Os sistemas integrados de produção foram destaque nesta sexta-feira (24) no painel do Famato Embrapa Show, promovido em Cuiabá pela Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso (Famato), Embrapa e Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar-MT).
O pesquisador Maurel Behling, da Embrapa Agrossilvipastoril, apresentou informações sobre a produção de biomassa para o complexo etanol de milho em sistemas Integração Lavoura Pecuária Floresta (ILPF), que integram diferentes sistemas produtivos, na mesma área.
Atualmente mais de 17 milhões de hectares adotam a estratégia de ILPF no Brasil, sendo que cerca de 80% dessa área usa apenas os componentes de lavoura e pecuária. Do total de 17 milhões, o estado de Mato Grosso produz 2,6 milhões de hectares em ILPF.
Pela projeção da Embrapa Agrossilvipastoril, apenas de 25 mil a 50 mil hectares do Estado adotam o componente florestal no sistema. “O grande desafio no MT é a consolidação do componente florestal para colaborar com a descarbonização da agricultura”, avalia.
O Mato Grosso se destaca pela produção de teca e de eucalipto que responde por 189 mil hectares (3% da área plantada com eucalipto no País).
“O eucalipto é carro chefe do estado na produção de biomassa para atender as indústrias de etanol de milho. Existe a perspectiva de ampliar a produção no estado, principalmente porque o valor da biomassa está aquecido”, ressalta. “Há a expectativa do Mato Grosso ultrapassar os 500 mil hectares com eucalipto até 2032”, calcula.
A perspectiva é de crescimento, mas o pesquisador alerta ser preciso estar próximo às áreas de consumo para que o produto seja competitivo. No caso do eucalipto, a produção deve estar a apenas 150 km dos polos de produção de biomassa/energia.
“Cada propriedade precisa identificar o componente florestal que melhor se adeque as características individuas para tornar o processo de ILPF mais adequado”, explica. “Sabemos que as árvores irão interferir na produtividade dos demais componentes, mas além dos serviços ecossistêmicos, o componente florestal irá se converter em compensação de renda perdido nos demais componentes do sistema, quando adotado adequadamente”, afirma.
Cases de sucesso – O chefe de Transferência de Tecnologia da Embrapa Agrossilvipastoril, Flávio Jesus Wruck, apresentou a produção em Sistemas de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF).
O pesquisador afirmou que todas as áreas, independentemente do tamanho, bioma, podem adotar os sistemas integrados, aproveitando a localização, o mercado e as condições climáticas, entre outros componentes individuais.
“A ILPF é um conjunto de tecnologias democráticas, tanto que apresento cases de sucesso adotados em propriedades de pequeno, médio e grande porte para enfatizar a viabilidade do sistema”, reforça.
Wruck apresentou informações da Fazenda Pontal (Nova Guarita, MT) como exemplo de grande propriedade que adota o sistema ILPF, com sucesso. Dos 8.500 hectares, 44% são destinados à área produtiva, sendo 1.300 hectares com soja e 2.500 hectares com pecuária de corte.
Outro exemplo bem-sucedido de média propriedade é a Fazenda Santana (Sorriso, MT), localizada no bioma Cerrado. Além disso, o pesquisador apresentou informações da Estância Nossa Senhora Fátima, em Cáceres, em MT, pequena propriedade de agricultura familiar. A área de 5 hectares fez renovação de pastagem e conseguiu ampliar a produtividade do leite.
“Para trazer apenas um resultado, destaco que a renda bruta do casal saltou de R$ 2.394 para R$ 13.600, o que mostra o benefício do sistema, inclusive para pequenas áreas”, destaca.
Descarbonização da agricultura – O pesquisador Roberto Giolo, da Embrapa Gado de Corte, apresentou a produção de carne e leite em sistemas de baixo carbono.
“Ao avaliar a pegada de carbono da carne brasileira, identificamos que os sistemas que mais emitem os Gases de Efeito Estufa são os menos eficientes. A adoção de boas práticas agropecuárias, portanto, além de emitir menos GEEs, garante maior produção em menor tempo e amplia o benefício econômico”, ressalta Giolo.
Segundo ele, a Embrapa Gado de Corte investiu anos de estudo e realizou diversos experimentos com ILPF, enfocando o potencial do componente florestal no sequestro de carbono e na neutralização de metano.
A criação de protocolos permitiu que, entre 2015 e 2019, a Embrapa validasse junto ao setor produtivo a carne carbono neutro. O primeiro resultado foi obtido em 2020, quando a fazenda Santa Verginea foi certificada para produzir carne carbono neutro. Atualmente, o selo está disponível no mercado, em parceria entre Embrapa e Marfrig.
Também está sendo criado o selo Carne Baixo Carbono, que deve chegar ao mercado em 2022. “Neste caso, o componente de fixação de carbono não é a floresta, mas o processo de carbono fixado no solo”, explica.
Fonte: Ascom Famato/Embrapa