Quando o bezerro é de ouro, garimpo é palavra de ordem!

É preciso se nortear menos pelo preço e mais pelo percentual de vacas no rebanho e a produção de crias/ha, diz Moacyr Corsi

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*Artigo de Moacyr Corsi, professor da Esalq/Usp, publicado na edição de março da Revista DBO. Colaboradores: Laís Arruda e João Pedro De Cesare Thieme, agrônomos  formados pela Esalq/USP.


Os criadores estão perdendo uma oportunidade de ouro. Enquanto batem suas bateias [utensílio para garimpar] quase vazias, do outro lado do rio o restante da cadeia produtiva necessita de mais produtos para seguir viagem. Em outras palavras, há pouca oferta de bezerros, mas a demanda cresce rapidamente, devido à maior eficiência nos segmentos de recria/engorda. Esse fenômeno é confirmado pela diminuição na idade de abate dos animais, que passou rapidamente de 36 para 30 meses como mostra o gráfico abaixo, gerando uma procura cada vez mais rápida por bezerros. Para os criadores, esse fato é positivo, devido à possibilidade de aumento na receita por produto, mas os recriadores/terminadores têm de lidar com ágios cada vez maiores no mercado de reposição e isso acaba travando sua atividade, que, apesar de ser mais eficiente, depende da relação bezerro/boi gordo.

A expectativa de maiores preços, contudo, não deveria nortear sozinha as decisões dos criadores. Para entender melhor essa afirmação, é preciso analisar a produtividade do sistema de cria, que não tem conseguido garimpar bem seu ouro (bezerros). Os índices zootécnicos comumente encontrados nas propriedades brasileiras são: 75% de prenhez, 15% de mortalidade de bezerros (do diagnóstico de gestação até a desmama), intervalo entre partos de 16 meses e lotação média de 1 UA/ha. Em relação a este último índice, quando analisamos a composição do rebanho e a participação de cada categoria na lotação, constatamos que a quantidade de animais que geram produtos (matrizes) é inferior a 1 cabeça/ha. Ou seja, fazendas com lotação de 1 UA possuem menos de 1 vaca/ha, pois além delas estão presentes na área outras categorias como bezerros mamando, garrotes, novilhas (que, em sistemas tradicionais, iniciam vida reprodutiva aos 36 meses) e touros.

Neste cenário – fazendas de cria com lotação de 1 UA/ha –, as matrizes representam cerca de 46% do rebanho e a produtividade é de 0,22 bezerro nascido/ha, com base na equação: 1 UA/ha x 46% de vacas no rebanho x 75% de prenhez x 85% de sobrevivência x 0,75 (16/12 meses de intervalo entre partos) = 0,22 bezerros/ha. Esse baixo patamar de produtividade se reflete nos resultados econômicos da cria. Com o bezerro a R$ 1.200, a produção de 0,22 bezerro/ano gera receita de apenas R$ 264/ha.

Quando se desconta o custo de produção, pouco sobra para o criador. Se o preço do produto chegasse a R$ 2.000/cab e o criador continuasse vendendo 0,22 cab/ha, sua renda subiria para R$ 440/ha, mas esse valor, depois de deduzidos os custos de produção, continuaria sendo menos interessante do que outras alternativas de uso do solo e tiraria o produtor de sua atividade, obrigando-o a buscar alternativas para aumentar sua produção. Os esforços mais frequentes e bem sucedidos para melhorar a produtividade na cria têm sido nas áreas reprodutiva e sanitária. Quando elevamos a taxa de prenhez de 75% para 90% e a de sobrevivência de 85% para 95%, nossa produtividade aumenta 30%, passando de 0,22 para 0,29 bezerro/ha. É possível, contudo, obter esse mesmo nível de incremento nos índices alterando-se a participação de vacas no rebanho de 46% para 60% ou aumentando a taxa de lotação de 1 para 1,3 UA/ha, mas isso exige mudanças conceituais. Mesmo sem adubação, apenas ajustando o manejo das pastagens, o criador pode alojar 1,3 UA/ha nas águas, desde que faça planejamento alimentar na seca (diferimento de pastos, conservação de forragens, suplementação com proteinado, ração etc).

Desatenções em relação à nutrição na cria podem prejudicar o desempenho de animais geneticamente superiores. Evidências disso estão nas conversas dos próprios pecuaristas. É comum ouvir eles dizerem: “o animal era bom de genética, mas virou tucura na recria”; “meus bezerros não ficaram melhores com o touro que comprei no leilão”. Além da nutrição, pouca atenção se dá também à precocidade genética das fêmeas, de forma a encurtar sua recria e agilizar sua introdução no grupo de matrizes, o que mais uma vez exige bom manejo de pastagens.

Concluindo: o criador deve prestar mais atenção na quantidade de vacas/ha do que na taxa de lotação geral. Para ter mais vacas, precisa “garimpar” tecnologias que integrem genética, sanidade, nutrição e gestão, de forma a melhorar a rentabilidade da cria a pasto.

 

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