Aos poucos, as ideias brotam entre os produtores de leite do Oeste de Mato Grosso, mobilizados pelo whatsapp em busca de garantir preços melhores para o seu produto. Agora que o pagamento de dezembro caiu na conta, já sabem que nada mudou no posicionamento dos laticínios: nem mesmo a possibilidade de paralisação alterou a política de preço das indústrias da região, que de modo geral repetiram os valores pagos no mês anterior.
Esta semana, as lideranças do movimento se reuniram e decidiram que os produtores devem aguardar o início dos trabalhos da Assembleia Legislativa, no próximo dia 2, para propor, junto à Câmara Temática do Leite, a realização de uma audiência pública para organizar a paralisação. A “diretoria”, como é tratado o grupo que encabeça o movimento, avaliou que sem respaldo legal, logístico e financeiro não será possível promover um amplo debate presencial entre os produtores, para que o movimento tenha a maior representatividade possível.
Ideias
Nesse meio tempo, a rede de contatos foi sendo ampliada e até mesmo produtores ou pessoas ligadas à cadeia produtiva de outros estados passaram a participar das conversas, dando exemplo do que ocorre em suas regiões e sugerindo pautas para discussão. Assim, por exemplo, da Bahia veio a informação sobre o aplicativo criado pelo Laticínio Betânia, do Ceará, que informa ao produtor o volume diário coletado na propriedade, o saldo junto à indústria e o valor do litro a ser pago naquele mês. Uma das principais reclamações dos produtores mato-grossenses é justamente não saber quanto receberão pelo seu produto até o dia do pagamento.
Outra ideia, já encaminhada no Estado mas que ainda sofre resistência das indústrias, é a criação do Conseleite, a exemplo do que já acontece em estados como Paraná, Rio Grande do Sul e Minas Gerais. Uma instituição independente, como a Universidade Federal do Paraná, no caso paranaense, faz o levantamento dos custos de produção de leite das fazendas e das indústrias e depois de uma análise detalhada indica o preço de referência para o produto naquele mês. Assim como aconteceu em Minas Gerais, convencer as indústrias a abrir seus números é a parte mais difícil da empreitada, mas, assim como lá, não é impossível, e os produtores vêem a atual mobilização como uma oportunidade para avançar na criação do Conseleite-MT.
A ideia inicial de “soltar os bezerros” para forçar os laticínios a rever sua política de preços vem ganhando novos contornos. O resultado pode ser a evolução do relacionamento entre produtores e indústrias rumo a uma parceria efetiva, como já acontece em alguns casos, em que as indústrias oferecem assistência técnica e veterinária aos seus produtores. Se as indústrias e os produtores do oeste de Mato Grosso estão preparados para essa nova realidade é o que se verá em breve.