Brucelose: a quantas anda o controle no Brasil?

Enrico Ortolani faz uma análise da condição sanitária em diferentes regiões do País

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No artigo anterior falamos sobre o que representava a brucelose para nossos rebanhos de corte, a origem do programa do Ministério da Agricultura para controle dessa doença e as dificuldades para sua implantação. Agora vamos analisar quanto evoluímos no controle da brucelose em boa parte dos Estados da nação. Passados 17 anos do lançamento do programa oficial, apresento o balanço de casos da enfermidade. Boa parte desses dados tiveram seus estudos coordenados por pesquisadores do Departamento de Veterinária Preventiva de minha Faculdade, contando com um timaço de colaboradores pelo Brasil afora, sem esquecer dos especialistas do Mapa. Valho-me também do levantamento que publiquei com meus orientandos e agregados no estado do Pará.

O grande levantamento teve dois anos de prestações de contas: o de 2009 e o de 2016. No estudo do Pará esse retrato é exclusivo de 2011. Os dois mapas incluídos neste artigo indicam a situação do percentual de fêmeas acima de 24 meses com reação positiva à brucelose, desconsiderando-se a reação à vacina, por regiões específicas de vários Estados. Quanto mais vermelho-tijolo é a cor mais brava é a situação, sendo possível comporar os dois cenários.

Na primeira mirada nos mapas de antes e depois já se pode perceber que o quadro ficou um tanto mais pálido em 2016, para a felicidade geral da nação. A avaliação mais detalhada identifica que quatro Estados se destacam nessa melhora: os dois Mato Grossos, Rondônia e Minas Gerais. Em tempo: no levantamento feito individualmente no Tocantins, que acabou de sair do forno, indicou que esse Estado também apresentou melhoras e entra no timão de cima. A maioria dos Estados continuou no mesmo pé, mas o Rio Grande do Sul e Santa Catarina decaíram um pouco em algumas regiões, dantes melhor controladas. Comparado com os dados de 2009, o Pará se encontrava, em 2011, entre os piores resultados. Notícias atuais dessa região dizem que lá o mar continua a não ser bom para os peixes.
Que medidas foram tomadas nos Estados mais eficientes em comparação com aqueles que ficaram na rabeira? Conversei com o coordenador de um desses Estados vanguardeiros. Segundo ele, vários fatores interferiram no sucesso da campanha.

Primeiro, o apoio, inclusive financeiro, por parte dos governos para que a equipe da defesa animal pudesse acompanhar par-e-passo a vacinação da novilhada nas propriedades. Apuração detalhada e contínua dos relatórios de vacinação registrados pelos pecuaristas, constatando possíveis irregularidades e falhas, com o objetivo de saná-las. Acompanhamento rigoroso e punição, tintim por tintim, nas fazendas que não cumpriram as normas de vacinação, inibindo a mesma conduta por parte de outros pecuaristas, dentre outras medidas menores.

Não se sabe, com certeza, qual é a porcentagem de novilhotas realmente vacinadas em cada Estado. Porém, considerando-se os registros certificados e a venda controlada de vacinas B19, estima-se que, nos Estados melhor sucedidos, a cobertura vacinal foi superior a 90%, enquanto que, nos demais, ela ficou abaixo deste valor. Nos Estados que deram marcha ré a história é outra. Pela baixíssima frequência da doença (menos de 1%) em todas as regiões, já em 2004, o Mapa orientou Santa Catarina a deixar de vacinar as novilhas, atuando apenas nos rebanhos positivos para erradicar a doença.

Estudos clássicos demonstraram que a vacinação em massa deixa de ter resultados eficazes quando a incidência é inferior a 2%. Porém, neste Estado, o vento mudou a biruta do aeroporto. Apurei recentemente, por fontes confiáveis, que voltaram ocorrer abortamentos em propriedades do oeste catarinense, que antes já haviam tido brucelose. Seria muito prudente se, nessa região, fosse novamente adotada a vacina tradicional B19 na novilhada e que vacas adultas mais problemáticas fossem vacinadas com a RB 51, que está disponível no mercado, mas estranhamente é proibida pelas autoridades catarinenses. A vacina RB 51 pode ser aplicada em fêmeas adultas sem interferir nos testes para detecção de anticorpos que apontam a presença da bactéria.

