As vantagens do grão úmido para silagem de alta qualidade nutricional

É hora de planejar o plantio de milho ou outros cereais para produzir um alimento de boa qualidade, rico em nutrientes e com menor custo nas propriedades leiteiras.  

Para bovinos, é recomendável quebrar o grão em cinco ou seis pedaços.
Por Fernanda Yoneya 

Com vantagens agronômicas, zootécnicas e econômicas comprovadas, a silagem de grão úmido, como alimento concentrado energético, ganha cada vez mais adeptos entre os produtores de leite. Mas, assim como a silagem de planta inteira (alimento volumoso), é fundamental que sejam adotados cuidados, da escolha da variedade e colheita à abertura do silo, para garantir um nutriente de boa qualidade.

Características como adaptação à região, produtividade e sanidade são fundamentais na escolha de um híbrido para este fim. O milho é a planta mais indicada para a produção desse tipo de material, desde que colhida no chamado “ponto ótimo” de corte e devidamente armazenada. Outros grãos de cereais, no entanto, também são opção para o produtor: sorgo e milheto (cereais de verão) e triticale, aveia, centeio e cevada (cereais de inverno).


Uma das vantagens desse alimento em relação ao volumoso de grãos secos é a colheita antecipada em três a quatro semanas, o que permite adiantar a instalação de outra cultura (milho safrinha, sorgo ou culturas de inverno). Além disso, há menos perdas por tombamento de plantas e grãos que “espirram” da colheitadeira, assim como a redução do ataque de pássaros, carunchos e fungos (menor risco de micotoxinas). Também não é necessário fazer a pré-limpeza e secagem dos grãos, que podem ser armazenados por longo período sem alterações do valor nutricional.

“A silagem de grãos úmidos é o produto da conservação de grãos de cereais logo após a maturação fisiológica, com teor médio de umidade de 28%”, resume o professor Ciniro Costa, da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ) da Universidade Estadual Paulista (Unesp), em Botucatu. “O armazenamento de grãos úmidos na forma de silagem é cerca de 10% mais econômico em relação à conservação na forma de grãos secos, principalmente por eliminar as etapas de pré-limpeza, secagem e monitoramento dos grãos ensilados”, diz Ciniro.

“A utilização de animais cada vez mais produtivos têm obrigado técnicos e produtores a buscar alternativas que permitam atender a maiores exigências nutricionais sem comprometer a viabilidade econômica do sistema. Nesse contexto, a ensilagem de grãos úmidos de cereais vem se destacando pela maior eficiência na conservação de alimentos concentrados energéticos para a alimentação animal.”

Professor Ciniro Costa, da FMVZ da Unesp de Botucatu. 

No caso do milho, a maturação fisiológica ocorre aos 50-55 dias após a polinização ou “espigamento”, independentemente do híbrido e da época de semeadura. “A maturação fisiológica se caracteriza pelo momento em que cessa a transferência de nutriente da planta para a formação dos grãos. Quando falamos de milho, temos a formação de uma ‘camada preta’ na base dos grãos. Nessa fase os grãos apresentam teores de amido e umidade elevados, ao redor de 30% a 32%”, afirma o professor, titular do Departamento de Melhoramento e Nutrição Animal.

Para determinar o momento correto da colheita no campo, o produtor ou um técnico deve selecionar espigas de diferentes pontos da lavoura. Elas são quebradas ao meio para que a “camada preta” seja identificada na base do grão. Isso ajuda a detectar a umidade entre 32 e 35% – ponto de maturação fisiológica.

Segundo professor da Unesp, a colheita com umidade acima de 35% implica menor produtividade, uma vez que os grãos ainda não estão completamente formados. Já a colheita com teor de umidade abaixo de 25% não permite uma boa conservação na forma de silagem. “Na alimentação de ruminantes, a silagem de grãos úmidos, por ser um alimento concentrado energético, complementa a silagem de planta inteira como volumoso.”

Quirera

Para a ensilagem de grãos úmidos, a colheita é feita com a mesma colheitadeira utilizada para grãos secos. Em seguida, os grãos devem ser transportados até o silo e triturados ou esmagados a fim de facilitar a compactação. Os grãos úmidos devem ser triturados na forma de quirera – o grau de trituração dos grãos, segundo Ciniro, varia conforme o animal. Para bovinos, a recomendação é quebrar o grão em 5 a 6 pedaços. “Com isso, reduz-se a velocidade de passagem pelo trato digestório, o que pode ser conseguido com o triturador sem a peneira.”

