Gado pastejando capins cespitosos, ambiente poeirento e muita exposição aos raios solares ultravioleta, que danificam a córnea e a conjuntiva, estão entre as causas
Por Enrico Ortolani – Professor titular de Clínica de Ruminantes da FMVZ-USP (ortolani@usp.br)
Os diretores de filmes de terror exibem com destaque os olhos de seus vilões, que geralmente são avermelhados ou embaçados, para gerar pavor, medo ou asco. Tais olhos tenebrosos, na maioria das vezes, podem ser encontrados em pessoas pacíficas, e em animais por vezes inofensivos. Nem sempre a primeira impressão revela a verdade dos fatos, levando-nos a cometer injustiças ou preconceitos precipitados, mas, como os olhos translúcidos e brilhantes podem chegar a tal estado deplorável em bovinos?
Vamos, primeiro, entender a anatomia do olho. A face interna da pele, que circunda o globo ocular, é constituída por uma membrana denominada conjuntiva, por meio da qual verificamos se um animal está anêmico. A conjuntiva forma um tipo de saco que sai da ponta das pálpebras e se liga à esclerótica, sobre o qual falaremos já, já. A conjuntiva é lubrificada pelas lágrimas, óleos e muco, para prevenir a secura e proteger os olhos de substâncias irritantes, por exemplo, a poeira. Denomina-se conjuntivite a inflamação dessa membrana.
O globo ocular é formado por camadas (veja figura). A parte branca do olho é a esclerótica, uma capa grossa que envolve o globo ocular e contém pequenos vasos sanguíneos. No centro do olho, está uma membrana completamente transparente (córnea), recobrindo a íris e a pupila, que protege as partes internas e ajudando a focar a imagem na retina.
A córnea é bastante inervada, indicando que, se machucada, o animal sentirá muita dor, mas quase não tem vasos sanguíneos, para não dificultar a passagem da luz para dentro do olho. A falta de vasos sanguíneos faz com que a defesa contra agentes infecciosos no local seja pequena, além de complicar o meio de campo na hora da cicatrização, em caso de feridas em sua película.
O que é o “olho rosa”?
No “olho-rosa” temos uma infecção ao mesmo tempo da córnea e da conjuntiva, que constitui o que chamamos de ceratoconjuntivite. A ceratoconjuntivite é provocada por traumas ou por agentes infecciosos, que ocorrem isoladamente ou em surtos (mais de 5% do rebanho).