Parte 1: Metionina – o aminoácido essencial que faltava para maximizar a produção do seu rebanho

A metionina (MET) é um dos aminoácidos mais estudados na nutrição de ruminantes, principalmente em vacas leiteiras, por ser o principal aminoácido limitante em dietas com alta inclusão de forragens.

De olho na estação de monta

A metionina (MET) é um dos aminoácidos mais estudados na nutrição de ruminantes, principalmente em vacas leiteiras, por ser o principal aminoácido limitante em dietas com alta inclusão de forragens. Estudos com vacas de corte e leiteiras têm mostrado que a suplementação de MET protegida da degradação ruminal (MPDR) favorece a produção de leite e sólidos (proteína e gordura), melhora os índices reprodutivos, e propicia benefícios à saúde hepática e imunidade. Nesse artigo vamos dar foco aos benefícios da suplementação de MPDR na reprodução durante a estação de monta e de que forma esta suplementação alivia o estresse térmico neste período.


É sabido que as deficiências nutricionais podem reduzir a fertilidade e alterar o desenvolvimento embrionário e fetal em vários estágios da gestação (Hansen et al., 2014; Bazer et al., 2011), podendo também levar a perda de prenhez (Roche et al., 2011; Lucy et al., 2014). Estudos recentes mostraram que a suplementação de MPDR em vacas leiteiras aumenta os níveis de MET plasmática e consequentemente os níveis de MET no líquido folicular, levando ao desenvolvimento embrionário precoce (tamanho de embrião), e aumento de lipídios no embrião, servindo como fonte de energia no período pré-implantação (Bonilha et al., 2010; Ikeda et al., 2012; Acosta et al., 2016). Outro dado importante foi a melhora na saúde uterina medida pela menor quantidade de células polimorfonucleares (PMN) em vacas alimentadas com MPDR (Stangaferro et al., 2017). A suplementação com MPDR mostrou, portanto, benefícios tanto no embrião quanto na saúde uterina, resultado em diminuição de perda de prenhez aos 60 dias (Toledo et al., 2017; Stangaferro et al., 2017).

Durante o período de estação de monta (outubro a março) há uma variação na oferta e qualidade das pastagens. É um engano achar que a proteína bruta total fornecida pelas pastagens fornece todo o requerimento de proteína metabolizável que as vacas necessitam durante esse período para alcançar os melhores índices reprodutivos. As forragens são normalmente pobres em MET e em torno de 80% dos aminoácidos das mesmas são degradados no rúmen por bactérias, servindo como substrato para estes microrganismos. Assim, a suplementação de fontes protegidas é necessária para suprir o requerimento nutricional e funcional (saúde e reprodução) das vacas.

Outro desafio durante o período de estação de monta é o aumento da temperatura e umidade do ar, representadas pela sigla THI (do inglês Temperature Humity Index), usada para medir o estresse térmico (ET) dos animais. Existem vários estudos mostrando o impacto negativo do ET na ingestão de matéria seca, crescimento, imunidade, produção de leite, eficiência na reprodução (Hahn, 1999), desenvolvimento folicular (Roth et al., 2000), qualidade espermática (Rahman et al., 2013), fertilização (Lacerda & Loreiro, 2015) e desenvolvimento embrionário (Edwards e Hansen, 1996; Fear e Hansen, 2011; Khodaei-Motlagh et al., 2011), além de comprometer o bem-estar animal. Sabemos que o desempenho reprodutivo em rebanhos de corte é um ponto essencial na garantia da máxima produção e retorno econômico. Assim, estratégias que diminuem os efeitos do ET são de grande importância na elevação dos indicadores de produtividade.

Além do desafio na reprodução, o estresse térmico ainda afeta o metabolismo proteico pós-absortivo, levando a mudanças na quantidade de tecido magro na carcaça em diferentes espécies animais (Close et al., 1971; Schmidt et al., 1967; Geraert et al., 1996), ocasionado pela proteólise como rota energética (Baumgard et al., 2013). Dessa forma, a vaca  mobiliza tecido muscular para extrair AA que serão usados para suprir o requerimento enérgico, entre eles a metionina, que além das outras funções metabólicas já mencionadas, também é precursora de importantes antioxidantes como glutationa e taurina. Estudos têm mostrado que em momentos de estresse, os animais que haviam recebido MPDR tiveram aumento nos índices de glutationa, indicando melhor saúde hepática e menor estresse oxidativo dos tecidos (Osorio et al., 2011; Zhou et al., 2016).

Levando em consideração os resultados positivos já comprovados em vacas leiteiras em relação a melhora na reprodução e saúde quando suplementadas com MPDR, o grupo de pesquisa NUPEEC da Universidade Federal de Pelotas realizou uma série de experimentos para responder se a suplementação de MPDR (Smartamine® M – Adisseo) junto ao sal mineral durante o período de estação de monta melhoraria os índices reprodutivos de novilhas e vacas lactantes de corte Aberdeen Angus. A suplementação foi iniciada nos 30 dias anteriores ao início do protocolo de IATF até o diagnóstico de prenhez aos 30 dias de inseminadas. A temperatura corporal interna foi medida com a utilização de termômetro digital acoplado ao dispositivo de progesterona durante 8 dias, registrando a temperatura das vacas a cada 15 minutos.

Vacas e novilhas suplementadas com MPDR ao final do período experimental apresentaram menores temperaturas internas quando comparadas ao grupo controle (P≤0,001). Nos horários de THI (>68) mais elevados (entre 12:00 e 17:30), o grupo com MPDR apresentou menores temperaturas internas durante os 8 dias de medições (Domingues et al., 2017; Balinhas et al., 2019).

Gráfico 1: Porcentagem do tempo em que a temperatura vaginal foi superior a 39.2oC durante o protocolo de IATF.

 

Não foram observadas diferenças no desenvolvimento das novilhas, bem como resultados expressivos na taxa de prenhez. Porém, as vacas do grupo suplementado com MPDR apresentaram maior diâmetro folicular no dia 10 (P<0,05) (17,17±0,62 vs. 14±0,59), bem como aumento na taxa de prenhez de 8.6 pontos percentuais (77,1 vs. 68.5 %) ao diagnóstico com 60 dias comparado ao controle, além de redução de 5,2 pontos percentuais (6,4 vs. 11,6 %) em perda de prenhez no diagnóstico aos 30 dias.

Em outra ocasião, foram realizadas avaliações de campo em 5 fazendas com vacas Nelore divididas em grupo controle (n = 663) e grupo suplementado com MPDR (Smartamine® M, n = 567) durante a estação de monta, mostrando aumento de 6,7 pontos percentuais (58,7 vs. 52,0 %) na taxa de prenhez para o grupo suplementado, na avaliação do primeiro diagnóstico.

Em resumo, o aumento na taxa de prenhez pode ser explicado pela contribuição da MET no desenvolvimento do embrião e melhora do ambiente uterino, promovendo assim, uma maior taxa de sobrevivência do concepto. A redução da temperatura corporal afeta positivamente o metabolismo hepático, a absorção de nutrientes, e a menor degradação de tecido muscular (proteólise).

Portanto, os estudos mostram os benefícios da suplementação de MET protegida para vacas de corte, assim como já comprovado em vacas leiteiras. Nas próximas edições iremos discutir um pouco mais sobre metabolismo e condição corporal das vacas nesses estudos.

 

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