Exatos 48 dias separam as análises de viabilidade econômica para os confinamentos em diversas regiões no País. No entanto, entre uma e outra, um fator foi definitivo para o revés na atividade de engorda intensiva de gado em Mato Grosso do Sul e no Pará: a redução de R$ 13,60 do preço da arroba no contrato futuro (setembro de 2021).
Originalmente a análise do zootecnista Rogério Marchiori Coan, da Coan Consultoria, de Ribeirão Preto (SP), foi publicada na edição da revista DBO de junho, com um valor da arroba R$ 338 (28/05/2021).
Na sexta-feira (16), no programa DBO em Foco, Coan apresentou os dados revisados com a cotação de um dia antes (15/7), R$ 324,40.
Confira aqui o estudo revisado (arquivo PDF)!
“Imagina um boi de 20 arrobas, com cerca de R$ 14 reais a menos. Nós estamos falando de R$ 280 a menos de margem operacional e isso impacta muito a viabilidade da operação”, diz Coan.
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Além do consultor de Ribeirão Preto, o programa contou com a participação do economista agroindustrial Thiago Bernardino de Carvalho, pesquisador e analista de pecuária do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), de Piracicaba (SP). O programa DBO em Foco traz sempre convidados que participaram de reportagens e artigos publicados na revista.
Razões do prejuízo
O fator do preço é o que chama mais a atenção na análise de viabilidade. No entanto, outros fatores também contribuem para que o panorama do 1º giro do confinamento se tornasse mais desafiador em propriedades sul-mato-grossenses e paraenses.
Entre eles, estão a manutenção dos preços dos insumos em patamares elevados, a pressão pela falta de disponibilidade de insumos no próprio Estado e o diferencial do preço da arroba nos Estados.
A análise de Rogério Coan considerou 5 possíveis cenários: dois de preços menores ao da arroba contratada; dois de preços acima da arroba; e um fixado no preço do contrato futuro. A situação é pior em Mato Grosso do Sul e no Pará justamente num cenário em que a arroba está cotada como foi fixada no contrato futuro.
Em Mato Grosso do Sul, os confinadores teriam um prejuízo de R$ 137,48 por animal vendido; enquanto no Pará as perdas seriam maiores – R$ 246,99 a menos por bovino.
Por outro lado, Mato Grosso, São Paulo, Minas Gerais e Goiás registrariam as melhores condições de negócios, com lucro por animal vendido de R$ 334,69, R$ 270,23, R$ 244,66 e R$ 209,71, respectivamente.
“Estados como Mato Grosso e Goiás são tradicionalmente os maiores produtores de grão e são operações que permanecem com menor ociosidade, ou seja, permanecem ao longo do ano mais cheios e por isso o custo operacional por cabeça/dia é baixo”, diz Coan.
O que esperar do 2º giro?
Para Carvalho, o cenário ainda está um tanto nebuloso para o 2º giro do confinamento este ano, por conta da tendência de alta dos insumos, bem como sobre a oferta de animais de reposição.
“Se esse ano houver um crescimento no confinamento, será muito pouco”, avalia Carvalho.
É em momentos como esse que o pecuarista tem de se atentar cada vez mais num planejamento mais apurado e ter os seus custos na palma da mão. Para ele, só desta maneira os pecuaristas poderão se sobressair.
“A atividade não cabe mais amadorismo. Se a gente já vinha falando a muito tempo sobre a necessidade de se profissionalizar, a cada vez mais, o espaço realmente vai ficando pequeno para quem se aventura sem planejamento”, frisa o pesquisador do Cepea.
Confira a entrevista na íntegra: