A pandemia de Covid-19 e avanço do vírus da peste suína africana no rebanho de porcos da China trouxeram alterações profundas no consumo de carnes da população chinesa, que passou a demandar quantidades cada vez maiores de cortes bovinos e de aves, em substituição aos produtos de origem suína.
Tais mudanças no hábito alimentar serão mantidas mesmo depois de vencidos os problemas gerados pelas duas crises sanitárias, o que manterá o Brasil na linha de frente do fornecimento mundial de proteínas animais para gigante asiático.
Pelo menos é o prevê a experiente analista chinesa de proteína animal do Rabobank China, Pan Chenjun, sediada em Hong Kong, que conversou sobre o tema com Wagner Yanaguizawa, também analista do banco de origem holandesa e representante da instituição no Brasil.
“Com o quadro de escassez de oferta de carne suína no mercado chinês e a disparada nos preços locais dessa proteína, muitos consumidores passaram a consumir mais carne bovina, além de frango”, relata Chenjun.
Paralelamente, a pandemia da Covid-19 acelerou as compras online de cortes bovinos, estimulando o consumo da proteína vermelha dentro dos lares. Segundo a analista, anteriormente à crise do novo coronavírus, os chineses tinham o hábito de consumir a carne bovina em restaurantes.
“Depois da Covid-19 e do surto da peste africana, parte desse hábito (de maior consumo de carne bovina, em detrimento da suína) permanecerá”, acredita ela.
Para reforçar a previsão de Pan Chenjun, o analista Wagner Yanaguizawa lembrou que, nos últimos anos, o consumo per capita de carne bovina tem apresentado tendência de alta na China, “não só pelo aumento das classes econômicas A e B”, mas também pela explosão dos preços da carne suína (devido à queda brusca na oferta), o que tornou “a carne bovina mais competitiva”.
Há um outro importante fator que justifica a previsão dos analistas de que a China continuará altamente dependente da carne bovina importada, sobretudo do Brasil, o maior fornecedor mundial da commodity ao país asiático.
Trata-se, diz Chenjun, da própria dificuldade dos pecuaristas chineses em expandir a produção local, que crescerá em 2021, mas em ritmo inferior à demanda interna pela proteína vermelha.
“A China não tem recursos suficientes para expandir a pecuária de corte, já que as normas vigentes de proteção ambiental é uma prioridade para o governo, então há muitas restrições para formação de novas áreas de pastagem”, afirma ela, acrescentando que prevê, com isso, um aumento das importações chinesas.
Chenjun enxerga como “muito desafiadora” a situação sanitária vivenciada pelos produtores de carne suína da China, devido às notificações de novos surtos de peste suína africana em algumas regiões do país.
“Com isso, o crescimento da produção chinesa de carne suína será mais lento em relação à nossa previsão anterior divulgada no final do ano passado”, relata a analista, acrescentando que o Rabobank projeta um aumento de 8-10% na oferta dessa proteína na comparação com o resultado em 2020.
Segundo Chenjun, apesar das perdas registradas atualmente no rebanho suíno – devido ao ressurgimento de casos de peste suína africana no país asiático –, o tamanho atual do plantel de porcos ainda é um pouco maior em relação ao mesmo período do ano passado, ou seja, “acreditamos que a reposição das matrizes no segundo semestre de 2020 foi maior que as perdas no plantel ocorridas no último inverno”, ressalta.
ASSISTA AQUI o bate-papo entre os dois analistas do Rabobank