Diante do atual conflito comercial com a China, falar em gestão de risco neste momento equivale “a consertar um telhado em meio à tempestade”, sentencia o zootecnista Douglas Coelho, sócio da Radar Investimentos, em artigo publicado no informe semanal da Scot Consultoria (Bebedouro, SP).
Segundo Coelho, o protocolo de quantificar quantas arrobas seriam produzidas e cotar um seguro de preço mínimo (também chamado de “put” no jargão do mercado) para o mês de abate seria uma estratégia que deveria ser colocada em prática ainda com o mercado o boi gordo em viés de alta (tendência observada antes do corte das embarques de carne bovina ao mercado chinês).
“Talvez essa seja a grande lição (aos pecuaristas) dos últimos dois anos”, avalia Coelho, chamando a atenção para a conjuntura extremante desfavorável aos produtores que decidiram engordar os seus animais em cocho.
A queda brusca da arroba nas últimas semanas, depois de longos meses de garrote e boi magro caros em 2021, além de um custo de dieta também alto, “tem comprimido as margens dos confinadores em boa parte das praças brasileiras, ressalta.
Na avaliação de Coelho, está claro que o atual desacordo com a China não é um caso de saúde animal, “mas sim comercial e/ou governamental”.
“A Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) não alterou o status do Brasil para vaca louca e o risco para a doença, que foi o motivo para a suspensão, continua insignificante no Brasil”, observa o sócio da Radar Investimento.
No entanto, continua Coelho, no âmbito político e comercial, toda moeda de troca é feita com base em concessões de produtos e interesses.
“A China tem tido outros problemas grandes, como a crise energética e imobiliária neste momento. Além disso, as preocupações atuais com a inflação não se restringem apenas no Brasil, mas também na China, EUA e outros. É uma preocupação global”, relata.
Segundo os analistas da IHS Markit, da porteira para dentro, “os prejuízos são severos”.
“O rebanho brasileiro de bovinos vinha encolhendo devido a diversos fatores (rentabilidade, custos, disputa com agricultura, clima, economia..) e esse duro golpe (insistência da China em manter o embargo) volta a trazer insegurança ao setor pecuário brasileiro”, relata a IHS.