Fórum Metano na Pecuária

A contribuição da pecuária para conter o aquecimento global

Evento realizado pela JBS e pela Silvateam traz visão geral sobre desafios e oportunidades que envolvem as emissões de metano pelos bovinos

Informação, esclarecimento e debate sobre como os bovinos emitem gases até o que isso causa na atmosfera, passando pelas formas de como se pode compensar esse efeito retendo carbono na agropecuária, para produzir carne de qualidade – e sustentável. Tudo isso foi condensado numa maratona de palestras durante o Fórum Metano na Pecuária – O Caminho para a Neutralidade Climática, promovido pela JBS e Silvateam, no Hotel Hilton Morumbi, em São Paulo, nos dias 4 e 5 de maio.
Pesquisadores de diversos países, representantes do setor público e especialistas de diferentes áreas fizeram 22 palestras com o que há de mais atual e relevante sobre o assunto. Para criar um conceito que o setor precisa encampar: o de que a pecuária não deve ser encarada como vilã do aquecimento global, mas sim parte da solução climática.
Para Gilberto Tomazoni, CEO global da JBS, neutralizar as emissões de toda a cadeia produtiva é o grande desafio a ser enfrentado por todos. “É por isso que assumimos o compromisso de sermos Net Zero até 2040. Nossa essência é a produção de alimentos. Vamos alcançar esse objetivo, produzindo carne de qualidade em parceria com nossa cadeia de fornecedores”, afirmou, em referência aos 80.000 produtores que entregam bovinos para a Companhia.

Várias frentes

O desafio é composto de várias frentes. Uma delas é a redução direta da emissão pelos bovinos, por meio do uso de aditivos nas rações fornecidas ao gado. Nesse sentido, parceria da JBS com a Silvateam e o Instituto de Zootecnia (IZ) da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo testará o efeito de aditivos à base de tanino na redução dessas emissões, inicialmente, em animais confinados. A Silvateam já estuda esse princípio ativo há pelo menos 15 anos, com números que apontam não só para a redução da emissão de metano (em cerca de 30%), mas também para ganho de peso e de carcaça dos animais. Para o vice-presidente da empresa, Michele Battaglia, o objetivo é pesquisar as melhores soluções. “Queremos uma proteína de alta qualidade.”

Na mesma linha dos aditivos, os executivos Maik Kindermann e Luiz Fernando Tamassia, da área de inovação da Royal DSM, apresentaram resultados do Bovaer na redução de emissão de metano em vários países.

“Nossa essência é a produção de alimentos”
Gilberto Tomazoni,
CEO Global da JBS
“Daqui para a frente, muitos dos melhores pesquisadores do mundo terão a sustentabilidade como preocupação. Queremos que a pecuária faça parte da solução”
Michele Battaglia,
Vice-presidente da Silvateam

O trunfo do Brasil

Como a emissão de metano é inerente ao bovino e sua redução tem um limite, outras ações devem ser tomadas na empreitada de se obter um balanço positivo entre emissões da pecuária e as remoções de CO2 (também chamadas de “sequestro de carbono”) que o segmento pode promover. Para mostrar como esse caminho está sendo trilhado no Brasil, o fórum reuniu um time de especialistas: Alexandre Berndt (Embrapa Sudeste), Eduardo Assad (ex-Embrapa Territorial e, agora, consultor da FGV), Roberto Giolo (Embrapa Gado de Corte) e a diretora de produção sustentável e irrigação do Ministério da Agricultura, Fabiana Alves. Ela mostrou as ações do Plano ABC+, que envolvem 8 tecnologias que retêm carbono no solo. Recuperação de áreas degradadas por ILP (Integração Lavoura-Pecuária) ou ILPF (Integração Lavoura-Pecuária-Floresta) se mostra como o grande trunfo do País.
A oportunidade de bons negócios a partir do metano também foi abordada pelo professor Frank Mitloehner, especialista em qualidade do ar e diretor da Universidade da Califórnia-Davis, Estados Unidos. Depois de explicar as funções e a importância do metano, ele ressaltou como o gás pode ser aproveitado quando se transforma em energia, por meio do uso de biodigestores. Por exemplo: na Califórnia, que responde por 20% da produção de leite dos Estados Unidos, há incentivo do governo para gerar créditos de carbono para as fazendas leiteiras. E, no corte, a redução do rebanho – portanto com menos emissões de metano – vem sendo compensada pelo aumento da produtividade na produção de carne.

NÚMEROS EM DESTAQUE

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é a participação do Brasil nas emissões globais de gases de efeito estufa (GEEs)

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das emissões do País provêm do metano. Mas a média do bovino, que é um grande emissor, caiu de 62 kg/ano em 1990 para 57 kg/ano m 2016

Valorizar a carne

O consultor Maurício Palma Nogueira, da Athenagro, de São Paulo, apontou a contradição que os críticos da carne bovina têm, pois atividades como transporte (carro, navio, avião etc.) emitem muito CO2, mas as pessoas não estariam dispostas a criticar confortos aos quais estão acostumadas. 

“As remoções de carbono através de sistemas de integração são a grande contribuição do Brasil para a redução do aquecimento global”
Alexandre Berndt,
Pesquisador da Embrapa Sudeste

 Esse e outros aspectos mais abrangentes foram abordados com ampla gama de informações pela norte-americana Diana Rodgers, nutricionista e diretora executiva da ONG Global Food Justice Alliance, que defende o direito das pessoas a uma alimentação nutritiva. “Reduzir o consumo de carne vai aumentar as deficiências nutricionais das pessoas, além de fazer com que elas consumam mais carboidratos, o que não é recomendável. É um problema, principalmente para as crianças, que podem ter seu desempenho escolar prejudicado”, alertou.

“Reduzir o consumo de carne vai aumentar as deficiências nutricionais das pessoas, além de fazer com que elas consumam mais carboidratos, o que não é recomendável”
Diana Rodgers,
Nutricionista norte-americana e diretora da ONG Global Food Justice Alliance

Ainda que não tenham o metano como componente principal (e sim CO2 ), as emissões provenientes do desmatamento foram citadas por vários palestrantes, uma vez que essa ação é a principal dentro do assunto “mudança de uso de solo”, responsável por 46% das emissões brasileiras. A necessidade de enfrentar o desmatamento foi enfatizada na apresentação de Fabio Dias, diretor de relacionamento com os pecuaristas da Friboi/JBS, que destacou o compromisso da empresa, que vem de mais de uma década, de não comprar gado de áreas em que houve desmate.
Marcelo Manella, diretor da SilvaFeed, braço de nutrição animal da Silvateam no Brasil, conclamou representantes de outras empresas, para, num trabalho conjunto, patrocinarem pesquisas que avaliem a redução das emissões dos bovinos a partir da associação dos taninos com outras substâncias, como óleos essenciais, nitrato, capim limão, algas. “Estamos numa fase pré-competitiva. Lá na frente, todos vão se beneficiar”, afirmou.

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