Atualmente, comercializa-se touros e fêmeas para reprodução quase que o ano inteiro, mas a próxima estação de monta se aproxima e a agenda se intensificará. Muitos pecuaristas começam agora a definir seu comportamento de compra e venda.
O ano de 2022 mostra um bezerro desmamado não tão valorizado, o abate de matrizes cresceu e, apesar da entressafra e do mercado externo aquecido, a arroba do boi gordo está tímida e o mercado futuro com o freio de mão puxado.
Inversão de ciclo como no passado? – Lourenço Miguel Campo, diretor da Central Leilões, não acredita em prática de preços para reprodutores e novilhas de cria diferentes de 2021.
“O pessoal está falando em inversão de ciclo pecuário, mas eu acho que o atual mercado é muito dinâmico e cada vez mais sensível ao dia a dia da economia como um todo”, avalia.
Campo percebe que a conjuntura muda de uma hora para outra.
“De fato o bezerro caiu bem. Só que semanalmente as notícias sobre exportações de carne bovina dão manchetes sobre recordes, então, agora na primeira quinzena de julho, as cotações das crias desmamadas já reagiram”, reforça.
E de fato, muitos produtores de bezerros nem tiveram a oportunidade de sentir o peso das quedas. Em 5 de julho, Pedro Barbizan Santiago Leite, da Fazenda Boi Verde (Tupã, SP), já dava declarações ao Portal DBO reforçando a análise de Campo.
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Ele coloca no mercado, anualmente, 1,3 mil bezerros desmamados para recria e engorda. Em sua análise, o período ainda é de “transição de ciclo”, e a desvalorização ainda não castigou tanto. Nas cotações de sua praça, a é de R$ 500 a R$ 600 per capita. “Não me passa pela cabeça reduzir os investimentos em genética, exatamente o que mais garante a qualidade dos meus produtos”, afirma Leite.
Um mercado muito mais sensível – Para Lourenço Campo, a conjuntura está muito frágil no sentido de permitir “vislumbrar” futuros.
“De repente, essa inversão ciclo para o abate de fêmeas até se interrompe. Então não acredito que o mercado estará menos comprador do que no ano passado. Precisamos de mais algumas semanas para ter uma visão mais nítida”, pondera o leiloeiro rural.
Adriano Barbosa, maestro do martelo nas regiões Centro-Oeste e Norte, porém com boa agenda no Sudeste e Nordeste, aponta para um motivo que corre silenciosamente nesse contexto de aumento do abate de fêmeas.
“Muito pecuarista está perdendo espaço para criar, em função da forte pressão de lavouras como a de soja e milho. É obrigado a se desfazer”, explica.
No entendimento do leiloeiro, a queda da cotação do bezerro, redução do plantel de matrizes, aumento do consumo interno e mercado externo ávido, no segundo semestre; apoiados pelo pico da entressafra, “vão trazer os preços para os eixos e o bezerro vai acabar se valorizando”. Nesse cenário, os consumidores de genética por meio de touros e fêmeas melhoradores “vão ter de trabalhar”, em 2022.
Questão de acertar as passadas – Um agente que acredita na manutenção de cotações firmes, porém somente para os reprodutores, é Marcelo Silva, da Trajano Silva Leilões, empresa bastante atuante no Sul do Brasil e também no MS. No Rio Grande do Sul, antes uma boa cria alcançava R$ 15/kg; hoje, R$ 12,50/kg, queda de 17%.
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Contrariando uma parte dos analistas, ele avalia que as fêmeas destinadas à reprodução vão sofrer ligeira queda, em relação a 2021, pois “se o bezerro desmamado perde valor, sua mãe, naturalmente, também; salvo se algo extraordinário acontecer e, aí, o extraordinário”!
Para o empresário e leiloeiro, ainda falta aos pecuaristas maior familiaridade com as inversões do ciclo pecuário, uma contingência cíclica na atividade que sempre gera abalos, apesar de historicamente rotineira.
“É algo difícil ainda de entrar na cabeça de um forma mais coletiva, como é de enxergar o incremento na remuneração que o uso de tecnologias traz à atividade; vide a integração lavoura pecuária (ILP) ou mesmo lavoura pecuária floresta (ILPF)”, conclui.