Um seleto grupo de pecuaristas brasileiros apostaram em investimentos certeiros no ano passado. Na média, a cada R$ 1 que eles investiram, cada um ganhou R$ 1,24. O retorno de 24 centavos de real parece pouco, mas não é. Representou um retorno de 23,83% do valor investido num período curtíssimo de 98 dias. Por mês, a taxa de lucro foi de 7,33%. Investimento nenhum garantiria um retorno dessa ordem, em 2020, a não ser o confinamento bovino.
Este foi o resultado financeiro do grupo de nove produtores avaliados no Tour DSM de Confinamento do ano passado, apresentado numa conferência on-line na manhã desta quinta-feira (4/3). O projeto é desenvolvido a seis anos pela empresa de nutrição animal DSM, com o apoio do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), de Piracicaba (SP). A iniciativa faz uma avaliação econômica de cada produtor acompanhado e mostra o desempenho da atividade em cada ano.
“Em todos esses seis anos, provamos que lucra quem investe na atividade de confinamento. Dessa vez o lucro foi muito maior, fora da curva até”, diz o zootecnista Marcos Baruselli, gerente de categoria Confinamento da DSM.
Em 2015, quando começou a iniciativa, a taxa de lucro foi de 8,23%; em 2016, a taxa caiu para um retorno de 5,57%; em 2017, a taxa vai para 9,72%; em 2018, recuou para 7,72% e em 2019, a taxa foi de 12,92%, a maior, até então.
As nove fazendas confinadoras estão nos Estados de São Paulo, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Tocantins, Goiás e Minas Gerais. Os bovinos confinados foram avaliados critérios como dias de cocho, peso vivo inicial (Kg e @), ganho de peso por dia (Kg), ganho médio diário de carcaça (Kg), peso vivo final (Kg e @), rendimento de carcaça (%) e arrobas produzidas por animal.
Comparação
O resultado é superior inclusive à média de confinamento de bovinos nacional, estimada pelo Agribenchmark e Cepea, em 10,1%. O resultado dos confinadores do Tour supera os confinamentos dos Estados Unidos e na Austrália, principais concorrentes do Brasil no mercado de carne bovina. Nesses países, os confinamentos registraram taxas médias de lucro de 8,1% e 9,8%.
“Nos Estados Unidos, por exemplo, teve um misto de custos altas, no começo do ano, e depois uma queda de preços do boi”, explica o economista agroindustrial Thiago Bernardino de Carvalho, pesquisador do Cepea.
Ritmo de alta
Para os especialistas, o ritmo de confinamento deve crescer este ano, e a projeção de rentabilidade continua. Levando em conta 95 dias de confinamento este ano, o milho na faixa de R$ 83,97, um boi magro de R$ 4,5 mil e uma diária de alimentação de R$ 15,22, a rentabilidade por mês pode ser de 3,72% e 12,07%, durante todo o período.
“Isso significaria um custo por arroba de R$ 265 até R$ 280, no máximo. Com um preço por arroba a cerca de R$ 310, a margem é de R$ 30 por arroba. Se eu pensar num boi de 20 arrobas ou 22 arrobas eu estou falando de uma margem pura de R$ 600 por animal”, diz Carvalho.
Segundo Baruselli, negócios atravessando a fronteira de R$ 310 já estão acontecendo e podem estimular ainda mais o confinamento.
“Conversando com um confinador, o boi China que está sendo cotado a R$ 310, dependendo das premiações, pode atingir cerca de R$ 320. Então já tem hoje confinador matando boi gordo por R$ 320 por arroba. Isso cobre todos os custos de produção e deixa no lucro para o confinador”, diz Baruselli.