Com a ausência de posição do governo chinês em relação ao retorno das exportações de carne bovina brasileira e um consumo doméstico ainda bastante compassado, os abates de boiadas gordas reduziram expressivamente no País, o que explica o fortalecimento do movimento de queda nos preços da arroba, informa o zootecnista Felipe Fabbri, analista de mercado da Scot Consultoria.
Além disso, continua o consultor, o aumento da oferta de gado oriundo de confinamento colaborou com a pressão negativa.
Em setembro, a arroba do boi gordo recuou 5,6% nas praças de São Paulo, segundo levantamento da Scot Consultoria.
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Nesta quinta-feira (30/9), o último dia de setembro, o mercado paulista do boi gordo registrou mais uma queda diária, de R$ 2/@, colocando o valor da arroba em R$ 293/@, preço bruto e a prazo, de acordo com apuração da Scot.
Por sua vez, nas mesmas regiões de São Paulo, a vaca e novilha gordas são negociadas R$ 292,50/@ e R$ 288,50/@, a prazo.
Em Cuiabá, MT, os frigoríficos da região reduziram as ofertas de compra em R$ 2/@ pelo boi gordo e R$ 3/@ pela vaca e novilha gordas, nesta quinta-feira. Dessa forma, o boi é negociado em R$ 278/@, a vaca em R$ 269/@ e a novilha em R$ 272/@, informa a Scot.
Na avaliação da consultoria, no curto prazo, com uma quantidade de gado de confinamento “represada”, o cenário baixista nas cotações dos animais terminados deve seguir.
“Passada essa pressão maior, a expectativa é de que o ritmo de vendas para o mercado externo siga firme até o final do ano”, prevê Felipe Fabbri.
Segundo ele, o maior consumo interno de carne bovina esperado para o último trimestre do ano, além de um ano de oferta enxuta e pandemia mais controlada, traz expectativas positivas para o escoamento da proteína no País e, consequentemente, para os preços do boi gordo.
Segundo lembrou nesta quinta-feira o boletim da IHS Markit, o Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) declarou recentemente que ainda não tem como estabelecer uma data para retomada das exportações de carne bovina para a China, pois a decisão não cabe ao governo brasileiro.
O ministério disse ainda que também se predispôs a realizar uma reunião técnica de forma mais urgente, mas que ainda não foi agendada pelas autoridades chinesas, que alegam estarem analisando as informações enviadas.
Nesse contexto, diz a IHS Markit, muitas unidades de abate optaram por se manter fora do mercado brasileiro do boi gordo.
“A redução ou adiamentos nos abates, férias coletivas, entre outras medidas adotada pelas indústrias, tem como estratégia evitar um descompasso ainda maior entre oferta e demanda da carne bovina, principalmente diante de um eventual redirecionamento de mercadorias das zonas portuárias ao mercado doméstico”, observa a IHS.
Muitas unidades que saíram das compras nesta semana possuem escalas de abate prontas até o dia 9 de outubro e relataram também que passarão a receber ofertas de boiada gorda oriundas de confinamentos próprios nas próximas semanas, acrescenta a consultoria.
Do lado de dentro das porteiras, relata a IHS, o pecuarista não tem como reter por mais tempo os lotes no cocho, já que, além dos elevados custos com nutrição animal, há dificuldade de oferta de ração, sobretudo pela quebra de produção de milho safrinha (segunda safra do ano).
“O cenário é desanimador e muitos produtores aos poucos estão cedendo à pressão baixista”, ressalta a IHS.
Na bolsa B3, os contratos futuros do boi gordo também passaram a operar no campo negativo.
Em um ambiente tomado por incertezas, agentes vem liquidando posições à espera de novidades em relação ao impasse comercial com a China.
As expectativas se concentram na etapa final de 2021, diz a IHS.
“O último trimestre do ano costuma ser o pico de consumo no mercado doméstico”, ressalta a consultoria, lembrando que no período final do ano a China também eleva o fluxo de compra para se preparar para o ano novo lunar no país.
No atacado, os preços dos principais cortes bovinos, bem como do sebo e do couro industrial, se mostraram acomodados nesta quinta-feira, informa a IHS.
Apesar da chegada da virada de mês, o período ainda não deve gerar maiores estímulos quanto à retomada das vendas da proteína, relata a consultoria.
Cotações máximas desta quinta-feira, 30 de setembro, segundo dados da IHS Markit: