A abertura de um escritório diplomático brasileiro em Jerusalém foi um “movimento desnecessário” e comprometeu o crescimento das relações comerciais do Brasil com países árabes, segundo avaliação feita pelo presidente da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira, Rubens Hannun.
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“A gente acha que o fato de montar um escritório caracterizou um movimento desnecessário e de desequilíbrio nas relações entre árabes e brasileiros”, afirmou Hannun ao Portal DBO. Embora não saiba precisar em quanto tempo o realinhamento político internacional deva impactar as relações comerciais com os países árabes, o presidente da CCAB ressalta que as declarações do governo Bolsonaro impactem a preferência dado ao Brasil por esses mercados.
De acordo com dados do Ministério da Agricultura, os países Árabes responderam por 11,34% das exportações agrícolas brasileiras em volume em 2017 e 10,84% em valor. No ano passado, esses percentuais caíram para 9% e 8,26%, respectivamente. As previsões da Câmara Árabe, contudo, são de que as trocas comerciais com o Brasil, que atualmente são da ordem de US$ 11,5 bilhões, dobrem nos próximos quatro anos.
“Esse crescimento, contudo, fica comprometido. Não tenho nenhuma informação imediata, até porque é um pouco prematuro para haver alguma retaliação, mas esses movimentos vão acontecendo”, explica Hannun. Ele destaca que o brasil é atualmente o maior exportador mundial de proteína animal halal, corte exigido pelos países Árabes, mas que há outros produtores com planos para aumentar sua participação no Oriente Médio – entre eles os próprios Estados Unidos.
Segundo dados do Internacional Trade Center (ITC), o Brasil respondeu por 51,9% do fornecimento de proteína animal halal para os países árabes em 2017. Em 2015, esse percentual havia chegado a 54,3%. No mesmo período, a Turquia passou de 4,1% para 5,8% e subiu três posições nesse ranking para se tornar o terceiro maior fornecedor de carne halal para os países árabes.
“A gente sabe que esses países querem entrar mais firmemente no mercado árabe. Eles podem não ter a quantidade necessária para atender esses países atualmente, mas estão se preparando. E esse tipo de posição do Brasil estimula a competição interna, a abertura para concorrências, porque é uma relação de confiança e parceria. Espero que isso não efetivamente, mas os sinais estão indicando pra isso…”, conclui Hannun.