Na semana passada, a bolsa de mercadorias B3 anunciou que promoverá, a partir do início de janeiro, algumas mudanças na base de cálculo do Indicador do boi gordo, divulgado diariamente pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea). A alteração do índice Esalq/Cepea era uma importante demanda dos pecuaristas, que cobravam maior transparência em relação ao que ocorre nos bastidores das transações internas, entre os produtores e as indústrias frigoríficas. O Portal DBO conversou sobre o assunto com o médico veterinário Leandro Bovo, sócio-diretor da Radar Investimentos, de São Paulo.
Portal DBO – Na sua avaliação, qual seria a principal mudança anunciada pela B3?
Bovo – São duas as principais mudanças, a saber: inclusão de frigoríficos SISP (Serviço de Inspeção de São Paulo) na base de cálculo do indicador e a ponderação pelo volume de animais negociados. Até então, os preços de negócios dos frigoríficos com SISP não podiam entrar na amostra porque o contrato exigia que apenas frigoríficos SIF (Serviço de Inspeção Federal) fossem considerados. E não havia ponderação por volume, ou seja, um negócio de 20 animais tinha em tese o mesmo peso de um negócio de 500 animais.
Portal DBO – Na sua opinião, as mudanças bastam para gerar maior credibilidade em relação ao índice?
Bovo – O processo de atualização tem que ser constante e sempre há pontos a serem melhorados, mas essas duas alterações eram as principais que o mercado gostaria de ver atendidas e vai melhorar muito a aderência do indicador ao mercado físico atual
Portal DBO – A participação dos pecuaristas, mesmo depois das mudanças, continua sendo de extrema importância para a composição do indicador? Ou seja, você acredita que é preciso um interesse maior do produtor por essa causa, ou ele já está cumprindo a sua parte?
Bovo – Na verdade, a participação dos pecuaristas agora é ainda mais importante, pois nessa nova ponderação será levado em conta o número de animais no negócio e, obviamente, a indústria pode optar por não reportar um negócio com maior número de animais a preço mais alto para não puxar a média de preços para cima. Dessa forma, cabe ao pecuarista relatar sempre seu negócio. Quando o pecuarista se sentir mais representado pelo novo indicador, acredito que sua contribuição tende a aumentar, gerando um ciclo virtuoso de mais informação de negócios que, por sua vez, ficará ainda mais aderente ao mercado físico e assim por diante.
Portal DBO – A questão das praças paulistas que entram na composição do índice parece que não será mudada. Na sua avaliação, está correto avaliar o valor do boi gordo por meio de várias praças no mesmo Estado?
Bovo – Antes as praças tinham pesos diferentes na composição do indicador. A partir da mudança, o peso será pelo volume de animais do negócio, então as praças tendem a perder a relevância para o indicador, mas é sempre interessante ter informações mais detalhadas sobre essa ou aquela região para dar uma noção melhor da dinâmica do mercado como um todo.
Portal DBO – Fique à vontade para demais declarações sobre o tema
Bovo – Essa mudança é fruto de muita dedicação e empenho do grupo de trabalho junto à B3 para aprovação das alterações, porém de nada adianta se o produtor não passar a informar consistentemente todos os seus negócios. Acho que essa é uma ótima notícia para o setor e pode servir de incentivo para termos cada vez mais informações e, com isso, um indicador mais justo e aderente à realidade do mercado físico.