Modelo animal que levou ao declínio das pistas de julgamento na década passada reaparece, desta vez associado à cabeceira do sumário de touros.
Por Carolina Rodrigues
“Os líderes de sumário estão crescendo demais. Se não corrigirmos isso, podemos acabar trilhando o mesmo caminho das exposições agropecuárias na década passada, que deixaram de aceitar animais com deposição de gordura subcutânea e passaram a correr na contramão do ciclo curto”.
A declaração de Osman Loureiro, titular da Nelore Floc, de Maceió (AL), foi feita durante um debate sobre o porte do Nelore, realizado informalmente por selecionadores e a diretoria técnicos da ANCP (Associação Nacional de Criadores e Pesquisadores), em grupo de Whatsapp, no mês passado. Durante a conversa, extremamente produtiva, os neloristas demonstraram nítida preocupação com o problema, que já “assombrou” a raça anos atrás, levando, inclusive, muitos criatórios a migrar das pistas para as avaliações genéticas.
“Selecionar animais com características que induzam ao frame mais alto pode ser perigoso”, alertou Tiago Serra David, titular da Agropecuária Confiança, de Goiás, durante o debate. Segundo ele, um levantamento feito com touros TOP 0,1% de MGTe (Índice global do programa da ANCP) mostrou que 80% apresentavam frame acima de 50%. “Sabemos que altura tem forte correlação com peso. O problema é que, nos últimos anos, temos selecionado animais pesados, mas com pouco acabamento, o que pode trazer impactos negativos sobre o desempenho reprodutivo do rebanho”, observou o criador.
Matheus Villela, terceira geração à frente da Agropecuária Camparino, com sede em Cáceres (MT), também se posicionou sobre o tema. “Existem duas maneiras de se colocar peso no gado: por meio da altura ou da grossura (biotipo mediano). A gente quer gado pesado, mas grosso, com rendimento e gordura na carcaça. Temos trauma de boi grande e seco”, disse.
Atento ao debate, Fernando Baldi, diretor de inovações, respondeu prontamente. Admitiu que animais pesados naturalmente têm frames maiores, mas revelou que a ANCP tem feito estudos de caso para acompanhar o peso adulto das vacas (bom indicador do tamanho final dos animais), não se observando aumento. A explicação para isso está na variabilidade da composição da carcaça, segundo ele.
“Nem sempre um animal de frame mais alto será tardio ou terá a progênie negativa para acabamento. Quando olhamos situações particulares, encontramos animais de alto frame que entregam precocidade de acabamento e também o contrário”, disse.