No caso da ensilagem de grãos úmidos, conforme o professor, não se recomenda usar silos em superfície, porque, como eles não têm paredes laterais, dificulta a compactação. A dica é optar pelos silos do tipo trincheira ou “bag”. “No caso do silo trincheira é necessário revestir o silo com alvenaria ou lona plástica para que o material não entre em contato com o solo, evitando perdas elevadas.” Para o enchimento dos silos tipo “bag” é necessária a utilização de maquinários específicos – as chamadas embolsadoras de grãos úmidos. “Para utilização dessa técnica, o produtor precisa fazer uma avaliação criteriosa em relação à aquisição dos equipamentos, colocando na ponta do lápis os custos.”

Silos bag são uma boa opção de armazenamento da silagem de grão úmido, que é oferecida diariamente ao rebanho.

O silo de grãos úmidos, segundo Ciniro, pode ser aberto após 30 dias. Como a silagem sofre um processo de deterioração após a abertura do silo, a recomendação do professor da Unesp é dimensionar corretamente o silo de maneira que permita a retirada diária, sem interrupção, de, no mínimo, 15 centímetros de toda a superfície frontal do silo. “O silo de grãos úmidos deve ser bem dimensionado para evitar perdas, considerando o número de animais a serem alimentados e que, em média, um metro cúbico de silagem pesa uma tonelada.”

Comida boa e barata

A Fazenda Vale do Jotuva, em Carambeí, PR, utiliza a silagem de grão úmido de milho desde meados de 2016. “Se fosse para produzir milho grão para comercialização, este passaria pelos processos de recepção e secagem, gerando custos consideráveis. Se faço silagem de grão úmido, pulo estas etapas e evito esses custos. Também economizo no frete, já que evito pagar o transporte da lavoura para o armazém, e depois de uma fábrica de rações para a fazenda. Ou seja, verticalizo a produção da fazenda”, diz o produtor Roderik Wouter van der Meer, que administra a propriedade com os primos Robin Vink, gestor da área de pecuária de leite, e Peter Vink, responsável pelo setor de integração e manutenção da fazenda.

“Outra vantagem se deve ao fato de o processo de ensilagem do grão úmido aumentar a digestibilidade do milho em comparação ao milho seco, ou fubá”, afirma.

“A quantidade de milho fornecida ao gado pode variar conforme o custo do milho. Se o milho está mais caro no mercado, optamos por aumentar a proporção de grão úmido na dieta e diminuir a proporção de milho na ração. Milho mais barato, diminuímos um pouco o grão úmido e aumentamos a proporção de milho na ração fornecida pela cooperativa”, contam os primos.

Eles afirmam que já testaram vários híbridos para a silagem de grãos úmidos e notaram que aqueles que produzem grãos maiores facilitam o serviço de moer e ensilar o grão úmido. “Os processos ficam um poucos mais rápidos. Atualmente, buscamos um híbrido com alto teto produtivo e boa sanidade de grão.”

Ponto certo

A fazenda segue recomendações técnicas, da escolha da variedade ao fornecimento da silagem aos animais. “Tentamos começar a colheita do milho grão úmido quando o grão está com umidade em torno de 35%. Vamos tirando amostras das espigas de milho e, quando chega próximo aos 35%, iniciamos a colheita. À medida que o milho vai secando, vamos aos poucos adicionando água, no momento de moer os grãos. Quanto mais seco, mais água adicionamos”, afirmam Roderik e Robin.

Os primos Roderik van der Meer (à esq.) e Robin Vink.

Segundo os produtores, com o milho com maior teor de umidade, o processo de moagem fica mais lento, mas necessita de menos água. Já com o milho mais seco o processo de moagem é mais rápido, porém há um maior consumo de água na reidratação. A própria máquina que faz a moagem já ensila o material, dentro de silos bolsa. “O milho triturado é prensado dentro do silo bolsa, garantindo a compactação e o isolamento do ar.”

Na propriedade, o silo é aberto após 60 dias. “Deve-se retirar uma fatia considerável da silagem a cada dia, para que o material não estrague. Aqui, retiramos em torno de 30 centímetros. O material deve ser consumido de preferência no mesmo dia.” Para os animais em produção, a Vale do Jotuva trabalha com teto de 5 quilos/animal/dia. “Como a silagem de grão úmido de milho tem uma alta digestibilidade do amido presente no grão, deve-se trabalhar com uma dieta especialmente preparada para a inclusão do grão úmido para evitar a ocorrência de acidose no rúmen (produção excessiva de ácidos).”

Roderik diz que, se o material permanecer em ambiente compactado e isolado do ar, pode ser armazenado por vários anos. “Mas evitamos ensilar produção para mais de um ano e meio de consumo.” Os primos alertam, no entanto, que a silagem de grãos úmidos deve compor uma dieta equilibrada e balanceada, com acompanhamento técnico. “A falta de equilíbrio da dieta pode provocar problemas de casco, locomoção e reprodutivos no gado.”

Publicado na edição de Nº 92 da Revista Mundo do Leite.

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