Quem formula a dieta no seu confinamento: o nutricionista, o tratador ou o boi?

Ou melhor, já ouviu a famosa expressão: “a dieta formulada precisa ser a mesma que será produzida, a mesma que será distribuída no cocho e a mesma que será consumida pelos animais”?

Essa expressão deixa claro que o sucesso do confinamento depende da eficiência dos processos envolvidos, da formulação até a boca do animal.  No dia a dia da operação de confinamento, existem 3 processos que devem ser monitorados constantemente: o carregamento dos ingredientes nos vagões misturadores, a distribuição no cocho e o consumo da dieta pelos animais. 


Levando em consideração que todo processo é passível de desvios, como bons gestores da operação, precisamos monitorar e conhecer esses valores, assumindo ações corretivas sempre que a variação oscilar fora da faixa aceitável imposta. Pare e pensem um pouco!

Por que é comum nos depararmos com algum lote ou curral que está ingerindo a mesma dieta que os demais, mas não desempenha da mesma maneira? Ou ainda, por que os ganhos diários ao final do período de confinamento não corresponderam com o que foi planejado? 

As respostas de sempre são: a nutrição que não foi bem planejada; o aditivo alimentar que não correspondeu com o esperado; ou até mesmo, a dieta que não estava bem balanceada… enfim, estas são as primeiras suposições que vem à cabeça dos produtores. 

Pois bem, será que a dieta formulada foi a mesma que os animais consumiram? A quantidade ofertada foi a mesma predita pelo sistema? Quais foram as variações entre o predito e realizado em cada uma das etapas do processo de produção e distribuição? 


Do software de formulação para as produções dos vagões:  

Grande parte das fazendas misturam os ingredientes que compõe as dietas em vagões misturadores, estáticos ou vagões distribuidores, sendo os ingredientes inclusos através de pás carregadeiras ou esteiras automáticas, o que pode dificultar a precisão do carregamento, principalmente os ingredientes de baixa inclusão. 

Outro ponto importante nas produções dos vagões é o tempo de mistura, pois a dieta precisa estar homogênea, para que todos os cochos recebam a mesma composição. Nesse processo, além do tempo de mistura que o nutricionista indica para cada dieta, também precisamos estar atentos à ordem de carregamento dos ingredientes, pois a ordem correta facilita a mistura dos ingredientes. Dietas que possuem inclusão de água devem ter mais atenção com o tempo de mistura, para ter homogeneidade da dieta e de matéria seca. 

Das produções dos vagões ao descarregamento nos cochos: 

O consumo de matéria seca é um dos pilares para o bom desempenho dos animais; “Boi que não come, não ganha peso”. 

Porém, como é feita a distribuição da dieta no cocho, ou melhor, quem define a quantidade descarregada por piquete: o tratador, com base no seu sentimento; ou software/planilha do Excel, com base nas notas de escore de cocho? 

Hoje em dia, é imprescindível adotar a prática do manejo de cocho através de leituras do escore de sobras, ajustando o que será fornecido para os animais e evitando desperdícios de dieta. 

Além de evitar desperdício, o manejo de cocho deve, também, ter como objetivo construir uma curva suave de consumo de matéria seca pelos animais, minimizando as chances de ocorrência de disturbios metabólicos e contribuindo diretamente para melhorar a eficiência de ganho. 

Quando as notas de escore de cocho não são respeitadas (ou não são bem-feitas), as leituras de escore se tornam ineficientes para auxiliar nos ajustes dos consumos, dando origem a curva de consumo de matéria seca não desejada, semelhante a um eletrocardiograma, influenciando negativamente no desempenho dos animais. 

Mais uma vez, o monitoramento do desvio entre o que foi planejado e o que realmente foi fornecido no cocho se torna um aliado indispensável para controle desse possível gargalo da atividade. 

Lembre-se que as pessoas se comprometem mais com aquilo que elas reconhecem a importância. Sendo assim, realizar treinamentos para explicar como e porquê fazer, assim como, quadros de gestão à vista, são ferramentas indispensáveis na gestão da rotina do confinamento. 


Dos cochos até a boca dos animais: 

Bovinos são animais com consumo seletivo, chamando a atenção para o tempo de mistura e homogeneidade da dieta que está sendo ofertada no cocho. 

Tamanho das partículas, densidade dos ingredientes, sequência de carregamento, tempo de mistura e a distribuição ao longo do cocho, são fatores que podem afetar a seleção pelos animais. 

Quanto mais homogênea a dieta, menor a chance de seleção dos animais, levando-os a consumirem uma dieta muito próxima da que foi produzida. Ingredientes com partículas e densidade distintas da maior parte dos demais ingredientes da dieta favorecem a seleção dos animais: ou eles consumirão apenas aquele ingrediente ou o deixarão. Quando houver esse tipo de ingrediente, alguns ajustes no manejo de produção e distribuição precisam que ser ajustados. 

Essencial avaliar a homogeneidade da dieta durante o percurso de distribuição, além de verificar se ela está homogênea em cada cocho. É importante que todos os cochos recebam o mesmo padrão de dieta. 

Gerindo a operação 

Como parte de todos os processos descritos, os desvios estarão presentes. Cabe a nós, com auxílio de ferramentas de gestão, quantificarmos essas variações e assumirmos medidas para minimizá-las, permitindo correções durante o período de confinamento. 

Consideramos desvios “normais” até 3% do previsto para o realizado; entre 3 e 5% o sinal de alerta deve ser aceso e; acima de 5% o processo de produção de dieta precisa ser analisado com mais cautela. 

Avaliar os desvios de produção e de fornecimento das dietas passou a ser primordial nas operações de confinamento, principalmente em anos que os custos alimentares dos confinamentos estão ficando mais elevados e as margens mais apertadas, cabendo aos nutricionistas brasileiros traçarem estratégias nutricionais com coprodutos e níveis adequados para que o desempenho seja satisfatório e lucrativo. Um desvio de 5% pode alterar todas as estratégias que foram tão bem pensadas e trabalhadas por esse profissional, limitando o desempenho dos animais e refletindo na saúde financeira da operação. 

Os desvios ocorrerão, pois são parte constante dos processos que não conseguimos controlar 100%. No entanto, os índices de desvios estão disponíveis para auxiliar e identificar os gargalos, reduzindo ao máximo as perdas dos processos. Com os desvios em mãos conseguimos fazer a gestão desses números, ter maior aporte nas tomadas de decisões e incentivar os colaboradores da operação. 

Os softwares de gestão dos confinamentos estão cada vez mais criteriosos em fornecer informações sobre os possíveis desvios. Fornecendo informações mais robustas, como produções por trato ou até mesmo chegando ao detalhe de produção de cada vagão realizado, além de apontar qual dieta cada piquete recebeu. Ao mesmo passo, os nutricionistas e produtores estão mais atentos a esses índices na gestão de rotina de suas operações de confinamento. 

Independente de como será feito o controle, lembre-se que: treinamento e monitoramento são fundamentais para o sucesso da gestão da rotina no confinamento. 

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