Capim elefante, boa alternativa de silagem

Longevidade, adaptação a áreas menos férteis e produção farta são as vantagens. Produtor de MG ensina como fazer.

Silagem de capim elefante. Grande desafio é a qualidade fermentativa da massa (Fotos: Embrapa Gado de Leite)
Por Fernanda Yoneya

Muitos pecuaristas aproveitam esta época para fazer silagem e, assim, garantir alimento para o rebanho leiteiro na seca. Além das opções de fornecer aos animais as já conhecidas silagem de milho ou de cana-de-açúcar, existe o capim como alternativa forrageira. O capim elefante, especificamente, pode ser adotado por produtores de leite para compor a dieta do rebanho e, se for bem manejado, garante uma elevada produtividade de matéria seca por hectare, entre outras vantagens.

Sócio-proprietário das Fazendas Reunidas Antônio Carlos Pereira e Filhos, no município de Carmo do Rio Claro, em Minas Gerais, Leopoldo Antônio Pereira explica que opta pela silagem de capim elefante em áreas de menor eficiência agronômica.


Segundo ele, essa forrageira, além de oferecer uma alta produtividade de matéria seca – até 200 toneladas de matéria verde por hectare -, apresenta características como alta longevidade agronômica (áreas com mais de 20 anos sem renovação), baixo risco climático (suporta melhor os veranicos) e excelente adaptação para climas tropicais de baixa altitude. Ela também produz corte em épocas diferentes da cultura do milho, o que otimiza o maquinário e equipe em períodos diferentes.

“De acordo com cada região e sua aptidão agronômica, nem sempre o que é melhor para a vaca é o melhor para o dono da vaca. Aqui na Região Sudeste, silagem de milho é uma das melhores opções para produtores de leite. Mas existem regiões que estão abaixo de 400 metros de altitude, o que se torna limitante para o desenvolvimento da cultura do milho atingir boas produtividades”, afirma.

“A topografia também é um fator limitante, pois influencia muito no custo de produção por dificultar e encarecer os processos operacionais que necessitam ser feitos anualmente. Por esses motivos, e estando no sul de Minas Gerais, optamos por produzir leite com silagem de milho, onde temos melhores condições de topografia, altitude e irrigação. Nas áreas de menor eficiência, a opção é a silagem de capim elefante”, conclui.

As Fazendas Reunidas 

Empresa agropecuária de gestão familiar, atualmente na terceira geração no comando da administração da propriedade, possui área de 2.500 hectares destinada à pecuária de leite, pecuária de corte (cria, recria e terminação), piscicultura, soja, milho, feijão, café e sorgo granífero (safrinha), além da cana-de-açúcar para produção de cachaça (Coração de Minas).

A área para produção de leite é de 520 hectares, com rebanho leiteiro de 3.725 cabeças, sendo 1.350 vacas holandesas em lactação e confinadas em free stall e 150 vacas Jérsey em pastejo. Com produção atual de 40.000 litros de leite por dia (o “pico” de 2016 foram 45.000 litros por dia e produção por área de 28.000 litros por hectare/ano), as Fazendas Reunidas são consideradas referência no setor leiteiro em termos de eficiência produtiva, com experiência de mais de 20 anos no fornecimento de silagem de capim elefante aos animais. Da área para produção de alimentos, são 350 hectares de milho para silagem, 120 hectares de capim elefante (cameron) também para silagem, 30 hectares de pastagem e 20 hectares de instalações.

“Para se ter sucesso na atividade leiteira e produzir leite de forma economicamente viável, o produtor precisa praticar uma agricultura eficiente, seja ela agricultura de pasto, de milho, de capim elefante, de alfafa”, explica.

“Como engenheiro agrônomo, posso afirmar que agricultura eficiente para leite é aquela em que você explora ao máximo o potencial de produtividade de um forrageira. Para que isso aconteça, é necessário associar a adaptação das variedades vegetais ao ambiente, clima, altitudes, temperaturas, topografia, índice pluviométrico, entre outros fatores”, diz Pereira, com experiência de mais de 30 anos como técnico e produtor de leite há mais de 55 anos.

