Anotar é da hora! Controle seu rebanho leiteiro

No final das contas, a diferença entre lucro e prejuízo mora nos detalhes. Anotando, o produtor não apenas identifica falhas produtivas e reprodutivas do rebanho, mas também passa a conhecer melhor o plantel. 

Por Fernanda Yoneya

Parece chato, e é, correr para pegar o caderno e anotar toda vez que o touro – ou outra vaca – sobe na Carola. Ou se a Jandaia pariu. Ou ainda qual foi a produção de leite da Roxinha e de todas as colegas em lactação mês a mês. E não são só essas as anotações. Tem que anotar a temperatura máxima e mínima todo dia, a quantidade de chuva que caiu, a vaca que secou, e por aí vai. É chato mesmo. Mas, no final das contas, a diferença entre lucro e prejuízo mora nesses detalhes.


Prática de gerenciamento que tem impacto direto na rentabilidade do produtor de leite, o controle zootécnico é cada vez mais adotado em propriedades que buscam aumentar a eficiência na gestão e investir em um manejo mais racional do rebanho. Pela técnica, o produtor faz anotações sobre informações da vida produtiva (controle leiteiro) e reprodutiva (controle reprodutivo) de todos os animais. E, com base nesse “banco de dados” – há vários modelos de planilhas e programas específicos para fazer esse controle -, o produtor não apenas identifica falhas produtivas e reprodutivas do rebanho, como também passa a conhecer o plantel e saber se ele está produzindo com eficiência.

“Com essas informações em mãos, pode-se adotar medidas corretivas”, diz o médico veterinário Marco Aurélio Carneiro Meira Bergamaschi, da Embrapa Pecuária Sudeste, em São Carlos (SP). “Muitas vezes, o produtor tira leite e não sabe quanto está tirando. Outras vezes, ele tem eficiência, mas não se dá conta”, afirma Bergamaschi.

Para entender a importância desses controles zootécnicos em propriedades leiteiras, o produtor tem de se conscientizar de que ele atua em duas atividades distintas: a criação de bezerras, que vão se tornar vacas após o primeiro parto, e a produção de leite propriamente dita. Em cada uma delas, anotar os eventos importantes é indispensável.

Na primeira atividade, diz o médico veterinário, deve-se identificar o animal,  registrar a data de nascimento de cada novilha e o peso ao nascer. “Nasceu a bezerra, começa o controle”, afirma Bergamaschi. O peso da novilha também está relacionado à genética do pai e da mãe e esse controle serve para saber se o touro utilizado não comprometerá o parto, segundo o técnico. “Além disso, esse controle, se bem feito, pode ajudar o produtor a evitar gastos extras, já que uma bezerra gera custos na propriedade sem, por um período inicial, dar nenhum tipo de retorno.”

Bergamaschi explica que o ideal é que a bezerra esteja parindo com dois anos de idade, tempo necessário, segundo ele, para que a vaca tenha estrutura para manter a gestação, parir adequadamente  e produzir leite. “O tamanho e desenvolvimento do animal estão relacionados à genética e ao manejo implementado”, diz o veterinário.

Na prática, o produtor deve pesar todas as bezerras mensalmente para acompanhar o crescimento do animal. E ficar atento à relação entre peso e idade, para que a novilha esteja “pronta para reprodução” com 15 meses. “Existem tabelas de crescimento, já consagradas, que orientam o produtor nesse controle. Com quatro meses, um animal tem de pesar tantos quilos. Com cinco meses, tantos quilos”, afirma o técnico.

Bergamaschi, no entanto, faz um alerta aos produtores: “Só ter os números nas mãos não adianta. É preciso, a partir dessas informações, adotar as ações corretivas”.

De acordo com ele, o produtor tem de verificar, por exemplo, se a nutrição da bezerra está garantindo um ganho de peso mês a mês. No caso de raças maiores, como a holandesa, a média de ganho de peso é de 800 gramas por dia. Com 15 meses, o peso estimado do animal é de 350 quilos. Em raças menores, como a jérsei, são 500 gramas por dia de ganho de peso esperado e um animal de 250 quilos com 15 meses de idade.

