Por Michely Tomazi, Júlio Cesar Salton, Danilton Luiz Flumignan e Éder Comunello – Pesquisadores da Embrapa Agropecuária Oeste (Dourados, MS)
Depois das fortes ondas de frio ocorridas em junho e julho de 2021, quando foram atingidas temperaturas negativas em muitas partes do Centro-Sul do País, as pastagens sofreram danos severos com as geadas.
Visualmente é fácil perceber seus efeitos, já que a paisagem se tornou “amarelada” e muito vulnerável à ocorrência de incêndios.
O clima mais seco no inverno, como ocorre em grande parte da região atingida pelo frio, naturalmente, resulta em queda na produção e qualidade da pastagem nesta época do ano, prejudicando o desempenho animal.
Em regiões onde ocorrem as geadas, além das perdas pela seca, ainda há perdas severas por consequência do frio extremo.
Sistemas integrados de produção ajudam – Qual estratégia poderia ser utilizada para amenizar os efeitos das geadas em pastagens? Essa é uma pergunta relevante para muitas regiões no Centro-Sul do Brasil, pois elas experimentam, com alguma frequência, os problemas decorrentes dos eventos de geadas.
Uma das estratégias é ter as áreas cultivadas com pastagem nova, o que é viável no sistema de integração lavoura-pecuária (ILP), quando após safra de soja, implanta-se a braquiária em sequência.
Desta forma, sempre se tem área com pasto novo durante o outono-inverno e esse tem maior capacidade de tolerar o frio se comparado aos pastos velhos.
Em pesquisas da Embrapa feitas na Unidade de Referência Tecnológica (URT) em Naviraí, em uma parceria com a Cooperativa Agrícola Sul-Mato-Grossense (Copasul) e a Rede ILPF, vários sistemas de produção estão sendo avaliados.
Nas geadas de ocorridas em 2021, a temperatura chegou a atingir valores negativos, com mínima de -1,2 °C. Mesmo assim, a pastagem nova, com três meses em área de ILP, ainda permaneceu com 40% a 50% de massa verde.
Porém, as áreas com pasto velho, de dois anos ou mais, foram muito mais afetadas, mantendo, no máximo, 10% de massa verde.
Integração Lavoura-Pecuária-Floresta – A inserção do componente florestal no sistema de produção minimiza também o efeito negativo das baixas temperaturas tanto para os animais como para a pastagem.
Em Naviraí, a Embrapa Agropecuária Oeste identificou que a proteção foi de praticamente 100% quando a pastagem era nova e cultivada dentro da ILPF.
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Esse efeito protetor se deve às mudanças de ordem microclimáticas que são proporcionadas na área de produção pelo componente florestal, o qual cria uma espécie de “bolsão térmico” que mantém o ar mais quente no ambiente.
Nesta área experimental, que já vem sendo monitorada desde 2015, sempre que ocorreram eventos de geadas as temperaturas dentro do ambiente do ILPF foram de 1 °C a 3 °C maiores do que nas pastagens cultivadas a céu aberto.
Isso foi suficiente para manter a pastagem nova livre dos males das geadas. Até mesmo o pasto velho se beneficiou quando cultivado entre as árvores no ILPF, permanecendo com 50% da massa verde.
Portanto, em regiões consideradas susceptíveis a geadas, o uso do sistema ILPF, pode ser uma alternativa para proteger a pastagem e assegurar, pelo menos em parte da área, uma opção para garantir forragem de melhor qualidade para o gado.