Em artigo, o professor titular da FMVZ-USP Enrico Ortolani fala sobre esse parasita que afeta principalmente os bovinos jovens, com destaque para a bezerrada desmamada
Por Enrico Ortolani – Professor titular de Clínica de Ruminantes da FMVZ-USP (ortolani@usp.br)
Muitas vezes, nos assustamos quando somos apresentados a um assunto, um conceito e/ou uma tecnologia completamente novos. Sempre digo a meus alunos que um profissional diferenciado, ou seja, que busca estar um passo à frente dos demais, não deve ter medo de enfrentar desafios como desvendar e compreender novidades. Vamos ver um exemplo. Durante meu curso de veterinária e doutorado em parasitologia, pouquíssimas vezes ouvi falar de um parasita de ruminantes chamado Paramphistomum, mas ele merece atenção.
Comecemos por seu nome, oriundo do grego: para = semelhante; amphi = de ambos os lados; stomum = boca. Como mostra a foto (1) abaixo, o indivíduo adulto tem forma de pera e apresenta dois orifícios: o de cima, correspondente à boca, e o de baixo, ao ânus. Este último, na verdade, é uma ventosa que o ajuda a se “grudar” na parede do rúmen (pança). Inicialmente, o parasita tinha o nome de Amphistomum, mas, por ser semelhante a outro que já levava este nome, um taxonomista, cheio de detalhismo, decidiu denominá-lo de Paramphistomum. Coisas de Glorinha!
Esse parasita é considerado um platelminto (Plathys = achatado; helminto = verme) parecido com a Fasciola hepatica (baratinha-do-fígado), que parasita muitas boiadas da região Sul, além de algumas áreas encharcadas do Sudeste, Nordeste, Centro-Oeste e Norte. O Paramphistomum tem duas fases de vida: uma dentro do organismo do boi, dos búfalos e pequenos ruminantes e outra no meio ambiente, onde depende de certos caramujos para sobreviver e evoluir, tal qual a baratinha-do-fígado. No Rio Grande do Sul, verificou-se, no gado abatido, que muitas vezes a baratinha aparecia em conjunto com o Paramphistomum adulto.