Enquanto os brasileiros aguardam ansiosos a reabertura do mercado importador de carne bovina da China, os vizinhos argentinos comemoram o retorno, a partir da próxima segunda-feira (4/10), dos embarques de sua proteína vermelha ao gigante asiático.
Na última terça-feira (28/9), o governo da Argentina disse que os frigoríficos locais poderão voltar a vender carne bovina ao mercado chinês, levantando um limite imposto no início deste ano e que alimentou fortes tensões com os setores produtivos de carne e de grãos.
“Com relação à questão da carne bovina destinada à China, vamos reiniciar as exportações a partir de segunda-feira”, destacou o ministro da Agricultura, Pecuária e Pesca da Argentina, Julian Dominguez, após reunião com líderes de quatro associações agrícolas principais do país, segundo informou a Agência Reuters.
O governo argentino havia limitado os embarques de carne bovina a 50% dos volumes normais, uma medida polêmica que buscava conter o avanço acelerado dos preços internos da proteína, o que resultou em protestos por parte de fazendeiros, produtores e entidades agrícolas, que ameaçaram interromper o comércio local de gado e de grãos.
Essa decisão de reabertura ocorreu na esteira dos resultados das eleições argentinas, realizada em 12 de setembro.
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Dominguez assumiu o cargo de ministro da Agricultura no início deste mês, depois que o governo do presidente de centro-esquerda Alberto Fernandez perdeu gravemente uma eleição primária para o Congresso, provocando uma cisão no partido governista peronista e uma remodelação do gabinete, informa a Reuters.
Analistas dizem que a China compra principalmente um corte de carne bovina que não é popular no mercado doméstico argentino.
A Argentina é o quinto maior exportador de carne bovina do mundo, enquanto a China é o maior consumidor mundial da carne.
Devido às restrições anteriores às exportações de carne bovina argentina, os volumes de exportação do país caíram 33% em agosto, em comparação com o mês anterior, de acordo com dados do Meat International Group, da China.
Segundo análise do portal australiano Beef Central, a saída temporária dos fornecedores sul-americanos (Brasil e Argentina) deixou um grande vazio no fornecimento de carne bovina importada da China.
A China respondeu por 76% das exportações de carne bovina da Argentina entre janeiro e agosto deste ano.
No acumulado até agosto/21, a Argentina respondeu por 21% das importações chinesas de carne bovina, perdendo apenas para o maior exportador, o Brasil, que deteve participação de 38% em igual período de comparação.
Quase quatro semanas se passaram desde a suspensão voluntária imposta pelo governo brasileiro (conforme acordo bilateral entre os dois governos) aos embarques de carne bovina à China, depois da confirmação, em 4 de setembro, de dois casos atípicos de vaca louca (Encefalopatia Espongiforme Bovina – BSE, na sigla em inglês) no Brasil (em Minas Gerais e no Mato Grosso).
Muitos analistas do setor pecuário previram uma retomada do comércio à China depois de quinze dias de suspensão, com base nos eventos que ocorreram na última vez em que o país relatou um caso de BSE, em 2019, no Mato Grosso.
Os analistas do comércio de carne da China estão preocupados com o atual impasse comercial entre o Brasil e a China, dizem os consultores.
“No momento, devido à expectativa de escassez de oferta, os preços da carne bovina importada continuam subindo”, disse o Meat International Group, da China. “A suspensão temporária do Brasil em 4 de setembro pode causar maior incerteza para o abastecimento do mercado futuro”, acrescentou o grupo.