O valor do boi gordo gira ao hoje ao redor de R$ 300/@, mas a maioria dos pecuaristas brasileiros ainda não tem muitos lotes de gado terminado para vender, pois o processo de engorda a pasto foi postergado devido ao atraso do período de chuvas nas regiões pecuárias do Brasil-Central, o que comprometeu a recuperação das pastagens.
Porém, uma das maneiras para aproveitar os bons preços é lançar mão de mecanismos de proteção (hedge) na bolsa de mercadorias B3. No entanto, atualmente, os valores futuros da arroba indicados para o segundo semestre estão “tímidos”, abaixo das cotações atuais registradas no mercado físico de São Paulo (o contrato com vencimento em outubro, pico da entressafra, fechou ontem a R$ 293,95/@), enquanto no fíco, como já mencionado acima, gira acima de R$ 300/@.
O analista Hyberville Neto, da Scot Consultoria, diz que o mercado futuro está precificando um contrato para maio/21 próximo da movimentação média de anos de retenção de fêmeas (quando se tem uma arroba mais forte), mas para outubro está perto da média de anos de descarte de fêmeas (quando se tem uma arroba mais fraca). “Há muita água para rolar e incontáveis variáveis à mesa, mas é possível que as cotações para outubro, embora já em alta, ainda estejam pessimistas”, afirma ele.
Portanto, na sua avaliação, atualmente, garantir preços mínimos para o boi gordo na B3 (considerando os contratos futuros para o segundo semestre) talvez não seja interessante para o pecuarista neste momento.
Segundo Neto, há possibilidade de arroba subir ainda mais de preços nos próximos meses, motivadas sobretudo por fatores externos. “Temos casos recentes de peste suína africana na China, o que pode influenciar negativamente a retomada da produção de carne suína no país, aumentando a demanda por importações, beneficiando as vendas brasileiras de carne bovina”, avalia. No ano passado, o avanço dos embarques foi o principal responsável pela explosão nos preços internos do boi gordo, juntamente com a conjuntura de oferta escassa de animais para abate.
A evolução da imunização contra a Covid-19 no Brasil e no mundo vai ajudar a dar o tom do mercado, tanto em relação ao câmbio (influenciando as exportações brasileiras de carne), como da demanda doméstica, acrescenta Neto
Nesta terça-feira (9/2), a DBO trocou mensagens com Hyberville Neto. Confira:
DBO – Os preços futuros da arroba para outubro estão tímidos, abaixo dos valores atuais, de fevereiro. Nessa situação atual, então, é melhor não garantir preços mínimos para o período de entressafra? É melhor esperar mais um pouco? Qual seria a estratégia de proteção de preços para este ano (pensando nos dias atuais)?
Neto – Focando no mercado, o outubro não parece estar bom. Aí entra na questão de risco e retorno, o quanto de risco que o pecuarista está disposto a assumir. Daqui até outubro há muito o que acontecer para influenciar os preços (gerando risco). Por outro lado, historicamente outubro não está atrativo mesmo.
DBO – O que fazer, então?
Neto – É uma avaliação de cada sistema (considerando as particularidades de cada pecuarista, como a situação de caixa, etc). As opções de venda, para garantir preços mínimos (para arroba do boi gordo), se estiverem disponíveis, geram uma trava com possibilidade de ganho na alta, o que é muito interessante. No entanto, como o contrato de outubro está distante, isso encarece a compra de tais opções. Se aparecer uma trava de preços mínimos viável, seria a opção; se não tiver isso e a possibilidade for travar o valor fixo mesmo, aí é avaliar a sua realidade.