Qual a melhor alternativa para aleitar as bezerras?

Por Alexandre M. Pedroso – Engenheiro Agrônomo, Doutor em Ciência Animal e Pastagens, e Especialista em Nutrição de Precisão e Manejo de Bovinos Leiteiros. 

Um bom programa de criação de gado jovem deve ter por objetivo principal a “entrega” de novilhas parindo em boas condições, idealmente por volta dos 24-25 meses. Isso não é fácil de conseguir: em nosso país a idade média ao primeiro parto (IPP) das novilhas leiteiras se aproxima dos 30 meses, e isso tem um profundo impacto financeiro na fazenda. Para conseguir reduzir a IPP para próximo dos 24 meses é preciso cumprir algumas metas que são parâmetros fundamentais para garantir a eficiência do processo.

A primeira delas é garantir que as bezerras ingiram quantidade adequada de colostro de boa qualidade nas primeiras 24 horas de vida. Como não há transferência de anticorpos da mãe para o feto durante a gestação, as bezerras nascem sem proteção alguma, e dependem totalmente das imunoglobulinas (IgG) que recebem via colostro.


Uma colostragem bem feita deve garantir a ingestão de pelo menos 150 g de IgG nas primeiras 24 horas. A meta é que 48 horas após o nascimento as bezerras tenham no mínimo 10g IgG/litro de soro sanguíneo. Idealmente as fazendas deveriam avaliar a concentração de IgG no colostro e no sangue das bezerras, e durante muito tempo isso não era simples de fazer, mas atualmente é possível fazer essas avaliações facilmente utilizando-se um Refratômetro de Brix.

Isso ajuda muito a ter certeza de que o processo de colostragem foi bem feito. Além disso, é fundamental cuidar para que o colostro seja fornecido em quantidade adequada rapidamente após o nascimento da bezerra. Nossa recomendação é fornecer o colostro da primeira ordenha o mais breve possível, garantindo a ingestão de 10 a 15% do peso vivo (PV) em colostro (cerca de 4 litros) nas primeiras 6 horas de vida.

É preciso estar atento quanto ao aleitamento com leite não comercializado: há grande variação da sua composição de um dia para o outro.

Outro parâmetro importante, ou meta a ser atingida, é conseguir que aos 90 dias de vida a bezerra apresente pelo menos 17% do peso adulto desejado. Isso significa que se o PV adulto é de 600 kg, as bezerras deverão pesar pelo menos 102 kg aos 90 dias de vida. Para tal é preciso seguir um bom programa de aleitamento e iniciar precocemente o fornecimento de ração inicial.

O consumo de alimentos sólidos é restrito nas primeiras semanas de vida, mas é fundamental que sejam introduzidos precocemente para que o desenvolvimento do rúmen seja estimulado o quanto antes. O objetivo de um bom programa nutricional nessa fase é atingir consumo de ração inicial (concentrado) de 2 kg/dia para promover a desmama, entre 60 e 90 dias de vida. Obviamente essa ração deve ser de alta qualidade, contendo aditivos específicos que ajudem no desenvolvimento ruminal e na prevenção de doenças. Nos primeiros 90 dias a ocorrência de doenças (morbidade) não deve passar de 10% e a mortalidade de bezerras deve ficar abaixo de 5%.

É importante acrescentar que dada a maior disponibilidade de leite não comercializado nessa época de concentração de partos, é natural que as fazendas usem esse produto em larga escala para aleitar as bezerras. Nada de errado nisso, mas é preciso estar atento a alguns problemas associados ao uso desse leite. Normalmente observa-se grande variabilidade na composição desse leite de um dia para o outro, dentre outras coisas. Quanto maior a variabilidade na composição, mais difícil será para as bezerras alcançarem elevado desempenho nessa fase.

Em conversas com técnicos e produtores, sempre surge a pergunta: “Mas o leite não é o alimento ideal para as bezerras?” De fato o leite das fêmeas de mamíferos, como as vacas leiteiras, foi desenvolvido ao longo do tempo para que ofereça a melhor nutrição possível para as crias durante o período de aleitamento. No entanto, na natureza as bezerras não são desmamadas precocemente como nas fazendas leiteiras, e nesse caso o fornecimento de leite não comercializado pode não proporcionar as melhores condições para que o crescimento das bezerras seja o mais eficiente.

De acordo com o NRC (2001), para que as bezerras tenham o melhor desenvolvimento em sistemas de desmama precoce, deveriam receber maior quantidade de proteína em relação à gordura durante a fase de aleitamento.

Nesse cenário, quando as bezerras ingerem quantidades elevadas de leite ao dia (> 5 litros), essa “falta” de proteína em relação à gordura no leite pode gerar desordens digestivas, e também levar a um acúmulo de gordura corporal acima do ideal, além de também prejudicar a ingestão de ração inicial, fator primordial para um programa de aleitamento e desmama precoce bem-sucedidos.

Para que a bezerra consiga ter bom desenvolvimento muscular e apresente maior crescimento (estatura), o ideal seria que o leite oferecesse mais proteína em relação à gordura. Além disso, também de acordo com o que mostra o NRC (2001), para maximizar o desenvolvimento das bezerras em sistemas de criação intensiva e desmama precoce, idealmente o leite deveria fornecer maior quantidade de microminerais e vitaminas.

Após a desmama o objetivo é atingir o peso adequado para a primeira cobertura por volta dos 13 a 15 meses de idade. A meta é ter pelo menos 75% das novilhas do rebanho prenhes aos 15 meses de idade, e que atinjam no mínimo 55% do PV adulto quando tiverem a prenhez confirmada. Considerando os 600 kg citados anteriormente, as novilhas prenhes deverão apresentar pelo menos 330 kg, o que significa ter um ganho médio diário (GMD) em torno de 700-800 g, da desmama até a cobertura. É totalmente possível, mas ainda é um desafio.

Um dos grandes entraves é justamente o desenvolvimento corporal da bezerra durante a fase de aleitamento. O peso à desmama é, sem dúvida, um parâmetro fundamental a ser monitorado nas fazendas, mas além disso é preciso acompanhar o crescimento (desenvolvimento estrutural) dos animais.

Além de apresentarem bom peso à desmama, é muito importante que a bezerra apresente desenvolvimento muscular adequado. Só assim ela vai poder chegar ao peso adequado para a primeira cobertura, no prazo desejado. Para isso é muito importante que a dieta das bezerras tenha maior aporte de proteína, e a qualidade do leite oferecido a elas pode ser um limitante.

Nesse caso, o que fazer para compensar essa limitação da qualidade do leite? Muitas fazendas fazem a correção do teor de sólidos, adicionando produtos específicos para “adensar” o leite, ou mesmo sucedâneos lácteos, buscando atingir um determinado teor de sólidos constante ao longo dos dias. Só se consegue fazer isso da forma correta analisando a qualidade do leite diariamente, com o uso do refratômetro de Brix.

Essa prática de fato melhora a qualidade do leite, e tem como principal benefício oferecer às bezerras leite com teor de sólidos constante, evitando a flutuação normal que se observa nas fazendas, e que prejudica o ótimo desenvolvimento. Se além de fazer isso, for possível aportar maior quantidade de proteína de alta qualidade na dieta, certamente o desenvolvimento das bezerras que são aleitadas com leite não comercializado será muito melhor e mais eficiente.

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