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Quando a Pecuária seletiva desafia a Agricultura

Na borda do Pantanal, Fazenda Onça Pintada sustenta plantel PO de mil cabeças em 375 hectares.

Na Fazenda Onça Pintada, município de Poconé, Mato Grosso, a seca chega uns dois meses mais tarde que nas propriedades de regiões vizinhas e vai embora cerca de um mês antes do normal – basta uma boa garoa para o pasto voltar com força. O capim pode até permanecer verde por todo o período seco, que costuma durar seis meses, se houver alguma precipitação mais forte fora de época, entre julho e setembro.


Com 375 hectares, dos quais 200 ha de terras altas e o restante de baixadas típicas do Pantanal, a fazenda mantém um rebanho de 1.100 cabeças – 560 fêmeas adultas e mais touros, garrotes, novilhas, bezerros. Detalhe: tudo gado PO, com as vacas pesando mais de 500 kg. Uma lotação média de 4 UAs por hectare, descontando-se as áreas da sede, currais e corredores; nas terras altas, chega a 7.4 UAs por ha isso numa região em que a média não passa de 1 UA por hectare.

Sem nenhuma modéstia, com seu modelo de intensificação e o valor agregado dos animais registrados que produz, a fazendinha pantaneira desafia a grande agricultura do cerrado, apresentando rentabilidade média nos últimos anos de R$ 2.300 por hectare, o equivalente a 37 sacas de soja pelo preço de meados de abril em Mato Grosso, quando se sabe que a margem de uma lavoura de soja é de aproximadamente 15 sacas por hectare. “E sem os riscos da agricultura”, ressalta o proprietário Breno Molina, 42 anos, formado em Administração pela Universidade Cândido Mendes, do Rio de Janeiro.

Desde que resolveu se dedicar à atividade rural, em 2007, Breno decidiu ir além da pecuária tradicional iniciada por seu avô na Fazenda Santa Rita, de 3.588 hectares, da qual posteriormente se separou a Onça Pintada. Com a morte do avô, seu pai, Ely Molina, e tios continuaram com a produção extensiva de bezerros, uma “vocação” do Pantanal.

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Breno inicialmente arrendou um naco da Santa Rita de um dos tios e resolveu pôr em prática o que acreditava ser um novo modelo de gestão. Começou por adquirir doadoras de qualidade em leilões e formou um rebanho de receptoras para trabalhar com FIV – fecundação in vitro.

Na época, animais de pista eram a expressão máxima de pecuária de excelência e Breno resolveu surfar aquela onda. Com o passar do tempo, foi formando seu plantel de fêmeas PO com animais oriundos dos criatórios do Grupo Camargo, J. Galera, Sabiá, e se desfazendo das receptoras. Nos pastos, começou a fazer análise anual do solo e correção com calcário. Naquelas áreas mais degradadas entrou com a integração agricultura-pecuária, plantando milho para silagem para tratar os animais na seca enquanto o solo era recuperado pela adubação agrícola. Também começou a subdividir os pastos, pouco a pouco, e a fazer corredores interligando todos os pastos à área dos currais. “Pasto pra mim é agricultura”, resume Breno, frisando que há vários anos não planta mais lavoura para alimentar os animais, só cuida dos pastos.

A grande virada 

Com o gradual desaquecimento do mercado de leilões de gado de elite, em 2016 Breno Molina decidiu mudar a estratégia da fazenda. Num grande leilão, que arrecadou R$ 1,85 milhão, liquidou o time de pista, a maior parte das doadoras e mais um lote de animais e decidiu focar no sistema de produção de fêmeas e touros PO para atender produtores de rebanhos comerciais interessados em elevar o padrão genético de suas criações. 

A esta altura, Breno já havia adquirido os 375 hectares, que batizou de Fazenda Onça Pintada, e contava com um time de técnicos para auxiliá-lo na condução genética do rebanho, na questão nutricional e no manejo das pastagens. Em relação aos pastos, começou por piquetear os 200 ha das terras altas, com divisões em formato de pizza e praças de alimentação ao centro, cada uma com bebedouro australiano abastecido por gravidade por uma das seis caixas d`água de 10 mil litros cada, suspensas sobre três poços artesianos espalhados pela propriedade. Ao lado de cada bebedouro, um cocho para sal mineral e creep-feeding cobertos, além de cochos de cimento a céu aberto para variados tipos de trato, dependendo da categoria animal, ou para terminação de animais de descarte.

O consultor Lorenzo Pacheco faz uma síntese do programa nutricional aplicado.

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Cada “pizza” contém cerca de oito piquetes de 3,8 hectares subdivididos em três de 1,26 ha, onde os animais permanecem de 2 a 4 dias. A entrada do gado em um piquete se dá de acordo com o princípio da interceptação luminosa, ou seja, quando ela atinge 95% (maior grau de fotossíntese), está dada a condição ideal para o pastejo.

Não há tempo fixo para permanência dos animais em cada piquete: a entrada e saída são determinadas pela altura do capim, de acordo com a sua capacidade máxima de nutrição e de recuperação. No caso do mombaça, a entrada acontece quando o capim está com 70 centímetros e a saída com 35 cm.

Quarenta por cento dos piquetes estão formados com mombaça, outros 40% com braquiarão e os 20% restantes com MG-5. Embora credite ao mombaça a melhor performance, Breno orgulha-se de manter vigoroso o braquiarão de 39 anos herdado do tio. É possível colocar 23 novilhas rodando em um piquete de 3,8 hectares.

