O professor titular da FMVZ-USP e colunista da Revista DBO, Enrico Ortolani, fala sobre a prevenção da raiva bovina, causa de estimadas 30 mil a 40 mil mortes de reses por ano no Brasil
Enrico Ortolani – professor titular da FMVZ-USP, médico veterinário e colunista da Revista DBO – ortolani@usp.br
Inicio com o ditado popular: “prevenir é melhor do que remediar”. A prevenção da raiva deve ser feita em dois planos: o primeiro focado na epidemiologia, que analisa os riscos, os focos e as regiões onde a doença campeia ou acabou de aparecer; o segundo, dentro de cada propriedade. Enquanto, no primeiro, as avaliações devem ser feitas “com drone”, ou seja, olhando do alto, o segundo deve ser averiguado “com lupa”, investigando-se as condições de seu rebanho e do meio ambiente. O sucesso do controle somente ocorre se os planos interagirem entre si.
Vamos trocar em miúdos. No plano maior, devem atuar o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e os Serviços Estaduais de Defesa Animal. Teoricamente, o Mapa coordena tudo e dá as diretrizes por meio do Programa Nacional de Controle da Raiva dos Herbívoros (PNCRH), além de fiscalizar e auditar as atividades nos Estados, podendo fornecer apoio financeiro a estes, para tal combate.
Aos Estados cabem as tarefas mais difíceis: a execução do plano, por meio da vigilância e atendimento técnico às propriedades que têm surto; controle e fiscalização da vacinação emergencial; ações de educação sanitária; monitoramento e controle da população de morcegos em abrigos; encaminhamento de amostras para o diagnóstico em laboratórios credenciados e informação dos dados ao Mapa. Ufa!
Falta coordenação
O Programa foi bem elaborado, as tarefas de cada um dos integrantes são bem claras, mas tal qual ao combate nacional à Covid-19, o sistema carece de eficiência. Parece um pouco o “golpe da pirâmide”, que estoura no elo mais fraco: os Estados. Aqueles menos estruturados e organizados simplesmente deixam de fazer suas tarefas e o Mapa finge que elas foram cumpridas. Citei, no artigo anterior, alguns Estados que não detectaram nenhum ou apenas um único foco de raiva em 2019, considerando-se que a grande maioria subnotificou esses focos. A detecção de vírus em morcegos é bem pouco feita Brasil afora.