Desafios da cadeia produtiva da carne bovina são debatidos na Farsul

Apesar das tentativas de regionalizar as dificuldades, participantes de encontro no RS tiveram mais oportunidades para identificar a amplitude nacional das questões e que a integração não é uma utopia

Continue depois da publicidade

Por Ivaris Júnior

Reunir todos os seus elos em uma única sala para discutir a relação já é possível. Tal maturidade foi observada no inédito “Fórum da Cadeia Produtiva da Carne Bovina do Rio Grande do Sul”, de iniciativa do Instituto Desenvolve Pecuária, da Federação da Agricultura do RS (Farsul) e do Núcleo de Estudos em Sistemas de Produção de Bovinos de Corte e Cadeia Produtiva (NESPro), com organização conjunta e realização no anfiteatro da federação. O encontro em 7 de julho foi presencial, mas ainda pode ser contemplado no canal do instituto, no YouTube.

Nessa sala, agentes de renome da pecuária, indústria, varejo e pesquisa deixaram posições e desafios; alguns, após um ou outro ajuste, podendo integrar uma pauta maior e quem sabe servir como base para um avanço comum.


Ao final do dia, o evento estabeleceu um grupo de trabalho constituído pelo Sindicato da Indústria de Carnes e Derivados no Estado do Rio Grande DO Sul (Sicadergs), Associação Gaúcha de Supermercados (AGAS), Comissão de Pecuária da Farsul e Instituto Desenvolve Pecuária, com a responsabilidade de fazer a roda girar.

Foto: AgroEffective/Divulgação

Pela manhã foram realizadas duas palestras conduzidas pelo consultor Francisco Villa e pelo ex-ministro da Agricultura, Francisco Turra. Já na parte da tarde foi a vez de representantes da cadeia produtiva.

Pelos produtores falaram o pecuarista Fernando Costabeber e o dirigente do Instituto Desenvolve Pecuária, João Gaspar de Almeida. Logo após, representando as indústrias, a palavra ficou com o presidente do Sindicato das Indústrias de Carnes e Derivados no Estado do Rio Grande do Sul (Sicadergs), Ronei Lauxen, seguido pelo presidente da Associação Gaúcha dos Supermercados (AGAS), Antônio Cesa Longo.

A busca por comunicação e institucionalidade – Crucial para o entendimento de tudo que foi discutido no encontro foi a palestra do professor Julio Barcellos, do NESPro (integrante da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, UFRG), órgão que trava um esforço hercúleo para levar e integrar o conhecimento acadêmico no dia a dia do campo.

O mestre finalizou as explanações e tratou de afinar diferentes pontos de vistas e necessidades para que este primeiro fórum abrisse brechas para a realização de um segundo, terceiro e uma série de outros. Entre outras luzes, ele definiu em números o que é essa cadeia produtiva da carne bovina.

Julio Barcellos, coordenador do Núcleo de Estudos em Sistemas de Produção de Bovinos de Corte e Cadeia Produtiva (Nespro), da UFRGS (Foto: Divulgação)

“No Brasil, 20 empresas detêm a maior parte da fabricação dos insumos consumidos dentro da fazenda. Pelo lado dos pecuaristas, 1 milhão deles produzem 83% da carne bovina consumida no País. Entretanto, dez grupos frigoríficos abatem 97% do gado, enquanto apenas cinco gigantescas redes de varejo fazem 90% dessa carne chegar aos mais de 200 milhões de consumidores. E um primeiro ponto em comum, muito claro entre os elos, é a necessidade de estabelecer uma melhor comunicação e, consequentemente, de agir com melhores atitudes”, destacou.

Barcellos atribuiu a ausência de uma boa comunicação e fortes desequilíbrios na cadeia produtiva à falta de institucionalidade nas ações e discursos em alguns elos. Para ele quem não tem organização não avança.

O acadêmico citou, como exemplo, pecuaristas bem-sucedidos que conseguiram melhorar o resultado do seu negócio, organizando-se em cooperativas, associações e sindicatos.

“E não foi só na hora de negociar um preço de insumo ou a venda de uma safra de boi gordo, mas também na hora de ouvir o que a indústria e o varejo mais almejam como produto (carne) final para vender mais”, explicou.

Para o presidente da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), Gedeão Pereira, anfitrião do encontro, um dos tantos desafios da pecuária brasileira está em manter sua “pujança” frente ao déficit de 4 a 5 milhões de toneladas de milho, notadamente no RS e Santa Catarina.

O alerta vem mesmo com a safra de inverno podendo atenuar o problema, embora ela não possa mexer de imediato coma inflação.

VEJA TAMBÉM | DBO Entrevista | Integrando a pecuária gaúcha; vídeo

Aliás, os crescentes custos produtivos foram alvo do presidente da Comissão de Relacionamento com o Mercado do Instituto Desenvolve Pecuária, Ivan Faria. “O momento é muito delicado para os pecuaristas, pois a inflação dos custos é o dobro da urbana”, pontuou.

Os fiéis do boi e sua cruzada – Um das palestras que mais mobilizou o fórum foi a do consultor internacional Francisco Vila. Ele desenhou com bastante propriedade a cadeia produtiva da carne, incluindo até os fornecedores de insumos.

