Chuvarada histórica reduziu ataques de bernes e mosca-dos-chifres, por Enrico Ortolani

Com quase 500 ml de chuva em fevereiro, contagem em propriedade vizinha a São Paulo registrou queda drástica na infestação

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Enrico Ortolani – professor titular da FMVZ-USP, médico veterinário e colunista da Revista DBO  – ortolani@usp.br

Acabamos de bater um novo recorde histórico na região sudeste, em especial no estado de São Paulo. A cidade de São Paulo registra sua temperatura e pluviosidade desde 1943. Pois, desde então, fevereiro de 2020 bateu todos os recordes de chuva nestes últimos 77 anos.

Enquanto que a média histórica no mês carnavalesco é de 249 mm, este ano praticamente dobrou (497 mm). Num único dia choveu 114 mm, uma barbaridade! Chove em média por ano 1340 mm na capital paulista. Conta-se em média 16 dias de chuva, em fevereiro, mas este ano saltou para 23, sendo ininterrupta a chuvarada por uma série de seis dias.


Fevereiro acabou de se despedir. Para muitos ele trouxe tristeza, em especial para as vítimas de enchentes pelos vários estados. Porém, para boa parte da população foi motivo de alegria. Muitos reservatórios de água relativamente vazios foram abarrotados prometendo a não falta de água no período de estiagem. Com as represas cheias a conta de luz passou do vermelho para o verde, implicando numa conta mais baixa.

Porém, festa maior faz o pecuarista dessas regiões. As pastagens estão mais abundantes, o que tem feito o criador manter seu gado no campo, diminuindo a oferta e obrigando os frigoríficos a manterem os bons preços da arroba.

No entanto, outro ganho ao pecuarista está vindo da súbita redução nos ectoparasitas, em especial, na infestação de bernes (Dermatobia hominis) e de mosca-dos-chifres (Haematobia irritans). Quinzenalmente, peso a boiadinha de recria e engorda, conto os bernes no corpo todo e a população de mosca-dos-chifres no “fio do lombo”, em minha pequena propriedade a 85 km da capital paulista. Faço essas operações entre 7h30 min e 9 horas da manhã.

O sítio está situado num local muito apropriado ao ataque de bernes, pois tem altitude média de 830 m (o ideal para o berne é acima de 600 m); numa área muito acidentada e com 35% de matas de encosta, o que é fundamental para a sobrevida da mosca adulta da Dermatobia hominis; umidade média de 70% (o ideal é superior a 60%), 23º C de média de temperatura anual (o ideal é de 25º C) e de noites bem frias. A pluviosidade média no sítio é em torno de 1200 mm anuais. Teoricamente, chuvas acima de 100 mm a 300 mm mensais são bem favoráveis à infestação dos bernes na boiada, mas quantidades superiores a 300 mm parecem interferir negativamente na sobrevivência da larva da mosca do berne no solo encharcado.

Desde 2001 já foi constatado nesse local a mosca-dos-chifres, a qual aumentou em cerca de 25% quando foi introduzido sangue Angus (25%) na vacada, em 2015. Porém, a presença de Haematobia irritans é bem menor que em regiões mais quentes do Brasil.

Dados meteorológicos, mais próximos da propriedade, registram que em dezembro (2019) choveu 120 mm, em janeiro 250 mm e em fevereiro 440 mm. Fiz meus controles no gado nos dias 5 e 20 de janeiro, 5 e 22 de fevereiro e o último no dia 6 de março de 2020. Trato todos os bovinos que têm mais de cinco bernes, com produtos pour on bem eficientes. Não medico contra mosca-dos-chifres.  Nessas contagens considerei o número de tratamento contra os bernes e a contagem de moscas nos mesmos 40 bovinos. Vamos aos resultados em porcentagens dos tratados e da contagem média de mosca-dos-chifres: dia 5/01: 30% e 40 moscas; 20/01: 62,5% e 38 m.; 5/02: 32,5 % e 28 m.; 22/02: 15% e 12 m.; 6/03 5% e 4 m.

Os números são claros em indicar que a chuvarada diminuiu as populações de moscas-dos-chifres e de bernes nas últimas duas contagens. Comecemos com a redução de moscas-dos-chifres. A fêmea dessa mosca coloca seus ovos exclusivamente nas fezes dos bovinos. Para que haja a sobrevivências das larvas é necessário que a placa de fezes mantenha uma capa protetora fornecendo um ambiente úmido e sem luz solar. Porém, chuvas torrenciais ou contínuas desfazem esse bolo fecal e expõem as larvas à dessecação, levando-as à morte.

Dois fatos podem nos ajudar a compreender a redução do número de bernes. O mais provável é a rápida queda do número de moscas-dos-chifres no ambiente. A mosca adulta do berne vive muito pouco e morre. Para perpetuar sua existência a fêmea grávida pula sobre outras moscas menores e deposita seus ovos larvados no abdômen destas. Os ovos ficam grudados na barriga dessas moscas até o momento que elas pousem na pele dos bovinos. As larvinhas do berne imediatamente saem dos ovos e se aderem à pele das reses, infiltrando no couro logo em seguida.

Entre as principais moscas que transportam os ovos estão a mosca doméstica, a mosca-dos-chifres e a mosca dos estábulos. Em minha propriedade, a frequência de mosca dos estábulos é bem baixa, sendo responsáveis pela transmissão das larvas do berne as duas primeiras citadas.

A segunda hipótese da diminuição do número de bernes está ligada ao encharcamento do solo. Choveu tanto que a sobrevivência das larvas de berne nesse meio foi provavelmente pequena. Porém, o ciclo da mosca do berne, no melhor dos cenários, é muito mais longo (78 a 80 dias) que o da mosca-dos-chifres (21 dias) indicando que a redução do número de moscas-dos-chifres tenha uma influência maior na redução dos bernes, que o encharcamento.

Qual será o tempo que os bernes e as moscas-dos-chifres se manterão reduzido na boiada? Não tenho uma bola de cristal para prever o futuro.  Vai depender principalmente do quanto vai chover neste mês de março, da real interferência dessa chuva nas placas de fezes e da continuidade do encharcamento. Vamos monitorar para informar num futuro próximo. Até lá e muita sorte no engorde ou multiplicação de sua boiada!

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