Como a DBO adiantou nesta quinta-feira (8/10), o governo brasileiro prepara uma semana de encontros e reuniões em Portugal, na semana que vem, para acertar arestas que estão emperrando o andamento do acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia. Na comitiva estão a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, e o deputado federal (MDB-RS) Alceu Moreira, presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA). O anúncio oficial da viagem foi feito no início da manhã de hoje (9/10).
O tratado de livre comércio entre Mercosul e União Europeia foi assinado em 28 de junho de 2019 e dependente, agora, do processo de ratificação. Mas a Europa começa a colocar empecilhos a esse processo.
Os impactos que esse importante acordo terá para o agro brasileiro e como deverá ser o jogo de cintura diplomático para pôr de volta aos trilhos uma negociação iniciada em 1999 e “fechada” no ano passado está novamente na ordem do dia. Esse embate promete ser acirrado, como ilustra Moreira:
“Quando chegar carne bovina brasileira na Irlanda, no dia seguinte os produtores de lá quebram. O custo de produção da carne por lá é 4 vezes maior que o nosso”, diz o presidente da FPA.
Exemplos como esse são os que se mais espalham por toda a Europa, em um movimento de protecionismo que não é novo. Por isso, acredita Moreira, mesmo com o todo o suporte diplomático brasileiro, o acordo não deve ser resolvido ainda este ano. “Eles vão entrar em período eleitoral e imaginar que vão votar para a abertura comercial agora só iria provocar a ira dos produtores europeus.”
Segundo o parlamentar, não será uma tarefa fácil as conversas programadas para a viagem da próxima semana. No entanto, o Brasil tem de utilizar de toda sua inteligência estratégica para ganhar esse jogo. Moreira lembra que é a própria Europa está no lado mais frágil.
“Não adianta os europeus continuarem nessa linha de hostilizar o Brasil, porque a segurança alimentar fará parte das negociações futuras e eles vão precisar muito mais disso do que nós”, afirma Moreira.
Impactos do tratado
Não há números precisos especificamente para o agro, mas o acordo entre o Mercosul e a União Europeia deve adicionar US$ 87,5 bilhões a US$ 125 bilhões ao PIB brasileiro em 15 anos, segundo estimativas do Ministério da Economia.
O agro é, sem dúvida, o setor que mais se beneficiará com o acordo. O principal efeito disso é o fim de toda a taxação existente sobre o comércio de café solúvel e torrado, fumo, frutas (abacate, limão, melão, melancia, uva e maçã), peixes, crustáceos e óleos vegetais.
Além disso, também haverá ampliação de comércio para dez produtos agrícolas: carnes bovina, de aves e suína, açúcar, etanol, arroz, mel, milho, suco de laranja e cachaça. Pelo acordo, a cota de carne bovina será de 99 mil toneladas.
Brasil x Reino Unido
No ano passado, pelo relatório de comércio exterior da União Europeia, o bloco importou 439,4 mil toneladas de carne bovina. Nas contas do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), as vendas para o bloco foram de 105,5 mil toneladas.
O Brasil é o segundo maior fornecedor de carne para a região. O primeiro vendedor de carne para o bloco é o Reino Unido, que negociou entre seus pares 160,1 mil toneladas em 2019. Uma abertura maior e em melhores condições de tarifas para o bloco do Mercosul certamente se torna uma ameaça liderada pela capacidade de competição da carne brasileira.
“Quando os europeus falam em problemas com o Mercosul, de fato, não é com o Paraguai, o Uruguai ou muito menos com a Argentina. O problema é com o Brasil. É com o volume produtivo de nossas safras. É isso que mais incomoda os europeus”, diz Moreira.
Até o final do desta sexta-feira, o Ministério da Agricultura não havia divulgado oficialmente a viagem da ministra Tereza Cristina.