Na segunda metade dos anos 90, durante o período de formação da “bolha da internet”, o então presidente do Federal Reserve (Fed, o Banco Central dos EUA), Alan Greenspan, cunhou o termo “exuberância irracional” para se referir à forte apreciação dos ativos financeiros. Na virada dos anos 2000, a bolha estourou, validando as previsões pessimistas do economista norte-americano.
Em artigo publicado nesta quarta-feira pelo portal Meatingplace, a editora da versão impressa do veículo informativo, Lisa M. Keefe, sugere que pode estar surgindo uma bolha no mercado mundial de alimentos, a partir do atual movimento de ascensão das empresas ligadas à produção de hambúrgueres (entre outros produtos “naturebas”) à base de vegetais, que buscam imitar o sabor e a textura da carne moída convencional.
A editora chama atenção para a dinheirama derramada recentemente no setor de carnes alternativas. Foram “US$ 300 milhões para a Impossible Foods; outros US$ 241 milhões para a Beyond Burger (por meio de sua IPO, oferta pública inicial de ações); e US$ 12 milhões (parte destinada pela Cargill) para a empresa israelense Aleph Farms, uma companhia de tecnologia ainda sem produtos disponíveis no mercado.
“Pense no que esse tipo de investimento pode significar para o processador de carne comum”, reflete a colunista, que acrescenta: “É o suficiente para fazer você se perguntar se algum dia seus netos perguntarão, espantados: ‘Você realmente costumava comer carne de um animal?'”.
No entanto, segundo escreve Lisa, basta um minuto de reflexão sobre o assunto para se chegar à conclusão de que o atual movimento em torno das empresas de produtos de carnes “falsa”, à base de plantas, passa a sensação de um “déjà vu desconfortável”, parecendo uma “exuberância irracional”, continua a editora, “roubando” a frase Alan Greenspan.
Lisa diz que o crescimento de dois dígitos visto nesse mercado (de carne alternativa à base de vegetais)”, bem como as elevações desenfreadas das ações dessas empresas e as declarações sem fôlego sobre como salvar o planeta, “chegarão ao fim”.
Quando isso ocorrer, continua ela, o setor de carnes alternativas encontrará o seu nicho permanente no mercado de alimentação.
“Algumas empresas de carnes (“verdadeiras”, de origem animal) são investidores e, se apostarem nos cavalos certos, terão diversificado seu portfólio de proteínas e expandido a sua base de clientes”, diz a editora, acrescentando que alguns processadores já aumentaram os seus negócios ao investir justamente em produtos alternativos à base de plantas.