Acertadas as condições de eficiência agronômica como produtividade e escolha da forrageira, é necessário saber como produzir e armazenar, na forma correta de silagem, essa forrageira. Segundo Pereira, é neste processo que ocorrem os maiores erros entre os produtores.

O produtor explica que toda silagem tem dois parâmetros de qualidade. Um desses parâmetros é a qualidade bromatológica, que são seus índices nutricionais como proteína e amido e que estão relacionados com a forrageira e sua fase vegetativa (ponto de corte). “A bromatologia de uma silagem pode ser alterada na dieta pelo nutricionista, acrescentando produtos que vão ajustar as deficiências nutricionais da forrageira”, diz o produtor.

O outro parâmetro é a qualidade fermentativa, considerada a “grande dificuldade” de algumas forrageiras. É, nas palavras de Pereira, uma qualidade que não pode ser modificada depois de pronta e que depende do processo de produção, com todas as suas etapas corretas. “Isso, normalmente, está a cargo do produtor e de funcionários da fazenda, que precisam gerenciar de forma eficiente todas essas etapas de produção da silagem”, diz o pecuarista.

“Uma silagem mal fermentada por erros nas etapas do processo de produção não tem conserto. Vai gerar baixo consumo pelos animais, baixa estabilidade de cocho e, consequentemente, baixa produção de leite com altos custos”, afirma Pereira.

“Silagem mal fermentada é uma das piores tragédias de uma propriedade leiteira. Plagiando um amigo, é caixão para o produtor de leite.”

Para Pereira, nas silagens de capim, o grande desafio está na qualidade fermentativa. “Por experiência própria, o processo de produção de silagem de capim com baixa qualidade fermentativa tem sido o principal problema para o uso dessa forrageira nas fazendas leiteiras. É muito comum ver silagem de capim mal fermentada, escura, fétida e com péssimo consumo pelos animais. Isso acaba por sacrificar uma forrageira de alta produtividade de matéria seca por hectare, alta adaptabilidade agronômica e baixo custo de produção, por erros no processo, que podem ser evitados, pois já existem tecnologias para isso como o uso de inoculantes de qualidade e assistência técnica competente”.

Os pesquisadores Antonio Vander Pereira e Mirton José Frota Morenz, da Embrapa Gado de Leite, destacam que os processos de ensilagem do capim elefante exigem os mesmos cuidados que a produção de outras silagens.

“Deve-se dar atenção especial à época ideal para a colheita, ao tamanho das partículas e à compactação do silo. Para obtenção de silagem de alta qualidade recomenda-se o corte do capim em partículas pequenas (1 a 2 centímetros) e a realização de boa compactação do material ensilado. E o uso de inoculantes para melhoria do processo fermentativo não promove aumento significativo do custo da silagem”, afirmam.

Atualmente, as Fazendas Reunidas produzem 20.000 toneladas de silagem de capim em 120 hectares. Em anos com chuvas bem distribuídas, conta Pereira, algumas áreas produzem até mais de 200 toneladas de matéria verde por hectare. “Com média de 22% de matéria seca (44 toneladas de matéria seca por hectare/ano), o que  mostra alta produtividade por área. Além disso, possuímos áreas com mais de 20 anos de implantação, indicativo de alta estabilidade agronômica.”

O produtor afirma que o capim elefante é uma cultura que exige altas adubações e, como em outras culturas, uma análise de solo bem feita é o que define correções e adubações precisas e reposição de matéria orgânica. Também é preciso fazer o controle de invasoras e pragas. Hoje, diz Pereira, a cigarrinha-das-pastagens é um dos principais problemas, mas é “controlável”. “Costumo dizer: não faço capineira, faço agricultura de capim cameron.”