Ele exaltou o fato de o encontro acontecer no RS e que “não tem problema ser regional”. Para Vila, o importante é tal organização se formar para que, em um segundo momento, outras de mesma identidade possam se unir e criar um movimento de representação mais nacional. “Penso que falta organização em vários centros produtores e também em elos da cadeia, como é o caso dos produtores”, explica.

Aos pecuaristas, uma infinidade de outros desafios vieram à baila, como maior sintonia com o que a indústria e o varejo precisam para gerar renda, pois “estes já estão familiarizados como o grande patrão da cadeia, que é o consumidor final”, em seus vários perfis, dos domésticos aos internacionais.

“Não se trata daquilo que queremos comer, mas do que vende mais e traz maior lucratividade ao sistema”, reforça o consultor. Também foram citados como obstáculos a logística (infraestrutura de transportes), comunicação e a forte pressão por áreas imposta pelas principais culturas agrícolas.

Vila ainda destacou outra ação fundamental, até com forte apelo social. Ele pediu pelo desenvolvimento de novas estratégias para atrair os jovens para o setor, uma vez que a pecuária está cada vez mais tecnificada e, para crescer, precisa de pessoas que conheçam bem sobre seus processos e se interessem, ao mesmo tempo, por inovação e as novas tecnologias. No atendimento a esse item, o consultor ressaltou a importância de modificar a imagem da pecuária para o brasileiro, em geral.

O consultor entende que seria um processo para começar na educação escolar básica, por meio de informações sobre a relevância do setor para o país, em livros didáticos e programas que levem crianças e jovens às fazendas produtoras.

Ele salientou que muitas iniciativas podem se dar em níveis privados sem a costumeira espera pela “adoção de políticas públicas”. “Quando criamos e divulgamos marcas, por exemplo, um selo para a carne gaúcha, criamos diferenciais de qualidade, capazes de disputar mercados segmentados com preços mais rentáveis ao produtor e ainda estabelecemos vínculos mais objetivos com o consumidor”, diz.

Francisco Vila também enfatizou a de utilização de tecnologia não só para entender as demandas do consumidor, como também para controlar a produção dentro da porteira, monitorando engorda, período de abate e condições de saúde do boi.

Ele avalia que o produtor deve mudar de estratégia, uma vez que as demandas do mercado ficaram mais específicas. “A realidade produtiva cumpridora de um exercício sustentável é um caminho sem volta para quem quer encontrar lucratividade perene”, afirma.

Muito espaço para expandir e melhorar – O ex-ministro da agricultura Francisco Turra (governo Fernando Henrique Cardoso), político gaúcho e atual presidente do conselho de administração da Associação dos Produtores de Biocombustíveis do Brasil (Aprobio), contou com muito calor da plateia.

O ex-ministro da agricultura Francisco Turra (Foto: Divulgação)

Ele tratou de muitos obstáculos dentro da cadeia produtiva da carne vermelha, mas apontou como saída “a abertura de novos mercados no exterior, sem esquecer de trabalhar para atingir a autossuficiência na produção de milho e desenvolver autonomia em relação aos governos vigentes. Gerar demanda onde ela estiver, dentro e fora do País. Há pouco tempo, alguém abriu uma usina de milho no Mato Grosso. Parecia loucura, mas hoje já são sete delas”.

Na geração de demandas e abertura de mercado, agregar valor industrial aos produtos agropecuários e criar marcas de valor sinalizando o Brasil como fonte são “ações que vão levar todo o agronegócio para frente, de forma liberal e independente”, insistiu Turra.

Ele deu como exemplo o comportamento das carnes suína e de aves que, independente dos altos e baixos comuns a qualquer mercado, com cadeias produtivas mais organizadas e equilibradas, sempre viram o jogo. O ex-ministro ainda pediu para que, na hora de despojo ao investir, sempre lembrem das potencialidades do Brasil para alimentar seu povo e boa parte do mundo.

Gostou? Compartilhe:
Destaques de hoje no Portal DBO

Continue depois da publicidade

Continue depois da publicidade

clima tempo

São Paulo - SP

max

Máx.

--

min

Min.

--

017-rain

--

Chuva

008-windy

--

Vento

Continue depois da publicidade

Colunas e Artigos

Continue depois da publicidade

Continue depois da publicidade

Leilões em destaque

Continue depois da publicidade

Newsletter

Newsletter

Jornal de Leilões

Os destaques do dia da pecuária de corte, pecuária leiteira e agricultura diretamente no seu e-mail.

Continue depois da publicidade

Vaca - 30 dias

Boi Gordo - 30 dias

Fonte: Scot Consultoria

Vaca - 30 dias

Boi Gordo - 30 dias

Fonte: Scot Consultoria

Continue depois da publicidade

Programas

Continue depois da publicidade

Continue depois da publicidade

Continue depois da publicidade

Encontre as principais notícias e conteúdos técnicos dos segmentos de corte, leite, agricultura, além da mais completa cobertura dos leilões de todo o Brasil.

Encontre o que você procura: