Apesar da forte onda de valorização da arroba do boi gordo nos últimos 33 dias, o receio é que a cada dia que passa, o valor esteja mais próximo de seu teto máximo, segundo avalia o economista Yago Travagini Ferreira, analista de mercado da Agrifatto, de São Paulo (SP).
Yago foi o convidado do programa DBO Entrevista para falar sobre os cenários do boi gordo em 2022 (confira no final do texto o vídeo da entrevista, na íntegra).
Segundo o analista de mercado, a valorização pode até continuar no ano que vem, podendo chegar a cerca de R$ 350/@, no entanto, há dúvidas em relação a preços mais altos que este. Isso indica que os preços podem estar chegando ao teto máximo.
“Diferentemente do que a gente viu em outubro, novembro foi um mês de alta valorização do boi gordo. Fazia tempo que a gente não via uma arroba tão valorizada”, explica Yago.
Pelo Indicador do boi gordo Cepea/B3, a nova guinada de preços começou no dia 29 de outubro, após o dia anterior (28/10), ter registrado a média de valor mais baixa do ano – R$ 254,10. Ontem, o indicador ficou em R$ 322,30.
“A gente até tabelou quando foi a última vez que, num intervalo de 25 a 30 dias, a arroba valorizou tanto assim. Voltamos lá em meados de novembro de 2019, quando a arroba saiu do patamar de R$ 150 a RS 140 e bateu R$ 190”, diz o consultor da Agrifatto.
A dúvida é até quando esse movimento de alta continuará assim, em função da elasticidade do preço da carne no mercado atacadista, que não vê tanto espaço para a alta de preços.
“O mercado começa a entrar num estado de saturação de demanda, por não conseguir repassar esse custo mais alto da arroba”, explica Yago.
Por isso, para 2022, a tendência é de preços mais estáveis do que foi 2021 e 2020, além de uma pressão maior na margem do pecuarista.
O que mais pesará na conta dos pecuaristas no ano que vem é justamente o custo da compra dos animais de reposição, feitas ao longo de 2021. A boa notícia é que ano que vem os pecuaristas possam vislumbrar uma melhora na oferta de boi magro.
2021, o ano da volatilidade
Uma das grandes lições que 2021 deixa aos produtores, na opinião de Yago, é a atenção ao uso de ferramentas de gestão de risco de preço, por causa da volatilidade em relação a valorização da arroba.
Apesar da volatilidade também ter sido observada em 2020, neste ano, ela foi muito acentuada, especialmente a partir de setembro, quando houve a paralisação dos embarques para a China.
“Por uma decisão de um mês de diferença o pecuarista deixou de vender a R$ 300 e R$ 320 e teve de vender a R$ 250. Ele perdeu R$ 60 a R$ 70 de faturamento e foram diversas as histórias de produtores e pecuaristas que perderam R$ 1.000 por cabeça”, diz.
Retorno da China
O tão esperado retorno das compras chinesas de carne bovina brasileira deve acontecer mesmo no ano que vem, sem uma previsão para qual mês, exatamente. Segundo Yago, esse é um dos fundamentos que está aquecendo os valores da arroba no mercado futuro.
“O que eu posso falar de movimento concreto é da carcaça casada suína que já começou a subir ao mesmo tempo que os estoques de carne bovina na China estão relativamente reduzidos”, diz o consultor da Agrifatto.
Confira na íntegra a entrevista