Plataforma digital só precisa de algumas informações de campo para apontar quais decisões podem trazer os melhores resultados
Por Ariosto Mesquita
O que leva um profissional a abrir mão de uma carreira bem-sucedida, com boa remuneração, à frente de um grupo empresarial sólido da pecuária brasileira, para começar um negócio “do zero”? Essa certamente foi a pergunta que muitos fizeram ao final de 2020, quando Paulo Dancieri, então principal executivo da Coimma (especializada em troncos, balanças e tecnologia para o agronegócio), pediu demissão para tocar sua própria empresa: a então desconhecida startup Bovexo.
Hoje, ele próprio responde: “A contribuição que eu posso oferecer atualmente para a pecuária e para a minha satisfação pessoal é maior produzindo ciência e tecnologia. Foi uma decisão de risco, mas ao mesmo tempo estimulante e recompensadora”.
Quase um ano depois, a guinada de Dancieri se desenha bem planejada e estratégica. Sua startup, criada em 2019 em sociedade com o administrador Carlos Jorge Pinto Gomes, começou em 2021 a ocupar uma lacuna de mercado que ele vislumbrou enquanto comandava a Coimma e comercializava, dentre outras coisas, a balança de passagem (Balpass), tecnologia de pesagem de animais a campo, desenvolvida na Embrapa Gado de Corte (Campo Grande, MS).
Sua angústia vinha da percepção de que a imensa maioria das ferramentas digitais disponíveis no mercado captava informações, mas não as tratava. Nesta situação, pelo seu ponto de vista, o pecuarista recebia dados sem o acompanhamento de subsídios sobre o que fazer com eles, pois não havia uma análise interpretativa e preditiva do processo produtivo.
“A Bovexo é uma plataforma digital construída para fazer com que o pecuarista tome decisões mais assertivas e aumente sua margem de lucro. É uma espécie de cérebro que processa informações para deixar o produtor livre para cumprir sua principal rotina, que é pesar seus animais. Esta é a informação mais significativa que ele tem de injetar. A partir dela, o sistema vai fazendo as recomendações”, explica.
A ferramenta foi testada ao longo de 2020 e chegou definitivamente ao mercado em fevereiro deste ano. Até meados de agosto, segundo Dancieri, a Bovexo atendia uma clientela detentora de 40.000 animais (15% em confinamento e 85% a pasto). Quem contrata o serviço paga uma licença de uso cujo valor (não divulgado por ser estratégico) é determinado em R$/cabeça/mês. A taxa mínima é de um salário mínimo para uso em até 100 cabeças.
“Não há contrato estipulado em meses. Não amarramos fidelidade. O produtor deve usar a Bovexo enquanto for útil para ele”, garante o empresário.
Como funciona
Este cérebro digital (que pode ser alimentado e atualizado) funciona como um acumulador de premissas zootécnicas, detalhes genéticos das principais raças e de informações gerais sobre as variáveis que influenciam a atividade pecuária.
“A Bovexo utiliza inteligência artificial (base de algoritmos) para apontar os caminhos para o pecuarista. Não é uma ferramenta de gestão e não usa machine learning”, avisa Dancieri se referindo ao “aprendizado de máquina”, que é a capacidade dos computadores em ‘aprender’ sem terem sido necessariamente programados.
Além dos aspectos internos relacionados à propriedade, a Bovexo é alimentada com informações externas de mercado. “Hoje trabalhamos com a curva de preço futuro em parceria com a Carta Pecuária”, informa, referindo-se ao informativo elaborado por Rogério Goulart, de Dourados, MS. O instrumento usa o conhecimento de seus algoritmos para processar muitas variáveis, apontando caminhos para as decisões do pecuarista.