Pesquisa mostra que picos da doença pertencente ao complexo da tristeza parasitária bovina coincide com época de vacinação
Por Larissa Vieira
Com dados subestimados no Brasil, a tristeza parasitária bovina – complexo de doenças causado pela bactéria Anaplasma marginale e os protozoários Babesia bovis e Babesia bigemina – traz inúmeros prejuízos à pecuária nacional por provocar abortos, queda no ganho de peso, nascimento de bezerros fracos e mortes. Estima-se que a perdas cheguem a 100.000 cabeças/ano somente no Rio Grande do Sul.
Muita gente pensa que a tristeza é causada apenas pelo carrapato. Isso é correto no caso da Babesia, cuja transmissão é biológica (parte do ciclo de desenvolvimento desses protozoários ocorre dentro do aracnídeo), mas, no caso da bactéria Anaplasma marginale, a transmissão é mecânica. O carrapato pode ingerir a bactéria e transmiti-la, da mesma forma que moscas hematófagas, mas isso também ocorre por meio de seringas, um risco que o produtor muitas vezes desconhece.
Por não ser uma doença de notificação obrigatória, não se sabe quantos dos casos de tristeza são decorrentes de Anaplasma, mas um levantamento de 10 anos, realizado pelo Instituto de Pesquisas Veterinárias Desidério Finamor (IPVDF), ligado à Secretaria de Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural do RS, mostrou que os maiores picos da doença, até 2020, quando o Estado suspendeu a vacinação contra a febre aftosa, ocorriam no final do outono e da primavera, época das campanhas de imunização.
“Acreditamos que os picos estavam muito ligados à Anaplasma, transmitida por meio das seringas usadas na vacinação”, explica Rovaina Laureano Doyle, pesquisadora do IPVDF.
Questionários respondidos por produtores da fronteira oeste do Rio Grande do Sul mostraram que grande parte deles usa a mesma seringa para imunizar todos os animais que estão no corredor de vacinação. Essa prática (comum também em outras partes do Brasil) aumenta o risco de infecção em bovinos por vários agentes.