Ainda não tem uma data certa, mas até o final deste mês de julho, uma missão de pecuaristas, governo e técnicos em vigilância sanitária começam a delinear um plano estratégico para coibir a venda ilegal de animais vindos da Bolívia. A ideia é firmar um plano menos burocrático entre os países, barrando o comércio ilegal que cresce na região de fronteira entre os dois países.
Na sexta-feira passada (2/7), a Associação de Criadores de Mato Grosso (Acrimat) emitiu um alerta para o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) sobre a entrada ilegal de bovinos da Bolívia para o Brasil. A comunicação foi feita a partir da denúncia dos sindicatos rurais de Vila Bela da Santíssima Trindade, Pontes e Lacerda, e Cáceres.
Naquela mesma semana, o Instituto de Defesa Agropecuária do Estado de Mato Grosso (Indea), comunicou a apreensão e o sacrifício de 17 bovinos, que estavam sem certificação de saúde animal e protocolo de comércio internacional.
A situação, além de trazer riscos de doenças já erradicadas como a febre aftosa ou até que estão sob controle no Estado, como a brucelose, também está na falta de recolhimento de impostos.
Powered by DBO Ads Pro“Não somos contra a venda de animais entre os países, no entanto precisamos estabelecer critérios e um protocolo para facilitar esse tipo de comércio e eliminar o problema da entrada ilegal de animais”, diz o médico veterinário Francisco de Sales Manzi, diretor técnico da Acrimat.
Se for seguido o atual protocolo de comércio de animais da Bolívia para o Brasil, cada operação pode levar até três meses para ser concluída. Para Manzi, que quer se reunir com autoridades bolivianas, o ideal é discutir uma forma para desburocratizar esse processo, sem colocar em risco o sistema brasileiro de vigilância sanitária.
A comitiva deve ser formada com representantes da Acrimat, do Indea, do Mapa, além de lideranças da pecuária da região de fronteira entre o Brasil e a Bolívia e representantes do ministério da Agricultura e de vigilância sanitária da Bolívia.
Fronteira preocupante
Uma fronteira seca de cerca de 740 km é a divisa entre a Bolívia e Mato Grosso. Não há números precisos sobre a entrada de animais, mas segundo a pecuarista Ida Beatriz Machado de Miranda Sá, presidente do Sindicato Rural de Cáceres, é possível que o número já esteja na casa dos milhares.
“Os 17 animais abatidos recentemente é um número pequeno. Mas creio que sejam milhares de cabeças que já devam ter entrado no País”, diz Ida.
A atratividade de preços é o que vem aquecendo a entrada ilegal desses animais, que, em geral, são de bovinos para terminação no próprio Estado ou até em outros Estados do País.
“A diferença de preços é gritante e pode variar de R$ 1.000 a R$ 1.300. Nosso bezerro é cotado em cerca de R$ 3.600. E o que temos notícia é que o bezerro boliviano está na faixa de R$ 2.200 a R$ 2.300. É uma concorrência desleal”, alerta a pecuarista.
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A região de Cáceres é justamente forte produtora de bezerros, e cada vez vem percebendo que o problema está se agravando. Assim, como Manzi, Ida não é contra o comércio, no entanto, defende que seja feito dentro dos critérios.
“Vale ressaltar que o trabalho para regularização de importação de gado de outros países é importante e salutar. Precisamos apenas adequá-lo. E só conseguiremos fazê-lo com a união de vários atores do setor tanto público quanto privado”, diz Ida.