Além da fartura de pasto no rotacionado, Breno também oferece suplementação de acordo com a categoria animal.

Para isso, contribui o trabalho do engenheiro agrônomo Ademir Alves da Costa Junior, responsável pelo acompanhamento do pasto, que inclui análise anual do solo, calagem, adubação e subsolagem para descompactação do solo argiloso. “O solo tinha 3 ppm de fósforo quando iniciamos o trabalho, hoje está com 7 ppm, com alguns piquetes já atingindo 20 ppm. O ideal é que todos estejam acima de 18 ppm. A saturação de base média saiu de 45% e está em torno de 57%”, explica Ademir. “A cada ano o solo exige menos, a gente gasta menos com calcário, com combate de invasoras e até com adubação”, diz Breno. “É um trabalho a ser construído ao longo dos anos”. 

O agrônomo Ademir dá uma mostra da exuberância da pastagem.

[videopress ioJ3bk6q]

É esse trabalho que hoje faz com que a fazenda sofra bem menos os rigores da seca que as de seus vizinhos – inclusive a Santa Rita, tocada pela família. “Eu tenho pasto por bem mais tempo por conta da adubação”, diz Breno. “As raízes são bem mais profundas e conseguem acessar água por mais tempo. Ele fica verde por mais tempo e retorna mais rápido”. Nas baixadas, que correspondem a quase metade da propriedade, Breno semeou braquiária humidícola, que sustenta o rebanho no período mais crítico da seca, auxiliada por um incremento nutricional no cocho. 

Para o acompanhamento genético do rebanho, conta com José Ferreira Pankowiski, zootecnista, técnico e jurado da ABCZ, que já em 2014 implantou o PMGZ – Programa de Melhoramento Genético de Zebuínos, desenvolvido pela ABCZ – na propriedade. 

Quase a metade da fazenda fica em área alagável do Pantanal de Poconé.
Lote de touros da seleção Nelore Moinho.
Lote de fêmeas da seleção Nelore Moinho.
Da esquerda para a direita, Bruno Silva e Lorenzo Pacheco, da LP Consultoria, Ademir Junior, agrônomo, Breno Molina e José Pankowski, da ABCZ

Boa genética e gestão afinada 

Os acasalamentos são direcionados com o uso de touros com DEPs positivas para fertilidade, habilidade materna e velocidade de crescimento, além de observação do fenótipo dos animais. “O programa dá um norte, e a nutrição adequada e calibrada lote por lote facilita muito o nosso trabalho. Estamos conseguindo baixar a idade da primeira prenhez para 18 meses em novilhas de 320 kg e com bom escore corporal, pois trata-se de um rebanho PO de produção a pasto visando a formação de matrizes e reprodutores”.

“Realizamos visitas técnicas em muitas fazendas, mas com este manejo de pastagem é difícil de encontrar”, observa Pankowski. “São vários processos cujo resultado nos dá o melhor do rebanho. É um trabalho em conjunto, uma gestão integrada das melhores tecnologias disponíveis”, completa Lorenzo Pacheco, da LP Consultoria & Reprodução, responsável pelo programa nutricional das diversas categorias animais e a gestão dos dados econômicos e zootécnicos da propriedade. 

Quando perguntado sobre o que pensam seus colegas pecuaristas sobre o processo de intensificação da fazenda, Breno Molina, que assumiu em dezembro a presidência da Associação Mato-grossense dos Criadores de Nelore, dá risada: “Quando a gente comenta que tem esse projeto de intensificação, com adubação, pastejo rotacionado, aqui no Pantanal, reconhecido como uma região de terra ruim, muita gente não acredita. Uns acham que é mentira, que é exagero ou é loucura, e tem gente que acha que é tudo isso junto. Só realmente quem vem aqui na fazenda e conhece o trabalho pode verificar que é um trabalho sério e que dá excelentes resultados”.

Em síntese, como destaca Breno, um trabalho que pode ser replicado em outras propriedades

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Leilão Nelore Moinho da Fazenda Onça Pintada

Oferta a 4 de agosto deverá somar 300 fêmeas e 50 touros

Depois de realizar a grande liquidação do time de pista e doadoras em 2016, quando faturou R$ 1,85 milhão, Breno Molina passou a fazer pecuária de produção de ciclo completo. Só vende animais – touros e matrizes – prontos para reprodução. Os touros são comercializados através de vendas diretas na fazenda ou em um leilão anual presencial em Poconé. São animais na faixa de 30 a 36 meses e com exames andrológicos. A cada dois anos realiza um leilão de fêmeas, também em Poconé. Nascem em torno de 480 animais por ano na fazenda Onça Pintada, e aqueles que por algum motivo não conseguem registro como PO são descartados e comercializados como bezerros e bezerras comuns. O objetivo da fazenda é produzir animais PO de produção: touros e vacas. As fêmeas são recriadas para reposição ou comercialização. Na Fazenda, vão substituir as vacas mais velhas, as que não emprenharem depois de três inseminações ou as vacas que parirem bezerros inferiores, que são descartadas. Para o leilão virtual Nelore Moinho da Fazenda Onça Pintada deste ano, Breno trabalha com muito boa expectativa e faz o convite:

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