Por causa da alta produção de matéria verde por área, o custo por tonelada de silagem tem sido em torno de 50% da silagem de milho, de acordo com o produtor. Em 2016, calcula, o custo ficou em R$ 45 por tonelada de silagem, em que foram computados todos os gastos nos três cortes, sendo dois cortes “bons” (60 a 70 toneladas por hectare) e um terceiro “médio”, entre 25 e 40 toneladas por hectare. “Fazendo uma conta simples, a silagem de milho tem custo em torno de R$ 35 por tonelada de matéria seca. Já a silagem de capim tem custo de R$ 9,90 por tonelada de matéria seca.”

Colheita. Cuidados com a silagem de capim elefante já começam nesta fase, com corte de partículas em tamanho ideal, ensina a Embrapa.

Pereira destaca, no entanto, que, embora a silagem de capim tenha custo menor do que a de milho, isso não significa que seu custo na dieta seja menor, pois são necessários os ajustes para equivalência nutricional. “Usamos para fazer ajustes nutricionais na dieta de capim a silagem de grão úmido de sorgo (produzido em safrinha na propriedade), polpa cítrica e até cevada, dependendo do custo da oferta.”

O engenheiro agrônomo Willian Pereira dos Santos, mestre em Zootecnia pela Universidade Federal de Lavras (Ufla) e doutorando em Ciência Animal e Pastagens pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP), lembra que a silagem de capim elefante é um alimento fibroso.

“Fibras de capim possuem baixa digestão no rúmen (40-60%) e, portanto, forneceram pouca energia se comparadas a alimentos que contenham grãos de cereais. Geralmente são utilizadas na dieta como fonte de fibra para atender a uma exigência do animal.”

Na propriedade, Pereira conta que usa a silagem de capim elefante em todas as categorias animais, exceto bezerras até cinco meses e vacas no pré-parto. “Em vacas em produção usamos em proporções variadas com a silagem de milho, de acordo com a dieta de produção. Em novilhas e vacas secas, quase só silagem de capim, o que tem proporcionado condições de ganho de peso para o primeiro parto aos 25 meses e um controle do escore de condição corporal, diminuindo o problema de vacas obesas.”

Segundo os pesquisadores Antonio Vander Pereira e Mirton José Frota Morenz, da Embrapa Gado de Leite, de modo geral, em função do menor valor nutritivo quando comparada à silagem de milho, a silagem de capim elefante é recomendada para animais de médio potencial de produção, ou para categorias menos exigentes como novilhas e vacas secas. Para animais com maior potencial de produção e, consequentemente, com maiores requerimentos nutricionais, torna-se necessária a suplementação com alimentos concentrados e até com outros volumosos de melhor valor nutritivo como, por exemplo, a silagem de milho.

“Em nosso sistema, a silagem de capim cameron bem feita e de excelente qualidade fermentativa tem sido uma alternativa viável para nosso processo de produção de leite, e acho que é uma alternativa viável para a atividade leiteira em várias regiões do Brasil. Como qualquer processo, possui vantagens e desvantagens, cabendo sempre ao produtor fazer a gestão de seu sistema aproveitando ao máximo as vantagens dessa forrageira.”

No final de 2016 a Embrapa Gado de Leite lançou a cultivar de capim elefante BRS Capiaçu, com produção de 50 toneladas de matéria seca por hectare/ano, obtidas pela soma de três cortes anuais, média de 30% a mais do que as cultivares disponíveis. “Comparada à silagem de milho, a silagem da BRS Capiaçu implica a necessidade de maiores quantidades de concentrado na dieta, o que é compensado pelo menor custo de produção. A alimentação pode representar até 60% do custo da atividade leiteira. A grande vantagem do uso do capim elefante é o menor custo da silagem, que pode resultar em maior margem de lucro ao produtor”, afirmam os pesquisadores Antonio Vander Pereira e Mirton José Frota Morenz, da Embrapa Gado de Leite.

A estimativa do custo médio da matéria seca da silagem de BRS Capiaçu, considerando-se três colheitas/ano, é de R$ 130,85/tonelada. Esse valor é 57% inferior ao custo de produção da silagem de milho, 42,3% da cana-de-açúcar e 43,7% do sorgo, segundo dados da Embrapa. “Por causa da alta produtividade da BRS Capiaçu, a silagem produzida com este capim apresenta menores custos de produção por hectare.”

