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Maristela Franco

Pesquisa impulsiona engorda intensiva

Associação de aditivos foi uma das frentes de pesquisa, visando responder dúvidas surgidas no campo.

O confinamento no Brasil não teria atingido o nível de profissionalização que tem hoje sem o apoio da pesquisa, que deu forte impulso à atividade, como mostraremos nesta segunda edição do Projeto DBO-Agroceres Multimix. Nos últimos 30 anos, houve uma verdadeira “revolução no cocho” (veja reportagem anterior desta série, publicada em junho). As dietas foram ficando mais “densas” em energia e incorporando novos ingredientes (soja grão, ureia protegida, gordura, silagem de grãos úmidos, DDG), para aumentar o ganho de peso e produzir carcaças cada vez mais pesadas. Também passaram a incluir aditivos que fazem total diferença no desempenho, saúde e bem-estar dos animais.


O confinamento no Brasil não teria atingido o nível de profissionalização que tem hoje sem o apoio da pesquisa, que deu forte impulso à atividade, como mostraremos nesta segunda edição do Projeto DBO-Agroceres Multimix. Nos últimos 30 anos, houve uma verdadeira “revolução no cocho” (veja reportagem anterior desta série, publicada em junho). As dietas foram ficando mais “densas” em energia e incorporando novos ingredientes (soja grão, ureia protegida, gordura, silagem de grãos úmidos, DDG), para aumentar o ganho de peso e produzir carcaças cada vez mais pesadas. Também passaram a incluir aditivos que fazem total diferença no desempenho, saúde e bem-estar dos animais.

A pesquisa procurou dar respostas rápidas às demandas vindas do campo e evoluiu junto com a engorda intensiva, contribuindo decisivamente para seu desenvolvimento, especialmente após o salto tecnológico ocorrido há 20 anos, com a adoção de dietas de alto concentrado, favorecidas, à época, pela fartura de grãos baratos. É bom lembrar que, durante décadas (1960 a 1990), o confinamento brasileiro adotou rações à base de volumosos, principalmente silagens de milho, sorgo, milheto e capim, mas também bagaço de cana hidrolisado e cana crua picada. Não se dava grande importância à eficiência alimentar, pois o lucro vinha da transação comercial (ágio de entressafra).
O perfil das dietas começou a mudar somente em meados dos anos 2000, com a inclusão de maior quantidade de grãos e subprodutos (casquinha de soja, caroço de algodão, polpa cítrica etc) nas formulações. Em 2010, 42,2% dos nutricionistas entrevistados no levantamento feito pela Unesp-Dracena já trabalhavam com rações contendo de 81% a 90% de concentrado, um feito inédito para o País. Paralelamente, surgiram as dietas de grão inteiro, com pouco ou nenhum volumoso, que ganharam espaço especialmente nos confinamentos de pequeno e médio portes, em função da maior praticidade no preparo e distribuição.
Tantas mudanças exigiram uma série de trabalhos de pesquisa, conduzidos tanto por instituições públicas quanto por empresas do setor. “Nos últimos nove anos, fizemos diversos experimentos visando desenvolver soluções que possam ser levadas ao campo e também responder dúvidas surgidas no dia a dia das fazendas, como por exemplo: qual o percentual máximo de inclusão de ureia protegida nas dietas de animais confinados? Como trabalhar, de forma eficiente, com soja-grão? Qual a melhor forma de produzir silagem de milho ou sorgo reidratados?”, explica Matheus Moretti, gestor técnico da Agroceres Multimix, empresa que possui um centro de pesquisa próprio para aves, suínos e bovinos, em Patrocínio (MG), além de dois polos de pesquisas para condução de experimentos, a Fazenda Jumari, em Ipiaçu, no Triângulo Mineiro, e a Novapec, em Rondonópolis, MT.

Centro de Pesquisa da Agroceres Multimix em Patrocínio (MG) conduz experimentos com três espécies animais: bovinos, suínos e aves.

