Desde que a arroba do boi entrou numa escalada de valorização sem precedentes no País, iniciada em meados de setembro de 2019, o terminador não teve jeito: saiu comprando tudo o que achava pela frente.
“De fato, houve uma grande corrida para qualquer tipo de animal jovem. Mas, por outro lado, vai vir uma leva de animais de qualidade, porque o produtor está investindo mais”, afirma o economista agroindustrial Thiago Bernardino de Carvalho, pesquisador do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), de Piracicaba (SP).
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Por trás da afirmação de Carvalho há um forte fundamento: a gradual evolução de vendas de sêmen de corte, desde 2018. Naquele ano, a Associação Brasileira de Inseminação Artificial (Asbia) registrou a venda de 9,6 milhões de doses de sêmen de raças de corte, 19,2% a mais em comparação com 2017. De lá para cá, as vendas só registraram recordes seguidos. Em 2020, por exemplo, foi o ano que mais se vendeu doses de sêmen de corte no País: 16,3 milhões, o que representou uma alta de 38,3%.
“A taxa de vacas inseminadas também foi recorde e atingiu 20% das fêmeas no ano passado. Pode até aparecer compras de gado mestiço e leiteiro para terminação, mas este ano a qualidade do gado magro vai melhorar, sim”, diz Carvalho.
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Mesmo com uma reposição que deve caminhar a passos largos também para a valorização, Carvalho atesta: é possível ainda que os produtores com foco na engorda lucrem. No entanto, o segmento da recria é uma das apostas do pesquisador para a lucratividade no próximo período.
Segundo dados da Scot Consultoria, em 7/3/2019, o boi magro (360 quilos, 12 @) estava cotado por R$ 2.050 no Estado do São Paulo. Um ano depois, em 12/03/2020, o mesmo animal era vendido a R$ 3.000, o que representou uma valorização de 46,3%. Já neste ano, o salto é 45% de valorização. Na sexta-feira (4/3), a consultoria estimou um preço médio, em praças paulistas, de R$ 4.350. Na conta geral, significa que de 2019 até agora a alta está de 112,2% para o boi magro.
“O produtor que estiver na atividade de recria vai ganhar dinheiro, pois ele a faz num espaço muito curto de tempo e ganhará com a valorização desse tipo de animal para um confinador. O ano de 2021 é muito interessante para essa atividade”, diz.
Maior volume em 2023
No entanto, se o que se busca são animais em grande quantidade e qualidade, então o pecuarista de engorda vai ter de esperar mais um pouco, segundo o economista Aedson Pereira, analista de mercado sênior da IHS Markit no Brasil.
“Vamos começar a sentir a recomposição dos bovinos de reposição no final de 2022 e início de 2023”, diz Pereira.
Para o analista, essa recomposição tem a ver com o maior ganho de produtividade das fazendas, pois muitos pecuaristas tiveram de abandonar a atividade de cria, pela crise que ela vinha registrando, com preço baixo dos animais de reposição e influenciada pela arroba estagnada entre os anos de 2015 e agosto de 2019.
“Na região de Paragominas e Redenção, no Estado do Pará, tínhamos a informação de 15 a 20 pecuaristas dedicados à cria. Hoje, dá para contar esses produtores com os dedos de uma mão: são cerca de 4 ainda na atividade nessa região”, diz.
A defasagem da cria se contrasta com o melhor momento para a atividade. A consultoria, no entanto, não prevê a volta desse pecuarista criador que deixou a atividade.