Com a forte demanda chinesa por proteína animal após as perdas observadas no país devido à peste suína africana, o aumento dos preços de suínos e aves no Brasil é “natural”, segundo observou Francisco Turra, presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA).
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Segundo dados divulgados pela ABPA, as exportações brasileiras de frango em abril somaram 338,9 mil toneladas, avanço de 34,9% ante igual período do ano passado. A China foi o principal destino em abril e no acumulado do ano, respondendo por 11,7% desse montante, e com isso superou a Árabia Saudita (maior importador até então).
Com isso, o valor médio do frango vivo calculado pelo Cepea ficou em R$ 3,45 o quilo em abril, alta de 10,2% ante março e de 48% ante igual período do ano passado, atingindo o maior patamar desde dezembro de 2015. No varejo, o Cepea apontou a valorização de todos os cortes acompanhados pela instituição, “exceto aqueles que são menos demandados para exportação”.
No caso da carne suína, a ABPA aponta a exportação de 58,1 mil toneladas em abril deste ano, aumento de 44,3% na comparação com o mesmo mês de 2018. Assim como o frango, a China se tornou o principal comprador do produto brasileiro este ano, respondendo por 27,7% do volume exportado em abril e desbancando a Rússia, até então a maior importadora da carne suína brasileira.
Em relação aos preços, Turra explica que só não houve alta expressiva observada em abril devido à menor elasticidade da cadeia, com prazos de abate maiores que o do frango (onde o ciclo de engorda dura menos de dois meses).
Segundo o Cepea, a carcaça especial suína negociada na Grande São Paulo registrou alta de 3,23% de 30 de abril a 8 de maio, com o quilo passando para a média de R$ 6,60 nessa quarta-feira. Paralelamente, as exportações para a China cresceram 22,3% de março para abril.
“As expectativas dos próximos meses são de volumes ainda mais expressivos, ao ponto de o Brasil ter uma oferta interna limitadíssima”, observa Turra ao descartar um desabastecimento no mercado interno e ressaltar uma maior força das importações chinesas a partir do segundo semestre.
A previsão da ABPA é de que as exportações brasileiras de carne suína cresçam 20% este ano e as de aves avancem mais de 10% no mesmo período. Desse modo, a alta das vendas internacionais até o momento é vista como “apenas o começo” do que está por vir.
“É uma oportunidade para o Brasil crescer e se consolidar como fornecedor chinês porque esse problema não vai ser resolvido num curto espaço. Os chineses estão abatendo muitas matrizes”, ressalta o presidente da ABPA. Segundo ele, o país levará pelo menos três anos para recompor a sua oferta interna.
Ainda de acordo com Turra, abatedouros que até então encontravam-se fechados têm retomado suas atividades tanto com aves quanto com suínos com o intuito de atender um déficit de cerca de 12 milhões de toneladas no mercado chinês.
“Trata-se de uma crise muito significativa, totalmente diferente do que aconteceu em outros anos, porque atingiu o maior rebanho suíno do mundo. O que observamos em abril foi apenas uma amostra, com a China tornando-se o principal destino de aves e suínos do Brasil”, explica Turra.