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Agosto 2022

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Confinador capixaba consegue 1/3 do lucro operacional fazendo composto orgânico com o esterco

Empresa do norte do ES obtém 1/3 de seu lucro operacional com a produção de composto orgânico, que aduba áreas de lavoura, principalmente milho

 

Tonelada de compostagem vale R$ 300 na região; o custo de produção, R$ 40.
Por Ariosto Mesquita

Até há alguns anos, conseguir dar destino correto aos dejetos de animais era uma grande dor de cabeça para o confinador. Hoje, para alguns, é redução de custos. Com um pouco de trabalho e investimento, o esterco vira compostagem, coproduto relevante e sustentável para o negócio da pecuária intensiva. No Espírito Santo, por exemplo, a NA Agropecuária, com rebanho médio de 7.000 cabeças e agricultura de soja, milho e sorgo, tem conseguido significativa economia de custos com adubação da lavoura, usando composto em vez de adubação química.

Segundo o veterinário Vitor Alves, administrador da empresa, nas áreas em que o coproduto foi aplicado, houve uma redução de R$ 5.200/ha para R$ 650/ha com adubação convencional. “Usamos o conceito de custo-oportunidade, já que pecuária e agricultura trabalham com planos de contas diferentes. Assim, quem compra o composto produzido pela pecuária é a nossa agricultura”, explica o produtor, que, em maio passado, durante o Encontro de Confinamento e Recriadores da Scot Consultoria, em Ribeirão Preto, SP, apresentou os resultados da Fazenda Esplanada, de Montanha (norte do Espírito Santo, na divisa com Minas Gerais e Bahia). Em 2021, do lucro operacional por boi (R$ 322), um terço (R$ 100) veio da operação com esterco (veja tabela).

 

Naquele ano, a partir de uma limpeza de 24 currais (de um total de 36 em todo o confinamento) e considerando 150 bois em cada (3.600 animais), coleta média de 3 kg/esterco/boi/dia, em 100 dias de confinamento, ele obteve 1.080 t de composto. A operação lhe custou R$ 30.276, considerando mão-de-obra terceirizada (R$ 2.190), raspagens nos currais (R$ 13.496), retirada do esterco (R$ 5.762) e compostagem (R$ 8.826). O custo da tonelada do composto, portanto, ficou em R$ 28.

Alves, no entanto, tem trabalhado com um custo da compostagem de R$ 40/t (o processo requer perto de 90 dias). Mesmo assim, como o preço de mercado do produto é de R$ 300/t, sobram R$ 260/t. Num confinamento de 100 dias, e considerando a produção de 5 kg de esterco/boi/dia (em função de uma dieta mais rica em fibras), isso significa 500 kg de composto e uma receita de R$ 130.000. Além da operação da Fazenda Esplanada, a NA Agropecuária conta com a recria nas fazendas Cavalo Branco (Nanuque, MG) e Bom Jesus (Carlos Chagas, MG).

Operação de compostagem na Fazenda Esplanada, em Montanha (ES): adubo barato reduziu incidência de nematóides.

Mais ganhos

As possibilidades do que pode entregar este composto orgânico faz o pecuarista acreditar que pontualmente e com o passar do tempo, o esterco brigue com a carcaça pelo posto de maior receita no confinamento: “Além da geração de renda direta, este material fornece nitrogênio, potássio, fósforo, enxofre, microorganismos, não lixivia com facilidade, dá perenidade e uma curva de absorção maior. Além disso, auxilia no combate a nematoides e é fonte de matéria orgânica para o solo, que ganha em maior capacidade de retenção de água e, consequentemente, em maior resistência aos veranicos”.

O produtor capixaba usa o composto apenas em parte de sua área agrícola. Em 2021 aplicou o coproduto em 400 ha de milho (irrigação sob pivô, 2,5 giros/ano) e sentiu resultado na produtividade: “Nos setores onde a lavoura sofria muito com a pressão de nematoides, conjuguei a adubação orgânica de 15 t/ha com tratos culturais e consegui sair de 80 para 180 sacas/ha”, informa.

Os resultados alimentam um círculo virtuoso. Até este ano, Alves manteve a aquisição de 50.000 sacas de milho para complementar sua produção de lavoura voltada para a composição da ração de confinamento (sorgo e milho – soja é comercializada). “A partir de 2023 seremos 100% autossuficientes na parte energética. Manterei apenas aquisição de ureia, núcleo e insumos proteicos”, prevê.

Para a safra 2022/2023 ele pretende aplicar o composto na soja, a uma proporção de 6 t/ha: “Ainda vou fazer as contas para saber com mais exatidão o que terei disponível e o quanto de área posso usar. Comprei fosfato e pretendo fazer um composto organomineral. Tenho 2.400 t de esterco em estoque e mais 2.500 animais em final de terminação, que devem sair em agosto.”

Em tempos de margem reduzida da carcaça de confinamento, Vitor Alves – que é pós-graduado em produção e reprodução animal –, compreende que o esterco tende a se tornar uma segurança financeira para muitos confinamentos: “Mesmo com uma perspectiva pessimista de, no próximo giro, eu obter receita de apenas R$ 80/boi – por causa do preço elevado do milho (na faixa de 95/saca, no final de julho), e com a arroba do boi com expectativa de venda de R$ 320 e lucratividade baixa –, estou confinando para vender o composto e gerar receita para a pecuária e a agricultura. Hoje o esterco ajuda a assinar o próprio cheque do boi”, ilustra.

Energia e reforma de pasto

Mesmo sem contabilizar a comercialização direta de composto orgânico a partir dos dejetos de confinamento, outras fazendas vêm apostando no material para turbinar pastos e lavouras, além de reduzir custos com energia elétrica, por exemplo. É o caso da Fazenda Segredo, em Bataguassu, leste de Mato Grosso do Sul.

De acordo com o gerente, José Eduardo Pereira Lima, seu confinamento consegue alojar estaticamente 1.200 bovinos. Até este ano vem fazendo 1,5 giro/ano. A partir de 2023 a previsão é ampliar para dois giros/ano. O piso foi concretado e alinhado de forma a facilitar o escoamento e a retirada dos dejetos, parte usada para produção de energia, suprindo, hoje, 20% da demanda da fazenda, que também trabalha com agricultura irrigada.

Os dejetos são captados e seguem, por gravidade, por meio de uma rede de canaletas até serem despejados em um tanque, onde é feita a separação de sólidos e líquidos. O material seco é aproveitado como adubo orgânico e espalhado por uma esterqueira em parte do pasto e no cultivo de sorgo (para silagem), lavoura que também ajuda na recuperação gradual das pastagens (média de 200 ha por ano). “Não temos a conta certinha da produção em toneladas. Com relação ao adubo orgânico seco, temos um estoque de dois anos que será aplicado ainda este ano em áreas de reforma de pasto”, garante Lima.

Os dejetos líquidos seguem, posteriormente, para um biodigestor onde o processo de fermentação gera gases transformados, na sequência, em bioenergia. O material que sobra vai para um reservatório com capacidade para dois milhões de litros e é utilizado como biofertilizante, aplicado em aproximadamente 80 ha através de irrigação por um canhão de carretel.

Confinamento nos últimos 60 anos

Capa Junho 2021 -488

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