O professor titular da FMVZ-USP, Enrico Ortolani, fala sobre a Palicourea marcgravii ou cafezinho, uma das primeiras plantas tóxicas para bovinos a ser relatadas no País
Por Enrico Ortolani – Professor titular de Clínica de Ruminantes da FMVZ-USP (ortolani@usp.br)
A morte – embora um dia aconteça inapelavelmente – não é uma notícia boa para ninguém, tanto seres humanos quanto animais. Dentre estes últimos, a morte parece atuar de forma mais chocante (para quem a acompanha) quando muitos bovinos são fulminados de uma vez só, ou quando do nada o “bicho”, que estava bem, faz algum exercício e em poucos minutos “bate as botas”. Presenciei algumas vezes essa última condição.
Para matar com tal rapidez uma das condições é que certos órgãos vitais parem subitamente de funcionar. Em boa parte das vezes, o emotivo coração e o racional cérebro estão envolvidos no processo.
Várias são as causas de morte súbita em bovinos criados em “terra brasilis”. Em 1824, o naturalista francês Auguste Saint-Hilaire, que rodou de norte ao sul o Brasil e descreveu centenas de plantas e animais, citou em seu livro que uma planta idêntica ao café parecia causar morte fatal no gado.
Em 1932, em São Paulo, veio a confirmação científica de que a Palicourea marcgravii matava bovinos a rodo, sendo a primeira planta comprovadamente tóxica descrita no Brasil. Ela recebe vários apelidos nas vastas áreas de nosso País: cafezinho, erva-de-rato, café-bravo, erva-café, roxa, roxinha, roxona e vai daí por diante. Os caboclos também a chamam de “vick” e “bengué”, pois, quando as folhas são amassadas, desprendem um cheiro de salicilato de metila, idêntico ao odor da pomada ou bálsamo de mesmos nomes.