O custo para o cultivo de 1 hectare da BRS Capiaçu foi estimado em R$ 4.474,18, a preços de junho de 2016. Os custos variáveis foram estimados com base nos gastos anuais de manutenção da lavoura e de três colheitas e ensilagem. Assim, o custo total por hectare é de R$ 6.178,98, para operação com colheita mecanizada, segundo os pesquisadores da Embrapa.

“O capim elefante é uma cultura perene e uma capineira bem manejada pode durar mais de dez anos. A produtividade é elevada e a qualidade da forragem é considerada boa. O uso da silagem da BRS Capiaçu para suplementação volumosa constitui uma alternativa de menor custo que as silagens tradicionais. O uso do capim na forma de picado verde também é uma boa opção, contudo o corte manual apresenta maior custo de mão de obra”, dizem os pesquisadores da Embrapa.

Silo-trincheira. Processo de compactação não difere muito do utilizado na silagem de milho e deve ter os mesmos cuidados.

A recomendação do agrônomo Willian Pereira dos Santos é que o produtor seja cauteloso e não tenha pressa. “Capins podem ser bastante produtivos desde que sejam corretamente implantados e bem manejados. Ideal é fazer um cronograma de trabalho adequado, com o auxílio de um técnico que conheça a cultura a ser adotada e as particularidades da propriedade e da região, para que o resultado final seja dentro do esperado.”

Dicas

O engenheiro agrônomo Willian Pereira dos Santos afirma que a confecção de silagens de capins são geralmente mais complicadas em comparação a silagens de milho. Segundo ele, é preciso ficar atento a três etapas do processo:

Teor de matéria seca – O principal limitante quanto à produção de silagem de capim se refere ao teor de matéria seca, que geralmente é muito baixo, já que a planta possui muita água.

“Pode-se fazer, com acompanhamento técnico, o uso de aditivos adsorventes como polpa cítrica, casquinha de soja e melaço, o que vai elevar o teor de matéria seca.”

Compactação – Cuidados devem ser tomados também na picagem da forrageira para que o tamanho da partícula favoreça a compactação. Partículas muito grandes dificultam a etapa de compactação.

Vedação – Após uma compactação bem feita, faça a vedação do material com lonas apropriadas. Atendendo a estes três conceitos (1º teor de matéria seca adequada, 2º compactação eficiente e 3º boa vedação), pode-se garantir uma boa silagem para fornecer aos animais. O uso de aditivo, seja microbiano ou químico, é benéfico, mas seu potencial de resposta também depende destas três etapas bem executadas. De nada adianta gastar com inoculante e não vedar o silo de forma adequada.

Auxílio gratuito ao produtor sobre forragens

Iniciativa do Programa de Educação Continuada em Economia e Gestão de Empresas (Pecege) do Grupo de Pesquisa em Qualidade e Conservação de Forragem da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq-USP), o Boletim da Forragem realiza um levantamento nacional de custos e caracterização da produção de volumosos.

O projeto tem orientação do professor Luiz Gustavo Nussio e o objetivo é orientar produtores de todo o País por meio da distribuição gratuita de informações técnicas e econômicas bimestralmente. Produtores participantes do projeto fornecem dados da propriedade e, com base nesse material, o boletim organiza as informações divididas por região, tamanhos da área de plantio, material genético, sistema de plantio, sistema de colheita, entre outros critérios.

Além disso, a equipe responsável pelo boletim cruza dos dados fornecidos pelos pecuaristas com custos de produção a fim de obter o custo-benefício dos volumosos usados nas propriedades leiteiras. Interessados em participar do projeto podem se informar pelo e-mail forragem@pecege.org.br ou pelo tel. (19) 3375-4250. O questionário pode ser acessado no endereço: http://goo.gl/forms/kad0fwTM82

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