Para tratar – bem – das vacas na próxima seca, prepare-se desde já

Parece distante, mas a próxima seca precisa ser prevenida agora. O produtor tem de ter uma fonte de volumoso reservada para fornecer aos animais quando faltar pasto.

Falta de comida afeta a produção de leite e o processo reprodutivo.
Por Niza Souza 

O inverno mal terminou, mas já é hora de pensar na produção de alimentos para a próxima seca. No Brasil, a falta de comida de qualidade para o rebanho nesse período é um dos maiores fatores de queda da produção de leite. Além disso, os animais emagrecem e todo o processo reprodutivo fica comprometido – e traz prejuízo. Por isso, o produtor tem de ter uma fonte de volumoso reservada para fornecer aos animais quando faltar pasto.

Não há um receita pronta, até pela diversidade de solos e climas do país. Mas o sucesso na produção do volumoso começa muito antes da semeadura, com a análise de solo, escolha da espécie e cultivar com características adaptadas ao clima da região. Para a pesquisadora Maryon Strack Dalle Carbonare, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), um dos aspectos mais importantes é o manejo agronômico adequado da lavoura (adubação, tratamento de sementes, controle fitossanitário).


Segundo ela, existe uma série de espécies forrageiras capazes de serem conservadas mantendo sua qualidade nutricional. Quando se pensa em volumoso energético, as silagens de milho, sorgo e cana-de-açúcar são as mais utilizadas. Porém, nas regiões de clima subtropical, com temperaturas mais amenas, a produção de cana se torna difícil, pois a cultura não tolera a geada. Neste caso, é possível produzir forragem de inverno de excelente qualidade com aveia, azevém, entre outras.

Cana: eficiente para produção de volumoso, mas não suporta geada.

“Pensando em volumoso proteico, as silagens de capim também podem ser uma opção de volumoso conservado. Capim elefante, milheto (ambos do gênero Pennisetum), e alguns panicuns e cynodons são mais indicados”, frisa a pesquisadora.

Matéria seca

Além da produção, é preciso pensar na conservação do volumoso. Um dos principais fatores responsáveis pelo sucesso é o teor de matéria seca, e cada forragem tem seu ponto de corte ideal para ensilagem. Forragens colhidas muito cedo, ensina Maryon, acarretam menores produções de massa por hectare e menor qualidade nutricional. O excesso de umidade acarreta a fermentação butírica (reação química realizada por bactérias anaeróbicas) e produção de efluentes (chorume) que apresentam grande potencial poluente.

Em estágios de colheita mais avançados, quando a planta já está madura, a qualidade da fibra começa a cair. Há menor disponibilidade de nutrientes. Além de prejudicar a compactação, com presença de maior quantidade de oxigênio, o excesso de matéria seca favorece o desenvolvimento de fungos e reduz a qualidade da forragem.

Para a silagem de planta inteira de milho, teores em torno de 30-35% de matéria seca são mais indicados. Já para as silagens de sorgo, teores entre 28-33% estão próximos do ideal, quando o grão está farináceo no meio da panícula. “O produtor pode avaliar isso facilmente usando uma balança e um forno de micro-ondas”, ensina a pesquisadora. Para a cana de açúcar, o ponto ideal de corte para uso picado no cocho ou ensilagem é entre 28 e 33% de matéria seca.

Já as silagens de capim têm um alto teor de umidade. O momento ideal de corte é quando a planta se encontra com teores acima de 20% de matéria seca e quantidades satisfatórias de nutrientes e carboidratos fermentáveis. “A exposição ao sol logo após o corte faz com que o material cortado desidrate parcialmente, aumentando a concentração de matéria seca da forragem e permitindo a produção de silagem com bom valor nutritivo”, diz Maryon, frisando que quando cortadas, as gramíneas irão apresentar cerca de 20% de matéria seca e quando expostas ao sol no campo esse índice chega rapidamente a 35%, valor considerado ideal para a ensilagem.

A pesquisadora recomenda um tempo de exposição ao sol que pode variar de 4 a 12 horas, dependendo da quantidade de água presente na pastagem e da intensidade da radiação solar, temperatura e ventos. “A aplicação de sequestrantes de umidade é uma técnica que ajuda a corrigir a matéria seca, estimulam a fermentação dos capins sem precisar do emurchecimento; os farelos são os materiais mais utilizados.”

Ainda segundo Maryon, “Não existem segredos para a produção eficiente de alimentos volumosos de qualidade. Porém todas as etapas requerem cuidado, atenção e capricho. Seguir as técnicas básicas de manejo de lavoura, ponto de corte, tamanho de partículas, compactação, vedação do silo e retirada da silagem proporcionarão um alimento conservado de qualidade. É sempre recomendado que o produtor consulte um técnico. Esse profissional vai visitar a propriedade, conhecer a área e auxiliar o pecuarista na hora de decidir pela melhor opção para as condições do local.

Publicado na edição de Nº 86 da Revista Mundo do Leite.

Clique e Assine a Revista DBO

Facebook
Twitter
LinkedIn
Pinterest
Pocket
WhatsApp
Skype
Email
Telegram
Facebook
Twitter
LinkedIn
Pinterest
Pocket
Email
Tumblr
Print

Veja também:

Encontre as principais notícias e conteúdos técnicos dos segmentos de corte, leite, agricultura, além da mais completa cobertura dos leilões de todo o Brasil.

Encontre o que você procura: