A Bayer foi condenada por um júri da Califórnia, nos Estados Unidos, a pagar US$ 2,055 bilhões a um casal da Califórnia que afirma ter desenvolvido câncer por causa do herbicida Roundup, da Monsanto, adquirida pela empresa alemã. É a terceira derrota da Bayer na Justiça em casos desse tipo.
Alva e Alberta Pilliod, com idade na casa dos 70 anos, foram diagnosticados com a doença linfoma não Hodgkin após terem usado, por 35 anos, o Roundup em sua propriedade na área da Baía de São Francisco. Os dois, diagnosticados em um intervalo de quatro anos, em 2011 e 2015, estão em remissão.
Os advogados do casal apresentaram aos jurados estudos científicos em ratos, células e populações humanas que, segundo eles, mostram que o glifosato e o Roundup são carcinogênicos. Os advogados da Bayer responderam que centenas de estudos mostraram que o herbicida é seguro, citando a Agência de Proteção Ambiental (EPA) dos EUA, que aprovou o produto. No fim de abril, a EPA reafirmou a sua conclusão de que o glifosato é seguro quando usado conforme as instruções e que não causa câncer.
Em relação à saúde dos Pilliod, a multinacional apresentou diagnósticos prévios de câncer, históricos familiares da doença e também autoimunes que, segundo eles, elevaram o risco de o casal desenvolver linfoma não Hodgkin.
O veredicto acontece em um momento em que a Bayer enfrenta problemas com acionistas por causa da aquisição da Monsanto no ano passado, que expôs a Bayer a cerca de 13.400 processos ligando o Roundup a câncer. As outras duas derrotas contribuíram para a queda de mais de 30% nos preços das ações.
No mês passado, a maioria dos acionistas da Bayer se recusou a apoiar as ações da diretoria no último ano, indicando que investidores não têm confiança na forma como a empresa está sendo comandada.
Bayer diz que vai recorrer de condenação
Em comunicado, a Bayer afirmou que vai recorrer da decisão de um júri na Califórnia, nos EUA. “A Bayer está decepcionada com a decisão do júri e recorrerá do veredicto neste caso”, disse a empresa alemã, acrescentando que a decisão “está em conflito direto” com a revisão de registro da Agência de Proteção Ambiental (EPA) dos EUA divulgada no mês passado.
Nesta revisão, a Bayer informou que se chegou a um consenso entre os principais reguladores de saúde em todo o mundo de que os produtos à base de glifosato podem ser usados com segurança e que o ingrediente “não é carcinogênico”. A empresa baseia seus argumentos também em 40 anos de “extensas pesquisas científicas”.
O contraste entre o veredicto de hoje e a conclusão da EPA “não poderia ser mais forte”, segundo a Bayer. No fim de abril, a EPA reafirmou a sua conclusão de que o glifosato é seguro quando usado conforme as instruções e que não causa câncer.
A Bayer disse também que o casal norte-americano apresentou ao júri conclusões de uma fração minúscula do total de estudos disponíveis, e que eles utilizaram a conclusão da Agência Internacional de Pesquisa em Câncer, cujo estudo, de acordo com a EPA, foi menos robusto e menos transparente do que o da agência norte-americana.
A empresa afirma que sente “simpatia” pelo casal Pilliod, que alega ser vítima do Roundup, mas que as evidências mostram que ambos têm históricos de doenças que aumentam o risco de desenvolver o linfoma não Hodgkin.
A companhia disse ainda que a decisão de hoje não tem efeito nos julgamentos futuros: “Cada um tem suas circunstâncias factuais e legais”. Segundo a empresa, o litígio ainda levará um tempo para ser concluído.
No ano passado, a Bayer recorreu a uma decisão que condenou a empresa a pagar US$ 78,5 milhões ao ex-jardineiro Dewayne Johnson em agosto, o primeiro caso ligado ao Roundup a ser julgado.
A empresa disse que também recorrerá de uma segunda derrota, no qual um júri decidiu, em março, deste ano que a companhia deveria pagar mais de US$ 80 milhões a um residente da Califórnia, Edwin Hardeman.
Fonte: ESTADÃO CONTEÚDO