Por Marcelo de Rezende*
Qualquer atividade precisa ser conduzida com um mínimo de gestão e controle, principalmente uma atividade complexa e de longo prazo como a produção de leite. Nas fazendas nas quais não há nenhum tipo de escrituração ou anotação de eventos zootécnicos e econômicos, o gerenciamento adequado se torna impossível, fazendo com que o produtor não consiga visualizar sua real situação e nem perceba para onde está caminhando. O mesmo ocorre com o técnico que, sem parâmetros para trabalhar, acaba atuando às cegas.
Infelizmente, essa é a realidade da maior parte das fazendas leiteiras no Brasil, onde os índices produtivos não são controlados ou dimensionados pelo simples fato de que nada é anotado ou controlado. No livro Produção de leite: conceitos básicos, publicado pela Fealq em 1988, o professor Vidal Pedroso de Faria – certamente um dos maiores conhecedores da gestão eficaz de fazendas leiteiras – faz uma afirmação muito interessante: “Quando o técnico e o fazendeiro começam a utilizar índices para analisar a estrutura de produção, eles criam um padrão que pode ser comparado com números publicados por outros indivíduos, e dessa maneira serão capazes de detectar problemas, apontar virtudes e fazer progresso. Outra vantagem de se trabalhar com índices diz respeito à possibilidade de se conhecer o potencial de produtividade a ser atingido em determinado sistema de produção. Quando não existe termo de comparação, fica muito difícil estabelecer julgamento apropriado e muito mais complicado ainda propor mudanças nos conceitos estabelecidos pela tradição”.
Essa afirmação demonstra o quanto é difícil o convencimento da necessidade de mudança, quando não se têm na atividade informações que possibilitem comparações entre um período e outro ou entre uma fazenda e outra. Diante de tal situação, o produtor prefere seguir acreditando que deve fazer aquilo que sempre fez e não o que seria correto fazer caso fosse confrontado por informações seguras sobre seu negócio. A falta de indicadores não nos permite compreender onde estamos e muito menos prever onde estaremos no futuro. Nessa situação, a obtenção de metas e objetivos passar ser uma mera obra do acaso.
A boa notícia é que algumas anotações básicas podem promover um grande avanço gerencial. A escrituração de eventos econômicos, como receitas e despesas, aliada à anotação de eventos zootécnicos do rebanho como partos, coberturas e controle leiteiro, permite a geração de um conjunto de informações de grande importância para a gestão. Além da obtenção de índices da atividade, o processamento desse conjunto de dados permite também que sejam oferecidas outras informações de grande importância, como a sobra mensal de capital disponível para a sobrevivência da família que vive exclusivamente da renda da produção de leite, por exemplo.
*Engenheiro agrônomo especializado em sistemas intensivos de produção de leite e corte e diretor-presidente da Cooperativa para Inovação e Desenvolvimento de Atividade Leiteira (Cooperideal), e-mail marcelo@cooperideal.com.br