No Rio Grande do Sul, o descaimento nos números parece ter sido por relaxamento da situação, visto que, no começo da campanha oficial, não apenas o governo estadual, mas boa parte dos municipais trabalharam duro para aliviar o problema. A quebradeira financeira do Rio Grande do Sul e, possivelmente, a descontinuidade política devem ter interferido no bom controle anteriormente realizado. São as mazelas brasileiras que ainda nos mantêm um gigante adormecido.

Além dos problemas técnicos, políticos e administrativos, outras causas biológicas e de manejo dificultam a erradicação da brucelose. Esses grandes levantamentos epidemiológicos também avaliaram os chamados fatores de risco, identificando, na maioria dos Estados, duas condições importantes para a manutenção da doença. A primeira é que rebanhos com mais de 50 reprodutoras, acima de 24 meses de idade, mais do que duplicam a chance de ter maior número de animais infectados. Essa condição está intimamente ligada à necessidade de maior compra externa de fêmeas para reposição, o que aumenta o risco em até sete vezes em comparação com rebanhos que não adquirem matrizes. Em outras palavras, muitas fazendas especializadas em venda de novilhas não as estão vacinando adequadamente, atuando como reservatórios da doença.

Sendo assim, somente compre fêmeas que acabaram de ser desmamadas (com menos de 8 meses), que ainda não tem risco de infecção, vacinando-as em seguida com B19, ou somente compre novilhas que você tem certeza absoluta de que foram vacinadas. No caso da compra de vacas adultas, acione seu veterinário de plantão para vaciná-las com RB 51. Jamais adquira fêmeas prenhes, pois caso já estejam contaminadas serão fonte certa de infecção do seu rebanho, caso abortem por brucelose.
A condição favorável à disseminação da doença é a compra de animais em leilões e feiras agropecuárias, que o pecuarista acredita piamente ser totalmente segura. No recente estudo de Tocantins, verificou-se que propriedades que fizeram isso quintuplicaram o risco de ter brucelose. Deus do céu!

Finalmente, gostaria de ressaltar o trabalho dos dois Mato Grosso, que diminuíram o número de fêmeas contaminadas em suas regiões de Pantanal. Em áreas alagadiças a bactéria maldita consegue sobreviver muito bem no ambiente úmido, quintuplicando o risco da doença. Nessas fazendas encharcadas, todas as providências para a prevenção da brucelose devem ser tomadas, com o surgimento de resultados positivos mais tardiamente do que em propriedades normais. Com uma ação conjunta de pecuarista e agentes de defesa, essa batalha consegue ser vencida. Comece fazendo sua parte e boa sorte!

Entenda a vacina RB 51

A B19 tem sido empregada desde o tempo do Zagaia, porém recentemente foi descoberta uma nova variante que passou a ser chamada de RB 51. Essa última apresentou algumas vantagens sobre a B19, por não provocar reações vacinais locais ou gerais, complicações no diagnóstico para diferenciar fêmeas vacinadas de doentes, e a possibilidade de imunizar fêmeas adultas. Por outro lado, produz uma proteção mais curta em comparação com a B19, exigindo re-vacinações. Jamais deve ser empregada em vacas prenhes, com o risco de provocar abortamento.
Alguns países passaram a adotar a RB 51 em 1996, mas o Mapa somente aprovou seu uso em 2016. Tal qual a vacina B19, a imunização com a RB 51 deve ser conduzida por veterinários credenciados junto ao Ministério. Sem dúvida, essa vacina deve ser usada em fêmeas adultas e vazias adquiridas para reposição e naquelas fazendas problemáticas, que não conseguem eliminar a brucelose devido à dificuldade de identificar vacas positivas para a doença, ou mesmo em campanhas, quer seja em uma região ou um Estado inteiro, quando a incidência é alta. Nesses casos especiais, a RB 51 parece ser mesmo “uma boa ideia”!

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