Protagonismo dos aditivos

A migração das dietas de alto volumoso para as de alto concentrado, nos anos 2000, possibilitou grande avanço em termos de desempenho animal (o ganho de peso médio passou de 1,3 para 1,5-1,6 kg/cab/dia), mas exigiu aperfeiçoamento técnico dos confinadores, pois rações contendo muito amido são “desafiadoras” para os animais, ou seja, quando mal manejadas, podem causar acidose e outros distúrbios metabólicos. Para evitar esses problemas, os nutricionistas passaram a usar mais aditivos, que ganharam protagonismo antes nunca visto nas dietas bovinas. Os mais usados são os ionóforos (lasalocida, monensina, salinomicina, narasina), antibióticos produzidos por bactérias do grupo Streptomyces que atuam, ao mesmo tempo, como coccidiostáticos e promotores de crescimento. Descobertos na década de 50, eles começaram a ser fornecidos aos bovinos nos anos 70, mas chegaram ao “cocho brasileiro” na segunda metade dos anos 80, com destaque para a monensina, mais usado e estudado dos ionóforos.
Já na década seguinte, um forte movimento surgido na Europa contra o uso indiscriminado de antibióticos nas dietas bovinas estimulou o emprego de aditivos alternativos ou naturais, ampliando o leque de opções, como mostrou reportagem de capa de DBO, publicada em agosto de 1999. Conforme especialistas ouvidos à época, os aditivos mudaram o foco dos estudos sobre nutrição, que passaram a se concentrar nos processos fisiológicos da digestão e alternativas para torná-la mais eficiente. Esse esforço de pesquisa continuou nas décadas seguintes, principalmente após 2010, quando as rações de alto concentrado (no caso de São Paulo, usando muito resíduo de indústrias) demandaram ajustes finos, como a associação de aditivos complementares. “Tanto os estudos que realizamos quanto os de instituições de pesquisa confirmam que essa associação confere maior segurança à dieta, reduzindo distúrbios metabólicos e garantindo melhor desempenho animal, em comparação com um único aditivo. Fomos uma das primeiras empresas a usar monensina junto com virginiamicina e, nos últimos anos, testamos várias outras combinações igualmente vantajosas”, informa Moretti.
Uma das pesquisas, inclusive, quebrou um paradigma: mostrou que é interessante usar dois aditivos até mesmo em dietas menos desafiadoras (com mais volumoso). “Se pensarmos nesses produtos apenas como controladores do pH do rúmen e da produção de ácido lático causador de acidose, acabamos usando apenas um aditivo, pois o maior teor de fibra já reduz o risco de distúrbios metabólicos. Acontece, porém, que os produtos não têm apenas este modo de atuação: eles também ajudam na seleção de bactérias ruminais, melhorando a produção de energia a partir da dieta consumida. Partindo dessa premissa, decidimos testar a associação de monensina com bacitracina de zinco, em comparação com a monensina sozinha, em bovinos alimentados com rações de baixo e alto volumoso (15% e 30% de silagem de milho, respectivamente). O resultado foi muito positivo: o lote tratado com alto volumoso + 2 dois aditivos ganhou 60 g a mais de carcaça por kg de PV do que o que recebeu a mesma dieta + monensina sozinha, o que possibilitou igualar o resultado do lote tratado com baixo volumoso”, relata Moretti.

Novas frentes

Concluída essa etapa de pesquisas, a empresa decidiu avaliar o bem-sucedido casamento da bacitracina de zinco com a monensina em dietas bastante desafiadoras, para avaliar melhor seu espectro de atuação. Os testes foram conduzidos no centro de pesquisa de Patrocínio e, posteriormente, em 400 animais do rebanho comercial da Fazenda Jumari, em Ipiaçu (MG). “Desafiamos essa combinação de aditivos em animais que receberam dieta contendo apenas 5% de volumoso (silagem de milho), 38% de silagem de grão úmido de milho, 28% de farelo de sorgo, 4% farelo de soja e 5% de núcleo. Os resultados foram muito bons, nada inferiores aos obtidos com outras combinações de aditivos encontradas no mercado. Os animais consumiram 11,2 kg de MS e ganharam 1,640 kg/cab/dia (1,020 kg de carcaça/cab/dia). “Também testamos a dupla bacitracina-monensina em parceria com a Universidade Federal de Lavras, que validou tudo o que havíamos constatado dentro de casa. Já são mais de 400.000 animais atendidos no País, nos últimos dois anos, com essa associação de aditivos”, destaca Moretti.
Segundo ele, outro experimento conduzido pela Agroceres Multimix em 2020 teve por objetivo avaliar qual o melhor núcleo para trabalhar com dietas de confinamento contendo DDG, um ingrediente cada vez mais usado no País. Após extensa revisão de trabalhos já realizados com esse produto e uma análise criteriosa de sua composição nutricional (que varia bastante, tanto no mercado nacional quanto internacional, em função do processo industrial adotado pelas usinas), foram estabelecidas algumas hipóteses para testagem no centro de pesquisa da empresa. “Antecipando algumas informações para os leitores da DBO, vimos, por exemplo, que aditivos que atuam modulando a quebra da proteína no rúmen não são boa opção para esse tipo de dieta”, revela Moretti.

Nas próximas edições da Revista DBO, publicaremos o último artigo desta série, dessa vez sobre verticalização.

Matéria publicada na Ed. 490 da Revista DBO - Maristela Franco.

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