Depois de pedir o desligamento como membro da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), na semana passada, a Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja Brasil) anunciou na manhã desta quarta-feira (30/9), a criação de um grupo, ainda sem nome definido, que terá como norte o conceito de “produção legal”.
A cisão com a entidade aconteceu por discordância no posicionamento ambiental da Abag, que “não atende aos interesses dos produtores”, de acordo com a Aprosoja. “O motivo da separação é para que a gente possa trabalhar de forma a levar uma imagem de realidade”, diz Bartolomeu Braz, presidente da Aprosoja Brasil. “Há empresas brasileiras e multinacionais que ganham muito dinheiro com o meio ambiente. Se colocam como empresas que protegem o meio ambiente, levando bilhões e bilhões para os seus cofres e nada devolvendo para o meio ambiente.”
Braz cita a Natura como uma delas. A empresa foi uma das que assinaram carta enviada ao governo brasileiro, liderada pela Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura, pedindo providências para conter o desmatamento, movimento do qual a Abag é signatária. Braz afirma que os posicionamentos da Aprosoja dentro da Abag geralmente eram votos vencidos e que prevaleciam as posições de ONGs, empresas e outras entidades.
Fabrício Rosa, diretor executivo da Aprosoja Brasil e consultor da Câmara da Soja do Mapa, disse que as entidades integrantes do novo grupo ainda não estão listadas, mas que devem ser ligadas às cadeias produtivas e que representem os produtores. E citou alguns nomes, como CNA e Abrapa. “Nós vamos nos organizar com as entidade que estão produzindo e conservando o meio ambiente. Entidades que não têm esse objetivo, ou não conhecem o sistema de produção e proteção, não vão entrar”, afirmou. “Com esse formato, a gente vai fazer a união de quem produz e quem protege, de uma forma mais transparente.”
A posição das lideranças da Aprosoja é que o setor deve ter como base as exigências do Código Florestal Brasileiro e que ir além dele é uma atitude que vai contra o produtor rural. “Nós precisamos mostrar como se faz proteção, que o Brasil tem lei e que precisam ser cumpridas”, diz Bartolomeu Braz. ”Se houve desmatamento, e for ilegal, vamos punir. Isso que nós temos que entender.”
Em relação a possíveis sanções econômicas por parte de clientes globais, principalmente de países europeus que estão pressionando o Brasil, as lideranças da Aprosoja Brasil são céticas quanto a sua efetividade. Rosa afirma que a entidade vem realizando um trabalho junto aos países compradores há anos para explicar o que ocorre na produção brasileira. “O País é vitrine da produção e das vendas exteriores. Os nossos produtos são os primeiros a sair. O Brasil tem a soja mais sustentável do mundo”, diz ele. “Em 2019 tivemos queimadas na Amazônia e disseram ‘vocês não vão vender mais’. Em 2020 estamos batendo recorde de exportação em produtos agrícolas. Para 2021 estamos batendo recorde de vendas futuras, com quase 100% de vendas a mais que no ano anterior. Para 2022 nós também já estamos vendendo e isso não era prática.”
Na tarde de hoje, a Abag publicou um comunicado sobre o desligamento da Aprosoja, assinada pelo presidente do Conselho Diretor entidade, Marcello Brito. Confira a nota na íntegra:
“A ABAG possui um estatuto que define as regras de tomada de decisão. Todos os membros estão sujeitos as mesmas regras. Os participantes, ganham e perdem nos diversos temas, isso é o que caracteriza uma associação de diálogo.
ABAG é uma representação do Agronegócio, no conceito estrito do antes, durante e depois da porteira, talvez a maior congregação de empresas nessas três etapas que formam o eixo vertical que lidera a economia nacional.
Nossa credibilidade, ação pela sustentabilidade, legalidade e atuação apolítica do Agro nacional no Brasil e no exterior é histórica e dispensa comentários, é conhecida e transparente. Portanto mais uma vez somente lamentamos a saída de um membro da mesa de diálogo.
Continuaremos nossa luta em defesa total por um só agronegócio. Um agronegócio responsável, sustentável e legal, características do Agro nacional, junto a toda a sociedade.”