“O produtor pesa, anota quanto foi o ganho de peso e compara. Se estiver abaixo ou acima do esperado, aí o produtor tem de entrar com a ação corretiva.” Essa “ação corretiva”, acompanhada de assistência técnica, diz o veterinário, inclui a revisão da dieta ofertada ao animal e o chamado “manejo em lote”, uma prática simples e de baixo custo (veja abaixo).

Cada qual no seu pedaço

Em um lote, há uma competição entre os animais dominantes – que comem mais e melhor e ganham mais peso do que deveriam – e os passivos – que comem menos e não ganham o peso esperado. Para corrigir o problema, a estratégia é levar o animal que não está ganhando peso para um lote onde ele seja maior que o restante, ou seja, se torne o dominante na área. O mesmo pode ser feito com animais com excesso de peso – que podem ser transferidos para um lote em que tenham de competir com animais também “grandes” e, assim, não sejam mais os dominantes.

“Em caso de animais para reprodução, o estado corporal não pode ser nem gordo nem magro. O sobrepeso compromete a reprodução e a produção, já que pode causar, por exemplo, deposição de gordura na glândula mamária. Já animais com baixo desenvolvimento não atingem o peso ideal aos 15 meses de idade e se tornam vacas tardiamente, o que atrasa o primeiro parto”, diz o médico veterinário Marco Aurélio Bergamaschi. A consequência disso, para o produtor, é que ele tem de investir em um animal que não dá retorno e perde em rentabilidade. “Fazendo uma conta simples, se um lote de 12 vacas atrasar o primeiro parto em um mês, o produtor perde um ano, ou seja, na média uma lactação e um bezerro a menos”.

Lactação

Após o parto, tem início outra fase da vaca, que é a lactação. Aqui também o controle zootécnico deve ser rígido, medindo o quanto a vaca produz de leite por mês. “O produtor define um dia do mês para ter uma referência. Todo mês, no dia determinado, ele mede a produção e anota. Normalmente, são duas ordenhas, o que torna possível medir a produção de 24 horas”, diz Bergamaschi.

A partir desses dados, também com orientação técnica, pode-se definir a dieta do animal. A qual, de acordo com o médico veterinário, deverá atender as necessidades para que o animal se mantenha vivo, com bom estado corporal, produza e ainda sobre energia para a reprodução. “Se faltar nutrientes para a vaca, não tem gestação, há perda de peso e não tem produção de leite.”

Bergamaschi explica que, a partir da produção mensal de leite e do peso do animal, o produtor pode calcular a dieta. “A nutrição inclui três critérios: peso, produção diária de leite e condição corporal. O controle zootécnico é tarefa para a vida inteira”, afirma, acrescentando que o “custo-benefício” é mais que compensador, já que o produtor produz bezerras, garantindo a gestação do animal, e leite. Daí a importância, nesta etapa, do controle reprodutivo, no qual o produtor anota todos os eventos de reprodução: que animal entrou no cio e em que data e que vaca acasalou e quando. “Tendo essas informações disponíveis, passados 40 dias, o produtor faz o exame para saber se ela está prenhe.

Confirmada a prenhez é possível estimar a data do parto e providenciar a secagem – interrupção da ordenha para que a vaca recomponha a glândula mamária, 60 dias antes do parto subsequente. “Tudo devidamente anotado, para ter registrado, além do cio e do acasalamento, dados da gestação, da secagem e do parto. Após o parto, se em 60 dias a vaca não manifestar cio, tem de checar, porque, passados 85  dias, sem uma nova gestação, o produtor já não consegue fechar a conta de um parto por ano, alerta Bergamaschi, citando como possíveis motivos da ausência do cio uma dieta desbalanceada, um estado corporal inadequado ou alguma alteração patológica (reprodutiva ou sanitária).

“Com esse controle, que também é de grande utilidade para o veterinário da propriedade, o produtor traça metas, como manter vacas que tenham um parto por ano. Com a adoção do controle zootécnico, a chance de sucesso do produtor é grande.”

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