Dilip Vaidya, Rajiv Poddar e Arvind Poddar, executivos da BKT
Ao lado de Brasil, Rússia, China e, mais tarde, África do Sul, a Índia ganhou o status de país emergente quando entrou para os BRICS em 2001. O acrônimo cunhado pelo economista britânico Jim O’Neill chamou a atenção para o potencial do país de se tornar uma grande potência até 2050 e, houve quem abraçasse o desafio dentro de casa e acreditasse no poder da inovação. Foi assim com a Balkrishna Industries Ltda (BKT), fabricante nacional de pneus, cujo faturamento anual saiu de US$ 7,5 milhões no ano 2.000 para US$ 900 milhões em 2017; sendo 65% deste total referente às vendas de pneus para a agricultura. Hoje, a empresa exporta seus produtos para 160 países, emprega 7.000 funcionários e tem 6% do market share global no segmento fora de estrada (ou seja, de pneus para terra e lama). A meta é chegar a 10% em 2025.
Fundada por Mahabirprasad Poddar em 1967, a empresa familiar se prepara, agora, para abrir sua primeira fábrica fora da Índia. O país escolhido para o novo empreendimento foi os Estados Unidos. Serão investidos US$ 100 milhões na construção de unidade cuja localização deve ser definida ainda no primeiro semestre de 2019. A inauguração está prevista para 2021. O intuito é que a fábrica atenda a demanda por pneus fora de estrada de todo o continente americano, sendo o Brasil um dos principais clientes (veja entrevista abaixo com o diretor Rajiv Poddar).
Trajetória acelerada
Na década de 1960, a BKT nasceu como uma empresa fabricante de pneus de bicicleta e, de forma gradual, passou a atender o mercado de veículos de duas rodas, depois três (fornecendo pneus para os tradicionais tuk-tuks indianos) até chegar aos de quatro rodas, e decidir ir mais longe. Em 1995, a empresa se lançou no mercado agrícola e assumiu o sonho de se tornar uma empresa exportadora. “Naquela época, a BKT contava apenas com a unidade de Aurangabad, no leste da Índia, Estado de Maharashtra, inaugurada em 1988. Então, em 2002, abriu a fábrica de Bhiwadi, no Rajastão, para atender a demanda pelos pneus fora de estrada. Em 2004, lançamos a linha Agrimax, e é por ela que somos conhecidos no setor”, relembrou Arvind Poddar, membro da segunda geração da família em coletiva de imprensa, da qual o Portal DBO participou, em Mumbai, onde fica a sede da companhia.
A terceira fábrica de manufatura foi inaugurada em 2006 em Chopanki, também no Rajastão, e a quarta e última, em território indiano, no município de Bhuj, Estado de Gujarat, já em 2015. O Portal DBO visitou a instalação a convite da BKT Pneus.
À esquerda, Centro de Pesquisa & Desenvolvimento; ao centro, pista de testes para tratores; à direita, planta de pneus.
O futuro está na inovação
A fábrica de Bhuj é a menina dos olhos do novo diretor e membro da terceira geração da família, Rajiv Poddar, e ele garante que não é apenas porque ela já responde por metade da produção anual da BKT, de 280 bilhões de toneladas no total.
Pneus em estoque, ao final do processo de fabricação
“Eu gosto de chamar o complexo de Bhuji de “virada do jogo” porque ali está a nossa chave para nos tornarmos mais competitivos e inovadores. Ali temos mais do que uma fábrica de pneus, temos um Centro de Pesquisa & Desenvolvimento equipado com as máquinas e softwares mais modernos do mercado e um time capacitado de engenheiros, químicos e técnicos prontos para trabalhar com essa tecnologia de ponta”, disse. O Centro de P&D é uma instalação de 10 ha, onde são desenvolvidos os componentes dos pneus; desenhados os modelos e feitos testes de qualidade dos materiais para diversos parâmetros, como resistência, flexibilidade, resposta a diferentes temperaturas etc. Dilip Vaidya, responsável pelo Centro de P&D, resumiu sua importância: ” O Centro é sinônimo de inovação. Nele pesquisamos soluções para transporte autônomo assistido por sensores, sistemas avançados de integração de pneus e equipamentos, fluxo de dados e otimização analítica para aumentar a produtividade, esses são alguns exemplos”.
Em Bhuj também está sendo construída a fábrica de “fuligem” (em inglês, carbon black) da BKT, uma espécie de carvão em pó, mais puro, usado na fabricação de pneus e tintas, que terá, até 2020, capacidade para atender a demanda interna da empresa e comercializar metade da produção. “Esta planta [foto ao lado] nos permitirá garantir a qualidade do material bruto e isso é muito importante”, explica Rajiv Poddar.
Grande como os sonhos da empresa, o complexo de Bhuj, com seus 120 ha, deve abrigar, além da planta de pneus já instalada (com foco na agricultura), uma planta de pneus gigantes, para construção e mineração. Dilip Vaidya afirmou que o grande desafio da fabricação de pneus com aros maiores é alcançar altas velocidades com cargas extraordinariamente pesadas e percorrer longas distâncias. “Portanto, chegamos a um estágio de engenharia avançada, no qual a análise de toda a estrutura do pneu e de todos os seus recursos é essencial”, disse Vaidya.
Segundo Rajiv Poddar, a motivação para tantos projetos vem da vontade de ser líder no segmento de pneus fora de estrada. Para chegar lá, a empresa também pretende investir na expansão do seu portfólio como fabricante de equipamentos originais para empresas de maquinário. Esta frente é conhecida no mercado como OEM (Original Equipment Manufacturer, em inglês). Hoje, ainda é muito forte para a empresa a revenda de pneus direto para o consumidor. No Brasil, a BKT trabalha com 14 revendedores, presente no Rio Grande do Sul, Paraná, São Paulo, Espírito Santo, Mato Grosso, Maranhão, e Pernambuco.
