ARTIGO | Mapeamento das áreas afetadas pela estiagem no Brasil

O pesquisador Daniel Pereira Guimarães, da Embrapa Milho e Sorgo (Sete Lagoas, MG), apresenta os impactos da seca em diversas regiões do País

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Por Daniel Pereira Guimarães, pesquisador da Embrapa Milho e Sorgo 

Daniel Pereira Guimarães (Foto: Reprodução)

As condições climáticas contribuem para que o Brasil seja o paraíso das águas e detenha cerca de 12% da água doce do planeta. No entanto, a distribuição espacial de nossos recursos hídricos e as variabilidades temporais provocam anomalias que precisam ser continuamente monitoradas. O excesso de chuvas tende a causar danos materiais e humanos, mas os impactos normalmente são localizados. A estiagem reduz a disponibilidade hídrica e provoca danos em escalas mais amplas, impactando fortemente o meio ambiente, a produção de alimentos, a geração de energia e os abastecimentos humano e industrial.

Nos últimos 20 anos, tivemos três períodos de estiagens intensas que afetaram as áreas mais populosas e os polos de produção agropecuária. Primeiro, ocorreu o apagão em 2001, com a crise no setor elétrico. Em seguida, a crise hídrica de 2014-2015, em que o fato mais marcante foi o desabastecimento hídrico de São Paulo.


E agora acontece uma crise hídrica, que teve início com o atraso da estação chuvosa, provocando altas temperaturas e incidências de incêndios, como os verificados na região do Pantanal, e a drástica redução das chuvas a partir do mês de março. Essa estiagem tem implicações socioeconômicas mais graves porque ocorre durante a pandemia, afetando a geração de renda no campo e a segurança alimentar.

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Diferentemente das outras estiagens que afetaram o País, atualmente há mais informações que possibilitam a formulação de políticas públicas para a antecipação de medidas mitigadoras. No caso da geração de energia, existem fontes alternativas, como a geração térmica, e está havendo o crescimento expressivo das energias limpas de fonte solar e eólica. No caso da produção de alimentos e fibras, os maiores avanços estão relacionados com o Zoneamento Agrícola de Riscos Climáticos para mais de 40 culturas e com os programas de apoio ao crédito e seguro rural.

O monitoramento climatológico e ambiental teve ganhos expressivos com a melhoria na qualidade e a maior facilidade de acesso às imagens oriundas de satélites, as bases do MapBiomas, com participação de diversas instituições públicas e privadas, e o projeto Pronasolos, resultante de parceria entre a Embrapa, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e o Serviço Geológico do Brasil (CPRM).

Dinâmica da água nos solos – A integração de informações sobre condições atmosféricas, uso e ocupação dos solos e as características texturais deles permite caracterizar o ciclo hidrológico e, simultaneamente, suas variações no tempo e no espaço. As chuvas incorporam a água nos solos até seus limites de absorção. A água excedente alimenta os cursos hídricos e o lençol freático. E a evaporação e a transpiração das plantas (denominada de evapotranspiração) devolvem a água para a atmosfera renovando o ciclo hidrológico.

As condições climatológicas e características dos solos determinam a ocorrência dos ecossistemas formadores dos biomas, que são fortemente impactados pelas anomalias climáticas ou ações antrópicas. O monitoramento da dinâmica da água no solo permitiu identificar as áreas mais impactadas e as tendências de agravamento da situação ao longo do tempo.

Os resultados indicam que os estados da Região Norte e o Maranhão mantiveram a normalidade da disponibilidade hídrica dos solos, exceto Roraima, onde a ocorrência de chuvas nos meses de março e abril foi muito superior às médias. A partir de abril, a disponibilidade de água nos solos apresentou alta redução no Mato Grosso do Sul, São Paulo, Paraná e Santa Catarina e, com impactos menores, em Goiás, Minas Gerais e Rio de Janeiro. No Espírito Santo e em regiões litorâneas, até o Rio Grande do Norte, as condições hídricas estão acima das médias esperadas para o período. Áreas do Ceará, Piauí e oeste da Bahia também apresentam déficit de água nos solos.

Impactos regionais – Os grandes danos causados pela estiagem tendem a se agravar, principalmente nos estados das regiões Sudeste e Centro-Oeste, onde o período de estiagem está começando. Para a Região Sul, apesar do fim do fenômeno La Niña em meados de abril, a maioria dos modelos de previsão climática indica tendências de chuvas abaixo da média e temperaturas mais elevadas para os próximos três meses.

(Fonte:https://www.cpc.ncep.noaa.gov/products/international/nmme/html_monthly/precip_stdanom_samerica_body.html)

O mapa da disponibilidade de água nos solos mostra a situação nas mesorregiões dos estados brasileiros no final de maio de 2021, em relação ao esperado para o período.

Anomalias hídricas nas mesorregiões no final de maio de 2021

 

Além das perdas já reportadas na produção agrícola e das medidas já adotadas para o gerenciamento dos recursos hídricos, merece atenções especiais a área da pecuária. Para ela estão previstos fortes impactos no Mato Grosso do Sul, Oeste de São Paulo e Triângulo Mineiro. Também precisam ser observadas as áreas de agricultura irrigada e as culturas agrícolas de ciclos longos, como café, cana-de-açúcar, frutíferas e espécies florestais. O agricultor deve ficar atento ao aumento dos riscos de incêndios e ao meio ambiente de modo geral.

Os maiores impactos da estiagem ocorrerão na bacia hidrográfica do Rio Paraná, principal fonte geradora de energia elétrica do Brasil. Em menor escala, temos a bacia do Rio São Francisco, onde os níveis de água do solo são inferiores a 60% das médias históricas nos principais afluentes, como o Rio das Velhas, o Rio Pará, o Rio Paraopeba, o Rio Paracatu e o Rio Urucuia, em Minas Gerais, e os Rios Corrente e Grande, no Oeste Baiano.

O monitoramento da dinâmica da disponibilidade hídrica nos solos apresenta-se como importante ferramenta para auxiliar na formulação de políticas públicas, previsões de produtividade agrícola, disponibilidade dos recursos hídricos, riscos de alagamentos, inundações e desabamentos, severidade das estiagens e riscos de incêndios, contribuindo para a antecipação de medidas mitigadoras que minimizem perdas econômicas, ambientais e sociais.

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