto as vacas estão deitadas, ocorre a contaminação da pele dos tetos e do úbere, principalmente se o ambiente estiver muito sujo. A cama ou ambiente das vacas pode ter elevada carga microbiana, podendo atingir CBT de 108 a 1010 ufc/ml. Nestas condições, os principais microrganismos são estreptococos, estafilococos, microrganismos formadores de esporos, coliformes e outras bactérias Gram-negativas.

Para reduzir o impacto deste tipo de contaminação, uma das medidas mais simples é a desinfecção dos tetos antes da ordenha (pré-dipping). Estudos sobre métodos de preparação do úbere antes da ordenha indicam que a desinfecção dos tetos e a secagem com papel toalha reduz em cerca de 70% a CBT do leite do tanque. Além da melhoria da qualidade, uma boa preparação do úbere antes da ordenha estimula a descida do leite e reduz a ocorrência de novos casos de mastite ambiental.

Equipamento de ordenha e contaminação

A higiene das superfícies do equipamento de ordenha e do tanque de expansão, que entram em contato com o leite, são os principais locais de contaminação durante a ordenha e o resfriamento. Os resíduos de componentes do leite que ficam aderidos ao equipamento de ordenha facilitam a multiplicação dos microrganismos e permitem a formação de biofilmes. Em geral, bactérias de origem do ambiente da vaca (cama, solo, lama, esterco) e da água usada para a limpeza são as maiores fontes de contaminação do equipamento de ordenha.

Considerando a importância do equipamento de ordenha como fonte de contaminação do leite, os procedimentos de limpeza e higienização são fundamentais. As mangueiras e outras partes de borracha, quando não são trocadas frequentemente, podem apresentar rachaduras, onde ocorre acúmulo de resíduos de leite. Procedimentos de limpeza inadequados, como o uso de temperaturas abaixo da recomendada e/ou baixa concentração de detergentes, resultam em acúmulo de resíduos e de microrganismos, com alta contaminação do leite.

Resfriamento imediato do leite

A refrigeração imediata (para cerca de 4°C) após a ordenha é uma das principais medidas para manutenção da qualidade do leite na fazenda. Permite a manutenção da qualidade por até 48 horas de armazenamento, o que apresenta inúmeras vantagens, como a redução de custos de coleta de leite e aumento da qualidade dos derivados lácteos.

A temperatura de armazenamento é o principal fator determinante da velocidade de multiplicação bacteriana. No leite não refrigerado (25-30ºC), os principais microrganismos predominantes são aqueles que acidificam o leite pela fermentação da lactose e produção de ácido lático. Por outro lado, no leite refrigerado, após 48 horas predominam as bactérias psicrotróficas, as quais são capazes de multiplicar-se em baixas temperaturas e causar degradação da proteína e gordura do leite. Para minimizar a deterioração do leite armazenado pela ação bacteriana é necessário que a temperatura seja mantida abaixo 4ºC e por período máximo de 48 horas.

O resfriamento do leite após a ordenha deve ser feito de forma rápida, para minimizar a multiplicação da contaminação microbiana inicial do leite. Quanto maior o tempo de armazenamento do leite resfriado, maiores as chances de multiplicação microbiana, e consequentemente de aumento da CBT. Após 2 dias de armazenamento do leite, as bactérias psicrotróficas se adaptam às condições de baixa temperatura e se tornam predominantes.

Sendo assim, fazendas com alta CBT do leite podem buscar a solução do problema pela correção de medidas de manejo em uma ou mais fontes de contaminação (vacas com mastite subclínica causada por estreptococos, higiene de ordenha e limpeza do equipamento de ordenha e tanque). Além disso, outros possíveis fatores que podem aumentar a CBT do leite são a velocidade de resfriamento do leite pelo tanque e o tempo de armazenamento antes da coleta do leite.

Gostou? Compartilhe:
Destaques de hoje no Portal DBO

Continue depois da publicidade

Continue depois da publicidade

clima tempo

São Paulo - SP

max

Máx.

--

min

Min.

--

017-rain

--

Chuva

008-windy

--

Vento

Continue depois da publicidade

Colunas e Artigos

Continue depois da publicidade

Continue depois da publicidade

Leilões em destaque

Continue depois da publicidade

Newsletter

Newsletter

Jornal de Leilões

Os destaques do dia da pecuária de corte, pecuária leiteira e agricultura diretamente no seu e-mail.

Continue depois da publicidade

Vaca - 30 dias

Boi Gordo - 30 dias

Fonte: Scot Consultoria

Vaca - 30 dias

Boi Gordo - 30 dias

Fonte: Scot Consultoria

Continue depois da publicidade

Programas

Continue depois da publicidade

Continue depois da publicidade

Continue depois da publicidade

Encontre as principais notícias e conteúdos técnicos dos segmentos de corte, leite, agricultura, além da mais completa cobertura dos leilões de todo o Brasil.

Encontre o que você procura: