A queda da produção de milho na China tem elevado os preços domésticos da commodity aos níveis mais altos dos últimos quatro anos. Isso ocorre num momento de relações tensas entre o país e seus principais parceiros comerciais.
Desde janeiro, os preços dos contratos futuros de milho na Bolsa de Commodities de Dalian subiram 10%, para cerca de 2 mil yuans (US$ 289) a tonelada. Os preços estão próximos dos registrados no verão de 2015, meses antes de o governo chinês acabar com um programa de preço mínimo aos produtores de milho do país.
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Depois que as garantias do governo foram eliminadas, os preços do milho caíram para os níveis mais baixos da década. O motivo foram os enormes estoques do grão que precisavam ser vendidos. Alguns agricultores chineses migraram para outras culturas com melhores retornos, como soja e trigo.
Enquanto isso, à medida que os preços do milho caíam, aumentava a demanda de produtores de ração animal e etanol. A China é o segundo maior produtor e consumidor mundial de milho, que é usado principalmente em ração animal e na fabricação de etanol.
Em 2018, pela primeira vez em sete anos, a produção chinesa de milho foi insuficiente para atender à demanda interna. Esse déficit deverá aumentar nos próximos dois anos, de acordo com o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), e isso está elevando os preços internos.
Outra questão complicada para a agricultura local é a ameaça da lagarta-do-cartucho, que, em janeiro, foi encontrada pela primeira vez na China e vem aparecendo em plantações de milho e arroz na Ásia. A propagação do inseto pode reduzir os rendimentos das safras, embora ainda não tenha atingido as principais regiões de cultivo de milho da China.
As tensões comerciais com os EUA limitaram a capacidade da China de importar milho do maior produtor mundial. Pequim impôs tarifas de até 90% sobre o milho norte-americano. Os preços do milho nos EUA, por sua vez, subiram cerca de 18% desde meados de maio, porque o clima úmido vem atrasando o plantio.
Normalmente, quando os preços do milho na China estão altos, parte dele é substituída por importações de outros grãos, como sorgo ou cevada. Porém, as tensões comerciais com grandes produtores dessas commodities – incluindo a Austrália e os EUA – também as tornaram mais caras ou mais difíceis de importar, disse Darin Friedrichs, analista sênior de commodities da INTL FCStone na Ásia.
No ano passado, o Ministério de Comércio da China passou a investigar alegações de que fornecedores australianos de cevada estariam praticando dumping na exportação do produto, depois de terem recebido subsídios do governo.
Lief Chiang, analista de grãos e oleaginosas do Rabobank na China, disse que os preços do milho podem subir ainda mais neste verão se o impasse entre os EUA e a China continuar e não houver novas políticas governamentais que incentivem a produção doméstica de milho.